1997
Nunca consegui entender o porquê de tantos reis e rainhas se sentirem ameaçados pelos seus próprios filhos.
Olho para os berços postos lado a lado à minha frente. Minhas duas princesinhas dormem, seus cabelos ruivos começando a despontar na cabeça, tão lindas que me pergunto como puderam sair de mim. Minha beleza de que tanto falam não se compara à perfeição dessas duas garotinhas diante de mim. São lindas, cada uma ao seu modo, como a lua e o sol.
- Elas parecem tão em paz - comento com Henri, que encara uma pilha de papéis distribuídos pela mesa. Ele levanta a cabeça para me encarar e dá um sorriso fraco.
- Por que não estariam? - Ele vem em minha direção e passa o braço sobre meu ombro, juntando-se a mim enquanto olho nossas princesinhas. - Sabem que o papai não vai deixar que nada lhes aconteça.
Sinto um calafrio percorrer minha espinha e meu sorriso se desfaz. Não sinto confiança em sua voz, ele mesmo não acredita no que diz. Meu coração se aperta. Minhas pequeninas...
Ele sente a tensão de meus músculos e se vira para mim. Não esconde a preocupação no olhar, é sincero comigo e é o que mais amo nele.
- Vamos dar um jeito - tenta ele, puxando-me para um abraço.
- O que Lance disse sobre isso? - pergunto sobre o conselheiro real. Tem sido fiel a nós por muito tempo, sei que dirá sempre seus mais sinceros pensamentos.
Ele respira fundo antes de responder, dando as costas para mim e apoiando-se na mesa que há pouco trabalhava.
- Esses grupos extremistas estão impacientes, sabe como são cabeças-duras - afirma ele, esfregando os cabelos, onde crescem pequenos tufos brancos. - Faz parte da religião deles, gêmeos são uma abominação. São a divisão da alma entre o bem e o mal, e o mal não pode sobreviver.
- Minhas garotinhas não são más, Henri! - Aponto para as meninas no berço. - Olhe para elas.
Ele olha, e seu semblante se entristecesse ainda mais. Sei que não é isso que quer. Sei que carrega o peso dos problemas em suas costas, tentando agradar a mim e ao país ao mesmo tempo. Percebo que seu cérebro se movimenta a um ritmo acelerado a procura de respostas, mas sua postura decepcionada me prova que não está chegando a lugar algum.
- Esses grupos são muito influentes para simplesmente ignorá-los, ainda mais com o apoio de tantos nobres... - ele começa a dizer, mas somos interrompidos quando a porta do quarto se abre agressivamente.
O guarda diante de nós está sem fôlego e carrega um semblante preocupado, até temeroso. Sei que, se fosse algo casual, teria batido, e o frio pela minha espinha volta com tudo.
Henri gesticula para que o guarda se pronuncie, e este respira fundo antes de falar.
- Os radicais invadiram o castelo, cansaram de esperar. Estão aqui pela princesa.
Meu mundo cai diante de suas palavras e toda a esperança que tínhamos de resolver a situação se dissolve em um piscar de olhos.
Os olhos de Henri se escurecem e ele alcança a espada pendurada ao lado da cama. Não usamos espadas a não ser que seja uma formalidade. É uma arma bastante antiquada diante das que possuímos sob o comando dos guardas do castelo, mas o gesto parece fazê-lo sentir mais em controle da situação.
- Os guardas estão em suas posições? - pergunto um tanto apavorada, mas o que recebo são olhares penosos do guarda e do meu marido.
- Os radicalistas são, em grande maioria, filhos de nobres do conselho. Os guardas não querem arriscar - o segurança explica. Vejo Henri afirmar com a cabeça, ele nunca obrigaria seus homens a lutarem com suas vidas por suas causas pessoais. Sei que está certo, mas não posso deixar de me irritar. São as vidas das minhas filhas que estão em jogo. - Alguns deles se prontificaram a lutar contra os rebeldes, mas creio que não seja o suficiente, os invasores estão armados.
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A Impostora [Completo]
RomanceUm reino. Um príncipe. Uma escolha. Uma mentira. O reino de Costa Luna está ansioso para o noivado de seu príncipe, Peter York, com a bela princesa da França, Sophie Beaumont, mas durante uma viagem, ela desaparece misteriosamente. Chloe Bennet, a...