Capítulo 34

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Antônia me passa o vestido enquanto Romeu desenlaça os saltos antes de me entregar. Minha maquiagem está ficando mais caprichada do que o normal, mas essa é uma situação fora do normal. A coroa que vou passar para Peter está sobre uma caixa de estofado azul. Nunca sequer toquei nela, ainda me parece estranho que me pertencesse todo esse tempo.

Sophie vai estar ao meu lado, mas ela representa a coroa francesa, enquanto eu fico com a de Costa Luna. Odeio o fato de que a rainha não terá nenhuma punição. Acho que mesmo querendo mudar as coisas, não se pode mudar o mundo... Ela ainda foi a rainha por muitos anos, e isso aparentemente vale alguma coisa aqui.

O vestido é lindo, assim como pesado. Ele não tem o mesmo estilo do verde que usei no baile de boas-vindas, é todo vermelho em um tecido de veludo. Meus cabelos ruivos se misturam ao traje, e pareço alguma habitante do reino do fogo. Romeu capricha na maquiagem, e meus olhos ficam escuros e expressivos, assim como o batom vermelho perfeitamente delineado na boca.

Não sei descrever o que estou sentindo no momento, sequer acho que estou pensando direito. Não caiu a ficha ainda que toda a verdade veio à tona, e que meu pai não está mais aqui comigo, assim como Peter não quer nem mais olhar na minha cara. Tenho medo do que pode acontecer se ele não me perdoar, tenho medo de nunca mais vê-lo.

A votação começou hoje de manhã. Todos os cidadãos do país estão indo às centrais de suas cidades para expor suas vontades, o que, tecnicamente, significa que o comando do país já está nas mãos de Peter, mas é preciso fazer oficial. Os votos serão contados, e no final de tudo, a decisão será entre manter a família York no poder, através do Peter, ou terminar seu longo reinado.

Max está deitado no pé da cama. Observa toda a movimentação com um semblante preguiçoso.

– Também cansado de tanta confusão, Max?

Ele me olha na mesma hora, joga a cabeça para o lado e levanta as orelhinhas.

– Às vezes eu juro que esse bicho entende a gente – Romeu diz, impressionado, apontando para Max.

– Quem disse que ele não entende? Não é, meu amor?

Max se levanta e arranha minhas pernas, pedindo colo. Eu o seguro nos braços, enquanto Romeu prepara mais alguma coisa que não consigo ver.

Pego uma das revistas jogadas em cima da minha cama enquanto espero Romeu terminar de ajeitar minha aparência. A matéria acaba comigo, diz que cheguei em Costa Luna e tomei a coroa para mim sem qualquer pensamento no povo, e que mal a adquiri, e já estou jogando fora. Com certeza é a mais maldosa delas, mas por algum motivo, a que mais tenho lido nas últimas horas.

– Para de ler essa porcaria. – Romeu tira ela de minhas mãos e arremessa no lixo. – Sabe que ninguém lê essa revista.

– Deveriam – digo, levantando o vestido com uma das mãos para descer do degrau. – Ela só disse verdades.

– Não é verdade e sabe disso. A megera destruiu Costa Luna e algo tinha que ser feito.

– Disse desde o início para eu ficar longe dela e não me meter em encrencas.

– Eu disse. – Ele aponta para mim, virando a cabeça. – Mas é uma teimosa que nunca me escuta e entrou em uma baita confusão com a realeza.

– Devia ter te escutado.

– Não deixou eu terminar.

Olho para ele.

– É teimosa e se meteu em uma confusão, mas confesso que disse aquilo porque não achei que daria conta.

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