Surpresa

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- Foi bom, dona Zélia tentou me ensinar o tricô, mas acho que não sou muito boa.

- Que nada! Com alguns dias de treino você fará um belo cachecol.
Disse dona Zélia, com um sorriso travesso.

- Esse molho de salada está divino Nora! Elogiei depois de provar um pouco da salada.

- Também sou viciado nesse molho, Nora não ensina a receita pra ninguém. Só minha mãe sabia fazer um molho assim. Nora aprendeu com ela.

- Você e seu irmão, adorava ajudar sua mãe na cozinha. Você se lembra?

- Muito pouco, infelizmente.

- A Priscila não veio com você, ela quase sempre vem para jantar. Vocês brigaram?

- Não vó, ela tinha outro compromisso.
Há! Eu conseguir encontrar uma enfermeira, mas ela só pode começar na segunda-feira.

- Tudo bem, não estou com pressa, posso ficar sozinha. Não sei porque se preocupa tanto comigo. A presença da Helena me deu ânimo, não me sinto tão bem há anos.

- Vó a Helena precisa trabalhar.

- Sim. Mas ela pode vir depois do trabalho, se não for incômodo. Pelo menos até a enfermeira começar. Você poderia vir Helena?

- Sim, claro. Mas não vejo necessidade, se o Felipe vai estar aqui.

- Eu insisto, pelo menos jantar conosco, não gostaria de que se afastasse de nós agora, já que nos deu tanta alegria.

- Vó não precisa incomodar a Helena.

- Eu posso vir, se faz tanta questão.

- Então estamos resolvidos. Helena virá para jantar.
E o Josh, falou com ele?

- Sim, ele volta na segunda-feira também. Está tudo bem com ele.

- E o seu pai?

- O que tem o meu pai?

- Você tem notícias?

- Sim. Ele está bem. Mas não quero falar sobre ele.

- Tudo bem.
A Helena tem irmãos gêmeos sabia?

Nossa! O povo muda de assunto com facilidade aqui, mas agora me ferrei.

- Não, eu não sabia. E onde moram seus irmãos?

- Eles moram há alguns quilômetros daqui, estão terminando o colegial.

- Seus pais estão bem?

- Sim. Eles estão bem. Esse filet está divino também. Nora é uma cozinheira maravilhosa! Também mudei de assunto.

- Não pode deixar de provar a sobremesa! Nora disse pegando as taças de sobremesa.

- Se continuar a comer assim, vou ter que começar uma dieta!

- Eu acho que não Helena, você está linda. Não está Felipe?
Dona Zélia na armação...

- Oi?

- Não acha Helena bonita?

Sim, claro.
Disse sem olhar pra mim, tentando disfarçar bebendo um pouco do vinho. Ele deve conhecer bem sua vó.

Terminamos o jantar com as histórias da juventude de dona Zélia. Depois fomos assistir o vídeo de família que dona Zélia insistiu.
Felipe tentou faze-la desistir, mas não conseguiu.
Quando vi dona Violet no vídeo, sentir que conhecia aquela mulher. Mas não me lembrava de onde. Talvez tenha seja uma coincidência, mas eu sentia que a conhecia.
O filme foi do casamento dos pais do Felipe. Eles pareciam se amar muito. Não entendo a história dessa família. O abandono do pai, não coincide com o amor que eu via no filme.
Olhei para o Felipe que estava triste, abraçado a sua vó que adormeceu em seus braços.
O filme terminou, ele se levantou desligou a TV e pegou avó no colo, carregando para o quarto. Eu ajudei, abrindo a porta, tirando os  sapatos dela, enquanto ele fechava as cortinas. Depois de cobri-la, saímos do quarto.

- Você gostaria de me acompanhar num aperitivo?

- Sim, claro! Aceitei por estar sem sono.

Sentamos numa varanda, ele serviu um licor.

- Eu pedir a Nora um chá se preferir.

- Obrigada. Agradeci, servindo o chá.

Sentamos numa varanda no andar de cima. A noite estava razoavelmente fria, mas nas cadeiras tinham cobertores.
Ficamos calados olhando o céu estrelado, até ele dizer.

- Estou cansado de ser responsável por tudo. Gostaria que a minha família fosse mais unida. Minha mãe era a única que conseguia fazer isso. Meu irmão é irresponsável e egoísta. Meu pai preferiu fugir. Eu fiquei sozinho para cuidar de tudo. Tem horas que a carga fica pesada.
Desculpa o desabafo, é que depois de assistir aquele vídeo, sentir como tudo desmorou. Estou falhando, acho que não consigo suportar tantos problemas.

Entendo você, porque vivi isso também, me sentindo responsável pela minha família, acabei fazendo como seu pai. Fugir de tudo para tentar esquecer.

- Deu certo?

- O trabalho me ajuda. Mas as preocupações ficam. Acaba se resumindo em uma prorrogação, uma hora temos que enfrentar.
Vejo que você é forte, e o único capaz de suportar, e fazer com que dê certo.

Ele bebeu seu licor. E o telefone tocou. Se desculpou e saiu da varanda.
Eu fiquei mais um pouco, até sentir sono, e antes de me deitar liguei pra Selena. Ela contou sobre o trabalho, mas estava cansada também, nos despedimos.

Adormeci pensando na minha família. E um pesadelo que há tempos não tinha reapareceu. Acordei com o Felipe me chamando.
Preocupado, perguntando se eu estava bem.
"Mais uma louca na sua vida"(pensei)

- Você estava gritando e chorando ao mesmo tempo. Está tudo bem?

- Está sim, foi só um pesadelo!

Ele se afastou, e me olhou estranho. Só então eu percebi, que estava apenas de calcinha e uma blusa.
Baixei a blusa discretamente. Reparando que ele estava sem camisa. Ele colocou a mão na cintura, olhando para o chão suspirou pesado.

- Me desculpe entrar assim no seu quarto, é que me preocupei.

- Tudo bem... eu entendo.

Ele levantou os olhos encando os meus, aquele olhar mechia muito comigo. Mas esse fez todo meu corpo tremer, minha boca gelar, e sentir um aperto no estômago. Ele não saia do quarto, só me olhava. Parecia estar estranho também. Prendir o ar quando ele andou em minha direção. Abraçou meu corpo, e sua boca chegou muito perto da minha. Nossas respiração estava se alternando. Parecia que tínhamos corrido uma maratona. Eu fechei os olhos esperando meu primeiro beijo de verdade. Suas mãos soltaram meu corpo e quando conseguir abrir os olhos, ele não estava mais no quarto. Passei a mão pelo rosto, tentando voltar a realidade.
Sentia todo meu corpo reagir estranho.





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