Capítulo 10

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Posso ouvir as conversas vindas do salão e, no impulso de procurar algum garçom com uma bandeja de champanhe, olho para os lados. Mas não tem ninguém, somente eu e mais alguns guardas, um ao meu lado e três mais a frente escoltando a porta e esperando a deixa para eu entrar. Dylan é o guarda ao meu lado, e isso me deixa ainda mais apreensiva, se é que é possível... Ele me encara, posso sentir seu olhar cravado em mim mesmo com meus olhos focados em um pequeno arranhado na porta. Após um longo período, com o nervosismo e a insegurança a flor da pele, não aguento mais seu olhar preso em mim.

- Se não parar de me encarar, vou chamar o segurança.

Há um longo silêncio, mas eu mantenho meu olhar no arranhado da porta, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Talvez ele tenha ficado constrangido, ou talvez tenha ido embora.

Quem me dera.

Ouço sua risada por fim e viro a cabeça para ele irritada. Meus olhos encontram aqueles que, por durante tanto tempo, foram meu porto seguro.

- Qual é a graça?

- A graça, meu docinho - ele diz se aproximando, e eu viro meu rosto para frente novamente, apenas a tempo de sentir seus lábios colarem em minha orelha. - É que eu sou seu segurança agora - conclui em um sussurro.

Meu queixo cai, e agradeço por ele não conseguir ver meu rosto nesse momento. Mas algo me diz que ele sabe. Ele sempre sabe e sempre tira vantagem. Sinto-o sorrir em meu pescoço e me afasto quando suas mãos apertam a minha cintura. Olho para os guardas, mas eles estão muito concentrados encarando o nada para notar a cena que se desenrola logo atrás deles.

- Você não é meu segurança - é tudo o que consigo formular.

- Sou sim, docinho.

Não pode ser, se Dylan for mesmo meu segurança, a última coisa que vou me sentir perto dele será segura.

- Está mentindo.

Ele ri, gosta de se sentir no controle da situação. Dylan é assim, sempre precisa estar no comando das coisas.

- Não estou.

A cada frase ele se aproxima, com pequenos passos em minha direção. Eu me afasto, dando passos para trás sempre que chega mais perto. Só percebo o que está tramando quando já é tarde demais. Olho para trás e vejo que a parede está próxima, mas ele continua se aproximando, e é tudo muito rápido para que eu possa desviar para os lados.

Sou prensada contra a parede do canto mais escuro da sala, e quando olho em volta, os guardas não estão mais à vista, agora uma coluna nos separa. Sinto o pavor subir pelas minhas veias com a nossa proximidade e me pego temendo o que pode acontecer contra a minha vontade. Mas eu estou exagerando. É Dylan. Ele pode estar mudado e magoado, mas ainda é o Dylan. O mesmo Dylan que me abraçava forte quando eu tinha pesadelos depois que minha mãe morreu, que me fazia chá quente sempre que eu estava gripada, que me carregava de cavalinho quando meus pés já estavam cansados de tanto trabalho no castelo, mesmo quando ele mesmo também tinha trabalhado o dia todo. É esse Dylan que está na minha frente, não o Dylan ciumento e controlador.

Pelo menos é o que eu espero.

- Eu vou pedir para trocarem - afirmo, tentando soar determinada, mas minha voz sai mais como um sussurro.

Há uma movimentação por parte dos guardas, que provavelmente repararam na minha ausência.

- Princesa? - grita um deles. - Princesa, você precisa entrar. Onde a senhorita está?

Dylan não se abala com o fato de que logo os guardas nos encontrarão, pelo contrário, ele sorri ainda mais ao ouvi-los chamar. Seus lábios se aproximam dos meus, e prendo a respiração, preparando o joelho para chutá-lo lá caso chegue mais perto, mas ele não o faz. Seus lábios permanecem onde estão quando ele diz:

A Impostora [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora