Os olhos surpresos da rainha ainda me encaram, estão avermelhados e cheios d'água. Uma pontada de tristeza começa a crescer dentro de mim, e tento empurrá-la de volta, mas não tenho o menor controle sobre isso. Sou mesmo uma boba. Depois de tudo, e algo em mim ainda a enxerga como mãe...
Ela coloca apressadamente um pedaço de papel amassado dentro do livro que tem no colo.
- Meu nome é Chloe - corrijo. Não tenho a intenção de soar tão ríspida, mas acho que estou tentando é convencer a mim mesma a não sentir nada pela minha família biológica.
- Claro. Chloe. Sinto muito. - Ela soa decepcionada, e minha sensibilidade ataca novamente. Não precisava ter sido tão grossa.
- Tudo bem - eu a tranquilizo, tentando amenizar meu tom dessa vez. - Desculpe, não devia ter falado dessa forma. Acho que isso ainda é meio novo para mim.
Ela sorri, concordando com a cabeça.
- Sente-se - convida, batendo no espaço ao lado dela.
Eu me aproximo. Não sei mais o que estou fazendo, mas algo em mim simplesmente quer seu conforto. Sou mesmo uma boba por acreditar que ela me dará algum consolo.
Também está chorando, e minha mente parece mais preocupada do que deveria com isso.
Sento-me ao seu lado, e de repente, tudo parece seguir um curso diferente do que conheço. A visão do palácio mais ao longe me faz sentir deslocada, e algo em mim diz que a mulher ao meu lado se sente da mesma maneira.
- Costumava sentar aqui com minha mãe quando era menor... - Não sei muito bem porque digo isso, mas por algum motivo, sinto que posso confiar nela. Isso me assusta, mas inconscientemente me faz sentir segura. Simplesmente não consigo entender essa sensação.
Ela me oferece um sorriso, e até parece interessada.
- De fato é um lugar muito bonito - afirma ela, olhando para a paisagem a nossa volta.
- É sim... - concordo, juntando-me a ela. Uma lágrima solitária escorrega por sua bochecha, e mesmo sem o meu comando, meu coração se aperta. - Está chorando...
Ela sorri de forma simpática, com seu jeito todo delicado e elegante. Não aparenta ser muito velha, e sequer precisou de todas as plásticas que a rainha Victoria insistiu em fazer.
- E parece que não sou a única. - Ela aponta para meu rosto, e só então sinto as lágrimas em meus olhos. Não sei exatamente o que me deixa dessa forma, se é a lembrança da minha mãe, a visão de Dove caída com os olhos sem vida, ou mesmo a lembrança de Peter saindo do quarto com o semblante magoado. Talvez todos os três.
- É, mas isso é normal - informo enxugando as lágrimas. Ela ri. - Admito que sou uma chorona, e com a convivência vai perceber isso.
Ela me olha surpresa, um sorriso enorme se formando em seus lábios. Não entendo exatamente o porquê.
- Fico feliz em saber disso - afirma ainda rindo. - Mas deve haver algum motivo, mínimo que seja. Ninguém chora por motivo algum.
Seus olhos recaem sobre os meus, solidários, e eu simplesmente não quero mentir. Algo nela desperta uma confiança em mim que eu não quero sentir, mas também não consigo evitar.
- Acho que não sou forte o suficiente para isso - desabafo, alternando o olhar entre o chão e ela, que me olha atenta. - Você sabe. Isso. - Aponto para o nosso redor. - Ser princesa, as responsabilidades... os sacrifícios.
O dia de ontem se repete todo em minha mente em apenas alguns segundos. Sinto-me mais atordoada do que nunca, sentindo as agora tão familiares dores voltando aos poucos. O efeito do remédio está passando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Impostora [Completo]
RomanceUm reino. Um príncipe. Uma escolha. Uma mentira. O reino de Costa Luna está ansioso para o noivado de seu príncipe, Peter York, com a bela princesa da França, Sophie Beaumont, mas durante uma viagem, ela desaparece misteriosamente. Chloe Bennet, a...