Capítulo 6

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Pov’Flávia

- Pai? Onde você está?- Indaguei assim que entrei em casa. – Tenho uma novidade para te contar.

- Oi filha. Que bom te ver.- Ele disse me abraçando forte. Muito forte.

- Está tudo bem? – Perguntei sendo tomada por um sentimento desagradável.

- O que você queria me dizer? – Ele perguntou e fez sinal para que eu me sentasse.

- O que está havendo? – Perguntei assim que me sentei.

- Me fala a novidade primeiro filha. – Meu pai pediu, e eu, mesmo a contragosto, o fiz.

- Eu, e o Guilherme, vamos nos casar.

- É sério isso filha? Que alegria meu amor.- Ele disse me abraçando em seguida. Eu retribui, sorrindo feito boba..

- Tão bom te ver assim feliz, filha.- Ele disse passando o polegar sobre minha bochecha.- Merece tanto.

- É sim. Pai...- Fiz uma pausa necessária.- O que você está me escondendo?

Sua feição mudou. Sua íris tomou outra tonalidade.

- Filha. – Ele suspirou.- A Cora e o Roni estiveram aqui. – Minha espinha gelou.- Eles mandaram eu te dizer, para você aparecer lá na Pulp Fiction o mais rápido possível. Ou as coisas iriam esquentar.

Eu não sei o que é ter um momento inteiro de felicidade. Logo agora que tudo estava indo tão bem. Não consegui manter meu corpo relaxado, meus músculos se retraíram e eu tive que respirar fundo, antes de me levantar, me despedir do meu pai, e caminhar em direção a boate.

Não havia quase ninguém na boate, o movimento começava de fato, a noite.

- Pink, amiga, que saudades de você. – A voz de Cora me fizeram olhar para outra direção. Ficando de frente para ela. – Seu paizinho te deu o aviso?- Ela perguntou com o típico sorriso sarcástico no rosto, passando a língua rapidamente sobre os dentes.

- Sim, ele me avisou. O que você quer?

- Queremos você aqui. Trabalhando pra gente. Tem uma pessoa muito importante aqui, que quer exclusivamente o show da Pink.

- Pois essa pessoa importante vai continuar querendo. Eu não danço mais aqui, Cora. Achei que estivesse sido clara na nossa última conversa.

- Não dança, ela não dança mais aqui.- Ela disse num falso sorriso, vindo em minha direção.- Você não entendeu que não é você quem decide isso?

- Você não entendeu que você não manda em mim?- Seus olhos vidraram nos meus. Ela me encarou, envolvendo o dedo em uma mecha de cabelo, logo após levou o mesmo aos lábios. Parecia saída de um filme de terror.

- Eu disse que é alguém importante.

- Então dança você.

- Perdeu noção do perigo, Pink? Enlouqueceu de vez? Ou você dança, ou parte dessa pra melhor.

Um frio me invadiu. Será que isso era um sinal, dela?

- Cora, não devo nada a você. Você não precisa de mim. Me esquece.

O sorriso de Cora se alargou, ela tinha a língua sobre o céu da boca. Sorriso largo demais para ser direcionando para mim.

- Pink, tem alguém que estava louco para te conhecer. – A voz de Roni soou atrás de mim. Me virei para ele, ao seu lado, um homem moreno e de cabelos cacheados, usando uma blusa social branca, com alguns botões abertos, expondo seu peitoral e suas várias correntes douradas.

- Então você é a famosa Pink. – Ele disse vindo em minha direção. Só então notei alguns homens de preto atrás dele e de Roni.- Mais bonita do que me disseram.- Ele pegou minha mão, levou até os lábios e beijou. Eu puxei depressa, cruzando meus braços sobre meu peito.- Muito prazer, Pink, Tucão.

Senti minhas pernas vacilarem, e minhas mãos suaram rapidamente. Que inferno.

- Tucão, o Tucão? Dono das máquinas...- Roni fez sinal para eu me calar, e por algum motivo, algo em seus olhos me fez sentir que seria melhor. Acatei.

- Dono da Tijuca. – Balancei brevemente a cabeça, minha garganta seca, engolindo a seco, o medo. – Já te disseram que você  parece uma princesa?

Não respondi nada. Eu só queria fugir desse lugar.

- Bom Tucão, prazer. Mas vou metendo o pé, porque meu noivo está me esperando...

- Ah, ela tem noivo.- Ele disse gargalhando, Cora e os homens que estavam atrás dele o acompanharam. Roni sorriu amarelo. – Pois ele que espere.

- Ele não vai esperar. É meu noivo. – Eu disse levantando a voz por um instante. .

- Pink, eu não ligo se você tem namorado, se é noiva, se é casada ou se você é uma freira. Hoje, eu quero que você dance para mim. E se é isso que eu quero, é isso que você vai fazer.

- Eu tenho mesmo que ir ...- Minha voz vacilou por um momento.

- Você dança, e eu te libero.

- É só uma dança Pink. – Cora disse, me abraçando pelos ombros.

- Só uma dança. Mais nada. – Afirmei, sem ver muitas saídas, a não ser, aceitar.

- Ótimo. As oito quero você aqui. Dançando só pra mim.

- Só uma dança. Nada além disso. E nada além de uma.

- Isso eu quem decido.

- Essas são minhas condições.

Ele me encarou, malicioso, antes de dizer um EU TOPO.

- Não se esqueça em Pink, as oito. – Roni disse e eu acenei positivamente com a cabeça. – Flávia.- Ele me puxou discretamente pelo braço, assim que Tucão se afastou, junto com os homens de preto. Só então me atentei que eram seus capangas.

- Obedece e fica longe dele. – Ele disse baixo.- O Tucão é barra pesada. E eu...

- Você?- Tinha alguma coisa nos olhos dele. Alguma coisa diferente.

- É um conselho. Fica longe dele. Pro teu bem.

Eu acenei, mais uma vez. Só senti minha respiração novamente, no momento em que eu pisei o pé para fora daquela boate. Meu celular tocou, me fazendo notar que eu já estava na frente da minha casa.

“ Oi Gui.”

“ Oi meu amor.” – Minha respiração falhou só por ele ter me chamado assim.

“ Como o Doutor das Galáxias passou sem mim a metade do dia? – Ouvi o riso do outro lado da linha.

“ Horrível. Horrível ficar sem você. Estou sentindo um vazio enorme sabe? Será que eu aguento mais algumas horas?”

Foi minha vez de sorrir.

“ Falando sério. Estou com saudades. “

“ Estou morrendo de saudades de você. Mas bom, o doutor me ligou para dizer que estava com saudades?”

“ Não, não foi só por isso. É que bom, eu quero, quero ver com você qual a igreja que acontecerá nosso casamento.”

Sua voz ficou mais baixa, e meu coração se aqueceu.

“ Flávia? Caso você sinta que estou indo muito...”

“ Shi, não fala nada. Só me manda os nomes que você tem em mente.”

Guilherme pareceu respirar enfim, aliviado.

“ Pensei em ver isso pessoalmente. Você vai cantar no bar Wollinguer hoje? Posso te pegar lá, aí...”

“ Gui, hoje eu não vou cantar. Vou me apresentar na Pulp Fiction.”.- Minha voz saiu mais baixa, e pesada também.

“ Vocês vão cantar na Pulp? Não sabia que a banda...”

“ Eu não vou cantar, Guilherme. Vou dançar. Vou dançar para um único cliente.”

O peso se fez novamente dentro do meu peito. O silêncio do outro lado era  ensurdecedor.

“ Você...”

“ Por que você vai ter que dançar, para uma única pessoa? Flávia, o que aconteceu?”

“ Está com tempo?” – Ele murmurou um SIM.- “ Pois bem, vou te contar o que aconteceu, Gui...”

Ele me ouviu, não disse muita coisa. Só perguntou se poderia me ver mais tarde em minha casa. Eu consenti. Eu sei que minha “antiga” profissão não o incomodava, afinal, ele me conheceu assim também. Uma dançarina. Mas essa situação incomodava. Não só a ele, mas a mim também. E foi quando um vento frio fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, mesmo no calor forte do Rio, que eu entendi, por algum motivo, que não seria apenas incômodo a noite de hoje.

A noite chegou mais rápido do que eu esperava. E meu único desejo era que isso acabasse logo. Cora entrou no camarim, eu a encarei rapidamente pelo espelho, enquanto consertava meu delineado.

- Tá gostosa em Pink.- Ela disse, com seu sorriso de sempre. Me levantei, após ter terminado o delineado. Fui em direção a peruca, mas ela pegou primeiro.

- Se você veio aqui só para dizer que eu sou gostosa, algo que eu já sei – Ela disse seu típico Hãn, enquanto arregalava os olhos arredondados.- Já disse. Agora me deixa que eu estou louca para acabar com isso.

- Faz teu trabalho direitinho, em Pink. Não vai inventar de aprontar para o lado do Tucão. Ele não é bonzinho como nós.

- E vocês são bons, por acaso?- Perguntei puxando minha peruca de sua mão.

- Apronta para o lado dele, que você vai saber. Somos santos comprado a ele. – Cora disse, vindo em minha direção, passando um dedo sobre o vale dos meus seios. Me encarou com a cabeça baixa, seus olhos me analisando.

- Você é louca, Cora. Uma psicopata, isso sim. – Ela gargalhou.

- Você nem imagina. Agora vaza, anda... Vai.- Ajustei minha peruca, analisei uma última vez a roupa justa e rosa que eu usava. Cora mexia no cabelo, os bagunçando. Eu senti o peso do mundo sobre meus ombros no instante em que saí do camarim e me dirigi para a sala particular.

A luz azul e Rosa delimitava propositalmente a claridade do ambiente. Tucão estava sentado, espalhado no sofá, as pernas abertas. Ele sorriu assim que me viu.

- Você não pode me tocar. Só ver.

Eu disse segurando com as duas mãos na barra fria. Fiz o primeiro giro, meu corpo se arrepiou pelo contato direto da minha pele com o metal frio. Notei mesmo que de relance, enquanto ainda estava de cabeça para baixo na barra de Pole Dance, o sorriso e inquietação de Tucão. Ele já não estava mais jogado no sofá. Seu corpo estava ereto.

Fiz mais um movimento, me agachei na sua frente, minhas mãos acima da minha cabeça, segurando o metal. Me arrependi no mesmo instante de fazê-lo, pois segundos depois o corpo do homem moreno voou sobre mim.

- O que é isso? Eu disse que você não podia me trocar.

Falei ofegando em angústia.

- Não me lembro de ter concordado.

Os segundos seguintes viraram uma eternidade. Eu me sentia em um filme de terror. Ele puxou minhas penas,  as abriu e se deitou sobre mim. Suas mãos prenderam as minhas. Sua boca estava em meu pescoço, os lábios molhados beijando minha pele, um nó se formando em minha garganta e o embrulho em meu estômago. 

Eu não sei quanto durou, nem quantos gritos eu dei, mas foi quando ele estava direcionando uma de suas mãos para minha cintura que alguém invadiu a sala.

- Sai de cima da minha noiva. – Guilherme gritou. Consegui encará-lo, meus olhos já estavam marejados. – Eu mandei você sair de cima da minha noiva agora. SAI.

- Quem você pensa que é? Para achar que pode me mandar fazer alguma coisa?

Ele perguntou saindo de cima de mim. Busquei os olhos de Guilherme, e no momento em que o encarei, algumas Lágrimas insistiram em cair. Gui deu mais um passo, e então Tucão me puxou pelos cabelos, causando um incômodo terrível. Ele envolveu meu pescoço em um “abraço”, e então puxou uma arma da cintura.

- Eu posso matar vocês dois aqui mesmo. Ninguém vai poder fazer nada.

- Você perguntou quem eu sou, não foi? Pois bem, eu te digo. Eu sou o Melhor médico do país. Sou um dos melhores cirurgiões do mundo. Se você me matar, não será um anônimo que vai sumir sem que ninguém sinta falta. Será o melhor médico do país. E então, toda a mídia estará em cima de quem me matou, e a polícia inteira vai caçar a pessoa que acabou com a minha vida e de minha noiva. E eles vão encontrar. Então é melhor você nos soltar, nos deixar em paz, ou seu destino será passar a vida inteira atrás das grades.

Eu estava tremendo, minhas mãos suando, podia ouvir minha respiração. O barulho da música da boate se misturando com a respiração de nós três nessa sala.

- Você acha que me assusta? Não é só você que tem influência. Não é só você que tem poder.

- É, mas eu não estou sendo procurado e nem tenho meu nome sujo na polícia. É melhor você nos liberar, Tucão.

- Vai para traz, anda.- Ele ordenou, apertando ainda mais meu pescoço.

- Como ? – Guilherme perguntou, mais nervoso.

- Eu mandei você dar um passo para traz. Eu libero vocês, mas só depois de estar fora daqui também.

Guilherme obedeceu, as demais pessoas assustadas. Roni e Cora me encaravam surpresos. Consegui ouvir, ainda dentro da boate, a sirene da polícia. O problema foi que Tucão também ouviu.

- Você chamou a polícia, doutor? Você foi tão burro ao ponto de fazer isso?

- Eu não chamei ninguém. Eu juro.

- Não mente pra mim.- Ele gritou, apontando a arma para Guilherme.

- Não estou mentindo, eu juro.

Depois disso tudo se passou rápido demais. Ele mirando a arma para Guilherme, pressionando ora ou outra meu pescoço com mais força. O delgado Torres e o Sub delegado Prado – se somado os dois, não dá meio- tentando render o Dono da Tijuca.

Até que dois disparos foram ouvidos.


Espero que gostem!
Boa leitura! 💕



















Flagui: Love Of The GalaxyOnde histórias criam vida. Descubra agora