Capítulo 1

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2017 (atualmente)

- Chloe! - meu pai grita do andar de baixo. - Estou indo!

- Ok, se cuide! - grito de volta.

- Você também, princesa!

Ouço o som da porta se fechando. Mais um dia de angústia. É assim que meu dia começa no castelo.

Vivemos na capital de Costa Luna, em Vila Áurea, que também é o lar da família real e todo o centro administrativo e econômico do país. Basicamente, é aqui onde tudo acontece.

Meu pai sempre levanta mais cedo para analisar e comandar as tropas reais, enquanto eu me preparo para as diversas atividades que me esperam pelo palácio. Mas bem, se você está pensando que somos a família real, não podia estar mais enganado. Meu pai adotivo é o chefe da segurança do reino, enquanto eu sou apenas a garota rejeitada pela família real francesa.

Lembro-me de quando descobri quem realmente era. Fiquei devastada.

Estava assistindo à TV quando vi a imagem de uma menina idêntica a mim. Lembro-me dos olhares de meus pais se cruzando e percebi que algo estava errado. Eles me contaram da melhor forma que puderam, mas nada amenizava a dor de ser abandonada pela minha própria mãe, ou de ter que ser abandonada pelo desejo do meu país - ou parte dele - em me ver morta.

Depois daquele ataque, há vinte anos atrás, muita coisa mudou. O rei não sobreviveu àquela noite, e a rainha perdeu duas das pessoas mais importantes em sua vida: O marido e a filha. Sophie era tudo o que tinha. A rainha, no entanto, ao contrário do reinado próspero e alegre que tinha com seu marido, se fechou completamente ao público. O reino não andava bem, até que ela foi forçada pelos nobres, pelo bem do país, a se casar novamente. O país precisava de um novo rei.

A rainha casou-se com o chefe do conselho, um homem que seguia os mesmos ideias dos rebeldes invasores, e com um novo rei, o país voltou a ter um reinado próspero. Sophie foi criada sob as influências do novo marido, e se tornou uma pessoa mimada e, de certo modo, distante aos olhos da mídia e do povo.

Nunca cheguei a me contentar com o fato de a rainha ter se casado com o mesmo homem que participou daquela noite. Que matou seu marido, e me expulsou do meu próprio país. Tive sorte de ter caído nas mãos do meu pai, e agora Costa Luna é o meu lar.

O meu segredo se espalhou um pouco depois que eu mesma descobri a verdade. Para a minha proteção, a família real e os funcionários do palácio foram informados sobre minha identidade. Afinal, eu convivo diariamente com eles, é possível que alguém ligue os pontos e delate à mídia, e esse é um modo de evitar possíveis incidentes. Todos assinaram contratos de confidencialidade, ninguém além dos limites do castelo pode saber sobre minha identidade.

Não é como se alguém se importe. No final das contas, não sou mais a princesa da França, nunca tive a chance de ser. Em Costa Luna, eu sou ninguém. Para a França, sou ninguém. Resumindo, eu não sou ninguém.

Com extrema relutância, levanto-me e vou até a janela, a vista é do jardim do palácio.

Nós vivemos em uma casa dentro do castelo, bem aconchegante, se querem saber. O rei foi muito generoso em nos oferecê-la, ao contrário da megera da rainha, que não queria abrir mão do lugar onde guardava os vestidos estragados dos quais se recusava a doar.

A realidade é que a família real não é tão ruim assim, é claro, se você excluir a rainha. O rei e os filhos não parecem ser de todo maus, apesar de não conhecê-los pessoalmente. É uma um palácio grande e o príncipe e a princesa mais velhos têm coisas mais importantes a fazer do que conversar comigo.

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