Lembranças

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Depois de ver a Selena, o Daniel ficou indignado com seu estado físico. Depois de conversarmos um pouco, ele acabou passando a noite no sofá. Dormi sentada na cadeira ao lado da cama em que Selena estava. Fiquei preocupada em dormir no meu quarto, ela poderia passar mal e não estar perto para ajudá-la.
Tudo correu bem durante a noite, acho que os medicamentos fizeram a Selena resistir melhor a dor.
Assim que amanheceu, verifiquei que Selena ainda dormia. Sair do quarto, fiz um café, depois acordei o Daniel. Assim que despertou ele ligou para a empresa avisando que não iria trabalhar. Apesar da minha insistência, dizendo que ficaríamos bem, ele preferiu ficar para ajudar . Liguei para avisar a Lisa que não iria trabalhar também. Depois de muita insistência, conseguimos convencer a Selena a ir fazer o boletim de ocorrência. Até chegarmos a delegacia, ela não contou nada sobre o que aconteceu.
Talvez lembrar do episódio seria dolorido ou torturante demais. Demoramos um bom tempo entre exames e depoimentos. Quando saímos da delegacia estávamos com fome. Mas a Selena não tinha condições de ir a um restaurante.
Voltamos para minha casa e o Daniel não pode ficar, então se despediu e foi embora.
Depois de fazer nossa refeição, Selena precisou descansar.
Fui para meu quarto, peguei o celular e liguei para o Felipe. Ele não atendeu, mas mandou mensagens. Perguntou se Selena estava bem.

Respondi com outra pergunta.

- Está preocupado com ela? Porque não vem vê-la ?

- Quer que eu peça o médico para vê-la novamente?

- Não precisa, ela está bem. Os medicamentos que ele receitou estão ajudando bastante.

- O Daniel ainda está com vocês?

- Ele passou a noite aqui, mas foi embora quando voltarmos da delegacia.

- Bom saber que ele estava cuidando de vocês. Minha presença era mesmo inútil.

- Não diga isso, Felipe.

- Não precisa fingir, você ficou estranha ontem, eu até entendo suas preocupações, mas me afastar sem motivos nao foi legal. Gostaria de entender suas expectativas. Você me deixa confuso, imagino que você não sabe o que quer. Sinto que existe dúvidas e isso me faz pensar, que estou atrapalhando seu entendimento.

- Felipe, me desculpe...

- Acha que não tenho medo?
No meu entender, Helena. Amar é não duvidar.
Se tem dúvidas sobre nós, não é dúvida, é a certeza que não me ama.
Acho melhor nos afastar por um tempo. Não quero obrigar você a ter sentimentos confusos.
Preciso que esteja certa sobre nós
Se precisar de um amigo estarei aqui.

- Felipe eu não quero que se afaste. Vamos conversar pessoalmente. Gostaria que viesse aqui para podermos conversar.
Não acho justo resolver isso por mensagens.

- Tudo bem, posso ir mais tarde, pode ser?

- Sim, claro!

- Tudo bem... preciso tentar trabalhar, até mais tarde.

- Até.

Fiquei relendo as mensagens por um tempo. Depois liguei para meus irmãos, precisava saber notícias. Liguei também para dona Zélia. Havia alguns dias que não falava com ela. Ela estava triste, mas não quis questionar sua tristeza. Minha mãe, todos os dias s
manda mensagens dizendo que está tudo bem. É bom saber que todos estão bem.
Ela está longe de casa, mas diz que está tudo certo. Os meninos não reclamam, eles ainda elogiam o pai. Parece que ele resolveu mesmo mudar.

Depois de ajudar Selena a tomar banho. Resolvi questionar o que aconteceu.
Ela disse que era melhor eu não saber, por isso não iria me contar. Disse também que eu poderia correr risco de vida. Quando eu insistir ela começou a ficar nervosa. Apesar de querer que ela contasse, parei de perguntar. Ela disse que eu descobriria tudo algum dia.

Mesmo curiosa aceitei o seu silêncio. Como sou teimosa, ainda vou descobrir, mesmo que ela não queira.

Deixei Selena descansar e fui me arrumar. Durante o banho, fiquei pensando no Felipe.

Gostaria muito de entrar com coração nessa relação, mas algo dentro de mim, me impede. Quando penso em prosseguir, sempre acende um alerta vermelho e me afasto. Amar é como uma cilada em que sinto que estou em perigo. Diante disso tudo que sinto, parece que alguma coisa travar dentro de mim. Como se fosse uma forma de proteção, de blindagem para me favorecer. Sei que preciso romper essa barreira.
Mas como fazer isso ?
Eu não consigo resolver esse dilema.

Acho que tudo faz parte de um trauma, adquirido desde minha infância. Eu aprendi a proteger e cuidar, mas amar alguém assim, é diferente. O amor é uma incógnita presa em algum lugar dentro de minhas amarras.
Sinto que estou segura quando me afasto, porque assim não corro risco, não vou me magoar.
O medo de me mágoar e mais forte que a força do amor. Ainda assim, tudo diverge entre minhas ações, que podem mudar o meu futuro. Parte de mim grita por amor, a outra me prende, dizendo... fique segura . Eu sofrir com uma infância dura, por falta de amor ou carinho. Me sinto segura quando guardo me coração da dor. Ninguém pode te machucar se você não se arriscar.

Quando Felipe chegou, eu estava pronta para aceitar, me afastar definitivamente.

Mas quando abrir a porta, meu coração me traiu. Seu olhar me prende de uma forma inexplicável.

- Oi.
Ele cumprimentou timidamente.

- Oi.
Respondi com frio no estômago .

- Entre...
Falei tentando ficar calma.

Ele entrou, e perguntou.
- Selena está bem?

- Sim...
Respondi caminhando em direção ao sofá. Sentei procurando seus olhos.

Ele andou até a janela e perguntou.
- Descobriu quem fez isso a ela?

- Não, ela não quis dizer...

- O Josh saiu de casa, estou preocupado. Ele anda estranho, confuso e nervoso. Brigou com minha vó e acabou saindo de casa.

- Você sabe onde ele está?

- Não. Minha vó também está preocupada. Ela não sabe de nada que está acontecendo.
Estou perdido nessa situação... Sinto que estou perdendo o controle de tudo que amo.

Nesse momento passei a mão no sofá, sentindo um papel preso entre as dobras do tecido. O papel parecia ser uma foto de família. Observei curiosa, haviam dois meninos, mãe e pai. Mas o que me deixou abismada foi a imagem de um garoto na foto, ele me chamou muita atenção. Era muito parecido com o garoto que conheci na escola.
O que aquela foto fazia aqui?
De quem era?
E o garoto? Como?
Fiquei assustada sem saber como reagir. Como o destino trouxe aquela foto? Como apareceu logo naquele momento?
Fiquei tanto tempo presa a foto, que me esqueci do Felipe.
Escutei sua voz de longe me chamando.

- Helena! Helena está me escutando?

Ele chegou perto e tocou minha mão.

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