Capítulo 8

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Acordo com uma batida na porta. Abro os olhos com dificuldade e reparo que as cortinas já estão abertas. Isso significava que os criados já passaram pelo meu quarto. Minha cabeça pulsa em um ritmo ensurdecedor e me lembro da noite de ontem. Dos lordes pervertidos, do quase tombo, da minha conversa com...

Viro-me depressa para o lado em busca Peter, não me lembro dele indo embora. E se tiver passado a noite aqui? Mas a cama está vazia, assim como está todos os dias. Uma pontada de alívio e decepção percorrem minha mente e me pergunto de onde eles vêm.

A batida soa novamente e me forço a levantar da cama.

- Papai - digo surpresa ao vê-lo de pé na porta.

Ele não diz nada, parece lutar para encontrar as palavras certas. Sei que está sofrendo e também sei como é difícil para ele se abrir e demonstrar o que sente. Mamãe sempre foi a sentimental. Eram opostos e ainda assim tão felizes...

- Papai - chamo novamente. - Aconteceu alguma coisa? O que faz aqui tão cedo?

Seus olhos procuram os meus e ele abre a boca para falar, parece envergonhado. Sei que está tentando se desculpar, mas ele não precisa, nada disso é culpa sua, não quero que se sinta assim. Vê-lo dessa forma me machuca de maneiras que nem consigo explicar, e o peso da decisão que tomei recai sobre mim com toda a força. Ele foi tudo pra mim durante tanto tempo, odeio que sinta que falhou de alguma forma.

- Me desculpe, minha princesa - ele diz finalmente. - Estava tão cego pelo medo de perder você, como perdi sua mãe, que nem me toquei que fiz isso por conta própria.

Todo fardado e com essa postura de soldado nem parece que tem qualquer arrependimento sobre a vida. Sinto-me um monstro por tê-lo decepcionado, sempre fez tudo por mim, eu não tinha o direito de magoá-lo dessa forma, de fazer com que duvidasse de suas atitudes comigo.

- Não, papai, eu quem lhe devo desculpas. - Não posso suportar que se sinta culpado por algo, ergo meus braços e vou em sua direção. Ele me envolve. Senti falta de seu abraço, da sensação de proteção, do carinho e do amor. - Te decepcionei e não merecia isso, não depois de tudo o que fez por mim. Eu sinto muito.

- Não, minha querida, eu e sua mãe sabíamos que uma hora ou outra algo assim iria acontecer. - Ele ergue a mão e enxuga minhas lágrimas, que nem sei de onde surgiram. - Você é uma garotinha especial, e não conseguiríamos guardá-la só para nós mesmos. Sabíamos disso quando veio morar conosco, quando deu aquele seu primeiro sorrisinho para sua mãe, na noite que a levei para casa. Ela não se aguentava de alegria, não parava de falar sobre como era uma princesinha de olhos azuis. Me acordava todas as noites durante meses porque tinha medo de você acordar sozinha e achar que tinha sido abandonada. - Sorrio com a lembrança. Ela fazia questão de me beijar toda dia antes de sair para o trabalho, para me assegurar que logo estaria de volta. Um dia, ela simplesmente não voltou... - Sua mãe te amava muito, Chloe.

Pensar nela me dói até hoje. Lembro-me de todos dizendo que com o tempo a dor passaria, mas ela nunca passou. O tempo não a diminuiu, apenas me tornou mais forte para suportá-la.

Sinto tanto sua falta...

Penso em como ela reagiria se estivesse aqui, se acalmaria meu pai ou lhe daria razão. Não saber o que pensaria sobre o assunto me dá uma sensação de distância, como se meu tempo com ela não tivesse sido o suficiente para conhecê-la.

Senti falta de alguém para desabafar sobre meu primeiro amor, minha primeira desilusão amorosa...

Quando volto a prestar atenção no ambiente a minha volta, eu e meu pai estamos sentados frente a frente nas poltronas, e nem sei como chegamos lá.

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