Capítulo 20

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As família real é deslocada para o evento em carros separados. O dia está claro, não há nuvens no céu e as flores das árvores desabrocham em cores vivas e alegres. Mas nada disso parece animar meu dia. Sinto como se estivesse sob um céu nublado e cheio de trovões.

A rainha e o rei tomam espaço no primeiro dos carros na fila, Clarissa e Emily ficam com o segundo, enquanto eu e Peter somos jogados no terceiro deles.

Será uma longa viagem.

Peter se senta logo a minha frente, com Antônia ao seu lado, concentrada na tela do celular como sempre. Ele nem olha na minha direção, apenas direciona a visão para o movimento do lado de fora da janela como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

Sinto-me mal por ele. Quero tocá-lo, quero perguntar se está bem e quero desesperadamente seu sorriso. Não sabia o quanto gostava de seu riso até sentir sua falta.

Os carros finalmente estacionam em fila em uma das ruas principais de Vila Áurea. Está inteiramente bloqueada e repleta de pequenas mangueiras por onde as tintas vão ser atiradas sem piedade em mim e no príncipe. Vamos ter que sorrir e simplesmente fingir que estamos nos divertindo muito e aproveitando a companhia um do outro.

Seguimos para o topo da rua para puxar a caminhada. Todos permanecem parados em suas posições esperando para que cheguemos até lá na frente. As pessoas sorriem para nós e acenam felizes e rindo, já cobertas de tinta.

Meu vestido simples de seda branca agora parece perfeitamente adequado, e já posso imaginar a expressão de Romeu ao se deparar com sua criação no final do dia. Torço para que não tenha se apegado muito, mas é Romeu. Ele se apega a seus vestidos da mesma forma que pessoas normais se apegam umas as outras. Arrisco-me até a dizer que considera sua coleção como uma família.

Alcançamos uma parte não pavimentada da rua, e os saltos começam reclamar do chão de pedra. Vejo o rei oferecer o braço para a rainha Victoria mais a frente, e um dos guardas faz o mesmo pela princesa Clarissa, que já parecia cambalear antes mesmo de chegarmos ao segmento esburacado. Peter olha para meus pés e depois para mim. Ele reluta para ficar longe e então respira fundo e desvia o olhar.

Quase tropeço em uma das pedras, quando vejo Conor surgir ao meu lado e tomar meu braço.

– Obrigada. – Sorrio para ele.

Seu passo desacelera para me acompanhar, e ele devolve o sorriso de forma sedutora. Dá pra perceber que faz isso de forma natural e complementa o seu estilo garanhão que  tanto adora portar.

– Sou um cavalheiro – ele se gaba.

Meus olhos desviam para o príncipe Peter mais a frente, que continua a caminhar como se nada estivesse acontecendo a sua volta. Surpreendo-me com o quanto o seu silêncio e sua indiferença me abalam. Odeia já ter me acostumado com essa sensação de aperto no coração.

– Acho que ele me odeia – digo ainda distraída. Connor me olha confuso, então segue meu olhar e acena com a cabeça, parecendo entender.

- Eu não sou assim tão solidário – ele afirma, mas não entendo onde quer chegar. – Se não fosse o olhar do Peter me fuzilando para vir te ajudar, eu provavelmente nem teria percebido, quem dirá oferecido. Cavalheirismo não é muito a minha praia.

- Está se saindo bem – garanto a ele.

Olho novamente para o garoto loiro que tanto estou apegada. Nem parece que se importa com o que acontece atrás de si. Talvez Connor esteja apenas querendo me fazer sentir melhor.

A Impostora [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora