Capítulo 7

270 22 20
                                    

Pov’ Flávia

É impressionante a capacidade que temos de pensar em toda a nossa vida em questões de segundos, e em como podemos não pensar em nada, quando estamos em perigo.

Fechei meus olhos no instante em que ouvi o primeiro tiro, escutei a voz de Guilherme no segundo. Só então abri meus olhos. Tudo confuso demais para entender. O Sub delegado Prado, atirou na perna de um dos u capangas de Tucão. Talvez tenha sido o delegado Torres, eu não conseguia raciocinar direito. Tucão deu o segundo tiro, para cima. Guilherme tinha os olhos arregalados, a boca entreaberta, sua feição- Que é sempre tão neutra- denunciava o medo e a angústia.

- A boate está cercada, Tucão. É melhor você se entregar, seu meliante.- Prado falou, e o Dono da Tijuca fez questão de passar a arma no meu quadril. O objeto gelado, pressionando minha pele.

- Ok, ok...- Ele disse, passando o nariz em meu rosto, sorrindo nervoso.- Eu vou soltar a Pink. – Ele falou, fazendo sinal de rendição, abaixando a arma, lentamente. Lento demais. – Eu vou, mas eu volto. E quando eu voltar, vou acertar minhas contas contigo, Pink. Aproveita teu noivo.- Ele disse num sussurro, minha espinha gelou. Tucão me jogou em direção a Guilherme, que me segurou forte em seus braços.

Diferente do pensado; o homem não se entregou, ele acertou o delegado Torres. Prado atirou em sua direção, sem sucesso, pois ele correu. Tudo parecendo um filme de terror, desses que temos certeza que o mocinho só sai vivo por conveniência de roteiro ou por sorte... Coisas que não acontecem na vida real. Policiais invadiram a boate, as pessoas gritando. O capanga alto e forte, de Tucão, foi algemado. Ele olhava em direção a Cora e Roni, que estavam lado a lado. Roni com uma expressão assustada, Cora tentando disfarçar um sorriso. Que merda estava acontecendo?

Não sei em que momento Guilherme se afastou de mim, mas consegui ouvi-lo dizer que o tiro em Torres foi de raspão. Nada grave.

- O que que está acontecendo, Cora?- Perguntei assim que me aproximei da morena de cabelos curtos.

- Não sei, Pink.

- Para de mentir. Alguém chamou a polícia, e algo me diz que você sabe quem foi. – Falei quase num sussurro.

- Pink.- Ele fez o típico gesto, passou a língua ligeiramente sobre os dentes.- Você lembra do homem que o Roni matou para te defender?- Inferno, inferno...- Então, ele era parceiro do Tucão. Ele ia descobrir, estava sendo uma pedra em nosso sapato. Então, assim que seu noivo chegou aqui, vi que era a oportunidade perfeita de nos livrarmos dele.

- Me usando, Cora?

- Não foi intencional amiga, eu juro.- Ela disse levando uma das mãos até o peito esquerdo. Fingindo inocência.

- Para de mentir Cora.

- Não estou mentindo. Eu te chamei porque você é a melhor Dançarina. Porque ele queira conhecer a famosa Pink.

- Você é muito burra. Ele não vai ficar muito tempo preso. Você sabe. Há anos tentam prende-lo, ele sempre sai ileso.

- Não vai ser bem assim agora.

- Como assim? – Ela não respondeu.- Você não tinha o direito de me envolver nisso.

- Como que te chamavam antes?- Ela perguntou me encarando com um sorriso sarcástico nos lábios.- Ah, me lembrei. A Garota Roubada. Eu não tenho culpa se você tem um ímã que atraí problemas.

- É melhor você se afastar daqui por um tempo, Pink. – Roni disse pela primeira vez, passando a mão sobre os cabelos lisos. Cora o encarou, aparentemente, raivosa.

Minha cabeça estava pensando, milhões de pensamentos ao mesmo tempo, me atordoavam. Me afastei de Cora e Roni, e fui ao encontro de Guilherme. Ele se virou para mim, e me encarou. Os olhos escuros me fitando. Não precisei dizer nada, ele me abraçou. Forte, tão forte que eu me senti totalmente segura. Queria morar dentro desse abraço.

- Meu amor, conversei com o Prado. Ele disse que mesmo conseguindo pegar o Tucão, eles não teriam provas para mantê-lo preso por muito tempo. Você não está segura, Flávia.

- Gui, diga algo que eu ainda não sei.- Falei, triste. Sempre que eu estava feliz, algo acontecia, e roubava isso de mim.

- Você tem alguém para te defender, agora.- Guilherme disse passando o polegar em minha bochecha.- Alguém que nunca vai permitir que nada te aconteça. Disso, você já sabia?

- Não. Sempre foi eu por eu mesma.- Disse aproveitando o carinho em meu rosto, e o quentinho que se instalava em meu peito.

- Então deixa eu dizer mais alguma coisa que você não sabe. A partir de agora, você vai morar comigo. – Arregalei os olhos. Não esperava por isso.- Flávia, nós já vamos nos casar. Quero que isso aconteça o mais rápido possível. Só estaremos adiantando uma coisa que já iria acontecer.

- Mas tem meu pai, Gui...

- Seu pai ficará bem. Posso contratar alguém para vigiar a casa. Assegurando que tudo prossiga bem. Aceita, meu amor. Não vou ficar tranquilo longe de você, nessas circunstâncias.

- Ter que encarar sua mãe vai ser tão complicado quanto encarar Tucão.

- Flávia.- Guilherme disse, segurando um sorriso.- Isso é um sim?!

- É.

- Muito bem, vamos passar no seu pai, pegar suas coisas, e vamos para nossa casa. – Eu apenas sorri. E me apaixonei ainda mais por Guilherme. Eu não sabia que isso sequer, seria possível, mas a forma como ele me defendeu, me fez perceber, que para ele eu sou importante, ao ponto dele arriscar a própria vida. E nunca, ninguém fez isso por mim.

O caminho até sua casa foi silencioso. Era um silêncio confortável. Eu ainda tentava entender tudo o que havia acontecido. Processava as palavras de Cora. Me desfiz desses pensamentos no momento em que entrei na casa dos Monteiro Bragança. Celina e Daniel estavam na sala, e a mulher se levantou do sofá no instante em que me viu. Ela me analisou de cima a baixo. Eu usava apenas uma blusa xadrez que cobria a minha roupa de Pink, e a bota. Ela parou nos meus cabelos. Melhor dizendo, na peruca rosa, que eu havia esquecido de retirar.

- O que essa mulherzinha está fazendo aqui, dessa maneira? Fantasiada?

- Essa mulher tem nome, mãe. É Flávia Santana. Futuramente, Flávia Santana Monteiro Bragança.

- Guilherme, meu filho. O que você quer dizer com isso.

- Quer dizer, que vamos nos casar, e que estou vindo morar aqui. Não me deseja as boas vindas, sogrinha?- Perguntei com um meio sorriso no rosto. Se Celina pensa que vai fazer comigo o que fazia com a Rose, está muito enganada.

- Guilherme, você perdeu o juízo de vez? Mal saiu de um casamento e já vai entrar em outro? Que gosto terrível você tem para mulheres, meu filho. Duas golpistas. Parece que gosta de sofrer.

- Olha aqui mãe. Preste bem atenção.- Guilherme soltou minha mão, que até então, ele segurava firme, e deu mais um passo, em direção aos pais. Daniel não falava nada.- Eu não vou permitir que você fale essas barbaridades sobre a Flávia. Minha noiva. E acho bom você se adaptar com a ideia de que a partir de agora, ela é e dona dessa casa.

- Ah meu Deus, era só o que me faltava. Uma delinquente, ser a dona dessa casa. A Rose ao menos tinha classe, coisa que essa daí, não tem.

- E pelo visto, nem a Senhora.- Falei, me aproximando dela.- E é melhor a Senhora parar de me chamar assim, porque eu não tenho um terço da paciência que a Rose tinha.

- Flávia, que bom te ver novamente. Estou muito feliz pelo compromisso de vocês.- Daniel disse, me abraçando. Em seguida fez o mesmo com Guilherme. Não demoramos na sala, seguimos para o quarto, e não pude evitar a agonia que senti, ao entrar no cômodo.

- Tudo bem?- Gui perguntou, depositando a mão sobre meu ombro. Deixei minha mochila sobre um móvel pequeno, que ficava um pouco depois da porta.

- Sim. Tudo bem!.

- Te incomoda ficar aqui, nesse quarto?- Respirei fundo. – Você pode mudar o que quiser, na hora em que quiser. Deixar mais sua cara.

Me virei para ele, sorrindo.

- Faço isso depois.- Ele sorriu de volta.- Agora eu só preciso de um banho, e comida.

- Pois bem... O banheiro é logo ali do lado. Pode pegar o que quiser. Não preciso dizer para ficar a vontade. Preciso?

- Não mesmo.- Ele sorriu mais uma vez

- Enquanto isso, vou ajeitar algo para comermos.

Eu acenei positivamente com a cabeça, e ele depositou um selinho rápido antes de sair. Analisei o quarto mais uma vez, com certeza precisa de mais cor. Depois eu resolvo isso.

- Você acha que ele fica quanto tempo preso?- Perguntei mordendo o sanduíche que Guilherme havia preparado.- Podemos falar com seu pai, né? Ele entende dessas coisas.- Bebi um pouco do vinho que ele havia trazido também.

- Vamos esquecer isso? Ao menos por hora. – Guilherme disse, vindo em minha direção. O cabelo levemente molhado. Ele sentou na cama logo em seguida, se servindo de um pouco de vinho. Eu quis contestar, mas ele prosseguiu.- Amanhã falamos sobre isso. Resolveremos tudo. Mas agora...- Ele disse, terminando de beber o líquido vermelho, e retirando a bandeja da cama. Fiz uma careta, e estiquei a mão, para pegar um morango, Guilherme sorriu.- Tudo o que eu quero, é me deitar ao seu lado, e dormir sentindo seu cheiro, o calor do seu corpo.

Gui se aproximou mais de mim, depositou alguns beijos em meu pescoço, antes de juntar nossos lábios em um beijo calmo, terno. Me passando tranquilidade. Eu o abracei forte. Seu cheiro me invadindo, marcando minha pele. Afinal, eu usava uma camisa branca de algodão dele. Caiu como um vestido em mim.

Deitei minha cabeça sobre seu peito, me aninhando a ele. Nossos corpos cobertos até a cintura, sua mão acariciando meu cabelo.

- Gui, nós seremos muitos felizes, não seremos?! – Minha voz embargada. Ele puxou meu queixo, fazendo com que eu o encarasse, fitando meus olhos.

- Nós seremos muito felizes.- Ele confirmou, e eu me enchi de alegria imediatamente.

- Eu te amo muito, doutor das Galáxias.

- Eu te amo tanto, Flávia. Tanto.

O beijei mais uma vez, antes de repousar novamente minha cabeça sobre seu peito. Me agarrei a ele , na mesma medida em que me agarrei na esperança de dormir todas as noites dessa forma. Ao lado do amor da minha vida, nos braços do amor da minha vida. Eu precisei me agarrar nisso, porque algo me dizia que não seria assim, tão fácil.

Peço desculpas pela demora. Passei por um momento delicado, devido a isso, me afastei daqui kk. Desejo a todos uma boa leitura, e espero de coração, que gostem.
Beijos de luz ❤️




 

Flagui: Love Of The GalaxyOnde histórias criam vida. Descubra agora