Capítulo 2

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Pov’ Guilherme

Sai da clínica mais cedo hoje. Fiz somente uma cirurgia- um pouco delicada, mas que ocorreu bem.- E deixei Joana na direção da clínica. Hoje nada poderia dar errado.
Me olhei no espelho mais uma vez. Terno, colete, calça, mesmo estilo de sempre, mas a ocasião pedia isso. Mesmo estilo, mas um outro homem habitava essas roupas. Eu já não era o mesmo de três meses atrás, algo havia mudado. Flávia havia me mudado. E então as lembranças do momento em que enfim notei isso, voltaram em minha mente.

Já era quase dez da noite, eu havia deixado a clínica a mais de uma hora, mas não sentia vontade alguma de voltar para casa. Rose e eu estávamos tentando de todas as formas salvar nosso relacionamento, mas isso já não era possível. Percebi isso a quase dois meses, mas por medo de perder minha família, e tudo o que estava sob meu controle, eu tentei empurrar com a barriga um casamento falido.
Semanas atrás eu fui procurar por Flávia. Não para desabafar, não. Não para pedir algum tipo de conselho ou falar sobre minhas lamentações conjugais, eu fui atrás dela só para sentir seu cheiro, olhar os olhos mais destemidos que eu já havia conhecido, e propor um jantar. Queria vê-la, conversar com ela, sobre coisas aleatórias, eu queria me sentir feliz e vivo novamente. Mas no caminho, Rose me ligou, cantando a música tema de nosso relacionamento. Então eu desisti, voltei para minha casa, minha esposa, pensando estar feliz. Por alguns dias eu quase me convenci dessa felicidade.  Minha mulher estava dedicada, mais próxima, desde que decidi perdoar o caso que ela teve com Neném, a questão não era mais ela, e sim eu. Rodei por horas, sem destino algum, até chegar em casa. Guardei o carro, e respirei bem, bem fundo, antes de entrar em casa.
Tudo estava quieto, caminhei em silêncio até meu quarto, e encontrei Rose sentada com uma xícara do que suponho ser chá, em uma mãe. O braço direito dela se encontrava escorado em cima da escrivaninha, e um livro de Shakespeare compartilhava o local. Ela estava linda, a luz do abajur deixou a pele ainda mais bonita, usava uma camisola branca de seda, e seus olhos estavam fitados na janela.
- Boa noite, Gui! Chegou mais tarde hoje! – Disse, ainda sem me olhar.
- Foi um dia difícil. – Falei sem mentir. Olhei mais uma vez para a mulher ali sentada, e tudo o que eu fazia era admirar a beleza dela. Céus, onde estava a alegria? O frio na barriga? O desejo que eu costumava sentir por ela? Admirar a beleza de  Rose é fácil, ela é lindíssima, mas isso era tudo o que restava. Como Flávia me disse na última vez que nos vimos “ Obsessão não é amor”. Eu a amei muito, por vários anos. Todavia, depois tudo o que sobrou foi isso, Obsessão. Um sentimento nada saudável, então eu a machuquei, me machuquei. E quando eu imaginei não ter mais solução, ela tentou fazer dar certo. Me pediu desculpas, disse que eu era o homem de sua vida, fez jantar, cantou nossa música, e eu me comovi. Porque esperei muito tempo para ter isso dela. Comoção. Eu estava no meu extremo.
- Gui – Ela me chamou, em seguida se pôs de pé- O que você acha de viajarmos? Lembra da viajem que não fizemos naquele tempo em que descobri da ala das crianças?! – Rose começou a vir em minha direção. – Podemos fazer agora. – Pôs as mãos em meus ombros- Vai ser bom para nós dois. Novos ares, novas energias. O que me diz?- Ela falou com um quase sorriso formado nos lábios.
- Rose- Eu puxei com força o ar para os pulmões, e retirei suas mãos cautelosamente de meus ombros, segurei as duas e olhei bem dentro de seus olhos- Não posso viajar com você. Não posso seguir com isso. Você foi o amor de minha vida por muitos anos, eu te amei imensamente, esperei muito tempo para ver você sentir ciúmes de mim, me preparar alguma surpresa. E isso aconteceu agora, justamente agora. – Ela me olhava confusa- Eu não te amo mais.. E creio que nem você a mim. Se é que algum dia você tenha me amado. Tivemos medo de perder o que construímos, nos apegamos no que já era certo, com medo de arriscar. Mas não dá mais. Não para mim. Eu te prendi por tempo demais.. Estou te libertando. Nos libertando.
Ela me encarou, com os olhos cheios de lágrimas, parecia incrédula. Acho que Rose estava tão acostumada a me pedir o divórcio, e eu sempre negar, que quando o fiz, o choque foi tremendo.
- Gui, eu não estou entendendo! – As lágrimas veio, e um suspiro forte também. – Estávamos bem. Você disse que tinha me perdoado, no dia em que te liguei, aí agora vô...você fala isso. A gente pod..- Rose limpou o rosto, mas as lágrimas voltavam. Eu estava a ponto de soltá-las também, mas me contive. Voltei a segurar as mãos dela, e encarei o rosto de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
- Não da mais Rose. Nós tentamos. A vida é curta para não vivermos como ela pede. Tá tudo bem..
- Tem outra pessoa, né? – Eu desviei os olhos e ela soltou minhas mãos. Virou de costas e deu alguns passos. – É a Flávia Gui? – perguntou ainda sem me olhar. Eu passei a mão pelos cabelos e respirei fundo..
- Não somente a Flávia. É a vida, ou a morte melhor dizendo. É tudo Rose. – Puxei seu braço para que ela pudesse olhar para mim. – A gente merece ser feliz. Os dois merecemos. O que nos difere, é que talvez meu tempo seja muito mais curto que o seu. Vamos encerrar isso aqui com leveza. – Ela abriu a boca em contesto, mas não disse nada. Apenas me abraçou e começou a chorar. Vê-la assim não me deixou nada bem. Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. Eu já errei demais, e não queria continuar assim. Depois de soltar Rose de meu abraço, fui até o closet, peguei meu pijama, e um roupão de banho. – Amanhã falamos com Antônio, no decorrer da semana ajeitamos tudo com os advogados.- Vou dormir no quarto de hóspedes. Boa noite, minha querida!
O processo do divórcio foi complicado. Pois graça ao teste que minha mãe fez sem minha autorização, acabei descobrindo que Antônio não era meu filho biológico. Isso me devastou a um nível indescritível. Cego pela raiva, acabai fazendo com que Rose saísse sem direito a nada.
Minha mente se dividia entre a imagem de Rose e Flávia. Ambas as imagens eram tristes, me lembrava com perfeição do rosto de Flávia quando disse que a mulher de minha vida era Rose. A agora lembro do rosto de Rose ao dizer que não dava mais.. Que sensação horrível.
- O que você vai fazer par consertar as coisas Guilherme? O que você vai fazer agora? – Quando eu olho para o espelho, meu coração por alguns segundos  bate mais rápido ao ver um rosto lindo e conhecido. Outro rosto, mas que eu não gostava de ver.
“VOCÊ PODE MUDAR SEU DESTINO”
Ao dizer isso ela foi embora, sempre imprevisível, a Morte.
Graças a isso, a mais um dos avisos que Ela, já havia me dado, que eu decidi mudar meu destino. E foi a melhor decisão que eu poderia ter feito. Hoje, eu estava prestes a fazê-lo novamente, e só de pensar nisso, meu coração se acelerou.


Espero que estejam gostando! Boa leitura! Próximo capítulo é um dos que mais gostei de escrever!💕

Digam o que acharam dos primeiros capítulos, e o que tem para melhorar. Beijos!


Flagui: Love Of The GalaxyOnde histórias criam vida. Descubra agora