Música:
( All I Want parte II)
“ Flávia, reage.”
“ Fica aqui comigo, meu amor.”
“ Flávia, por favor, reage.”
Ela queria responder, mas não conseguia. Ela queria tocá-lo, mas também não conseguia. Aconteceu. Ela sempre soube que seria ela...
Algumas horas antes
Eles se reuniram na casa de Dona Neda para um almoço. Sugestão de Neném, e todos gostaram da ideia. Para as demais pessoas sentadas á mesa, era apenas mais um almoço de domingo. Com mais pessoas, mas ainda um almoço de domingo. Para os quatro, era um almoço de despedida. O primeiro e último, com os quatro juntos. Decididos a não pensar sobre isso, o quarteto tentou ignorar o sentimento de medo, de angústia e incerteza. Eles tentaram fazer daquele almoço, apenas um almoço. Flávia não. Ela não conseguia se enganar dessa maneira. Seus olhos ardiam e seu coração parecia se contrair dentro de si, tentando esmagar os sentimentos ruins. A garganta fazia seu trabalho de engolir o choro.
Após o almoço veio a sobremesa. Nem o doce do pudim e do bolo de chocolate, foram capazes de tirar o amargor da boca da cantora. Ela sentiu uma dor extracorpórea, quando abraçou seu pai, segurando o choro com dificuldade. Flávia era boa nisso, a vida lhe forçou assim. Era fim de tarde, quando os quatro se despediram, após um dia quase inteiro juntos. Foi então, que se atentaram ao fato de que, nunca antes, nem mesmo depois do acidente, todas as famílias haviam se reunido. Eles deveriam ter feito isso. Flávia segurou o microfone com força, cantando uma música para cadeiras vazias. Seu público silencioso e admirado. Ela fez isso muitas vezes ao longo dos anos, cantando em frente ao espelho, sonhando com o dia que estaria fazendo isso para uma multidão. Naquele momento, ela apreciou a sala vazia.
“Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos,
Tempo, tempo, tempo, tempo, num outro nível de vínculo...
Tempo, tempo, tempo, tempo... Será que Maria Gadú , já tinha vivenciado algo parecido com o que ela vivenciou, por isso escreveu essa canção? Flávia se desfez desse pensamento, batendo palmas para si mesmo. Gritando alto seu nome, com orgulho, com admiração. Nós precisamos ser nossa própria plateia as vezes. Nossa própria torcida. Pela primeira vez na vida, ela fez isso.
Distante dali, Guilherme segurava o estetoscópio na mão, enquanto guardava seu jaleco no armário de seu escritório. “ Espero voltar para vocês.” Falou, enquanto caminhava por cada andar de sua clínica. Aquelas paredes já foram testemunhas de tantas palavras tristes, já contemplou tantas lágrimas, gritos de dor e desespero. Mas aquelas paredes também testemunho sorrisos, comemorações pela recuperação de cada paciente. Testemunhou a anunciação de uma nova vida, testemunhou a fé e esperança. Em especial, aquelas paredes testemunhou o primeiro encontro de duas almas predestinadas. Testemunhou uma jovem cantora anônima , cantando Rita Lee, meses depois, gemendo o nome do marido... É, tem muitas histórias guardadas , na fortaleza de cada parede da Clínica Monteiro Bragança.
Paula se permitiu elogiar Carmem. Claro que ela só faria isso, estando sob a mira da morte. Mas ela entendeu ali, que precisava muito da Wollinguer. Não por ser apenas sua concorrente, mas também a mulher que a forçava a buscar o melhor, a lutar para não deixar sua empresa falir. É doído admitir, mas a empresária gostava de Carmem, gostava das suas roupas escuras em contraste com seu cabelo platinado. Enquanto tomavam o vinho, Paula se deixou olhar mais atentamente para o rosto da outra mulher ao seu lado. Ela gostava do sorriso de Carmem, e da forma como seus olhos se apertavam quando ela parecia estar desconfiada. Talvez fosse o vinho, talvez fosse a incerteza do amanhã, mas ela só se deu conta do que estava fazendo, quando puxou o ar para os pulmões, após sentir os lábios de Carmem se afastando dos seus. De olhos ainda fechados, Paula apreciou o beijo. A maldita beija bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flagui: Love Of The Galaxy
FanfictionFlávia e Guilherme haviam enfim se acertado, e decididos a não perder mais tempo, decidiram se casar o mais rápido possível. Mas isso não ocorreria tão facilmente, pois algumas pessoas não estavam dispostos a ver isso acontecer. A vida na mansão Mon...