Capítulo 23

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Peter me ajuda a entrar no quarto com uma mão enlaçada em minha cintura. Ainda me sinto um pouco fraca, mas nem se compara às últimas semanas que passei no castelo.

Uma mulher de cabelos já acinzentados se aproxima e desfaz a cama para que o príncipe me ajude a sentar. Ela se afasta obediente com as mãos atrás das costas e nos lança um olhar indiferente. Não consigo evitar sentir falta de Emma. Por mais que tente, não consigo sentir raiva dela, talvez tristeza, até certa pena. Empurro esse pensamento para o fundo da mente e me aconchego por debaixo da coberta.

- Precisa de mais alguma coisa, princesa? - a mulher pergunta em tom formal. Apenas nego com a cabeça, sentindo falta da minha antiga criada.

- Cuido dela hoje - Peter afirma a ela, percebendo meu desconforto. - Está liberada.

A mulher olha para ele meio relutante, mas diante do príncipe ninguém nega nada, ele será o futuro rei do país, não haverá ninguém mais poderoso. É isso que ele representa, e não me assusta mais. Todo esse poder nas mãos de Peter me dá segurança e isso é bom.

A minha nova criada fecha a porta atrás de si, e estamos, eu e Peter, sozinhos no quarto novamente.

- Não precisa realmente cuidar de mim se não quiser - digo, não querendo pressioná-lo. Queria pedir para ficar, mas não posso brincar com seus sentimentos dessa forma. Quero ele, mas não posso ter. Se ao menos arranjasse outra maneira... Posso tentar pensar nisso, não preciso desistir tão fácil. Mas por enquanto, eu preciso ser forte.

- Eu sei - ele afirma sorrindo. Um sorriso que faz meu estômago revirar e meu coração se acelerar dentro do peito como uma adolescente apaixonada. Ele traz em mim sensações que eu nunca sequer senti. Tudo em mim reage a ele, da sua voz, seu toque, até a sua simples lembrança. Seu sorriso é o pior com certeza. É minha perdição.

- Quer dizer que vai ficar? - Meu sorriso que não consigo conter me entrega. Não ligo. Não agora, pelo menos. Ele faz uma expressão confusa, tentando ler minhas expressões, e que se dane, estamos só eu e ele no quarto. Esclareço: - Quero que fique.

Ele sorri em resposta, e sinto seu entusiasmo. Peter gosta de mim, assim como gosto dele. O pensamento me deixa nas nuvens, e não me lembro de sentir assim leve já faz algumas boas semanas. O veneno estava mesmo me afetando de todas as formas.

Arrasto-me para o lado da cama e bato no colchão, convidado-o para se sentar ao meu lado. Ele obedece, sentando-se todo preocupado em não me balançar demais.

Um ruído soa da porta, e me parecem garras arranhando a madeira. Depois de um tempo, um focinho aparece por entre uma frecha da porta. Vejo suas patas baterem ansiosas na madeira, tentando empurrá-la, até que ela cede, e um cachorrinho preto invade o quarto, correndo em nossa direção. Ele arranha a calça de Peter, que sorri e o ergue no colo. Reconheço o pequeno de alguns dias atrás.

- É o cachorrinho da rua - digo, e Peter afirma, afagando sua orelha. O pequeno escuta minha voz e se vira apressado, pulando em cima de mim e me lambendo toda. - O que ele faz aqui? - Levo meus dedos ao seu pescoço curto e acaricio de leve. Ele parece gostar e se inclina quase todo para dar mais espaço. Peter e eu rimos.

- Ele... - Peter começa a dizer, mas é interrompido quando Emily também invade o quarto. Ela tem o rosto vermelho e a respiração descompassada. Inclina-se com as mãos no joelho, e esperamos ela recuperar o fôlego. O pequeno se reveza entre pular em mim e Peter, o que nos faz rir ainda mais.

- Ele... é muito... rápido - ela diz por fim. O bichinho a olha quase sorridente, como se não tivesse acabado de aprontar. Emily logo se derrete e corre até ele, deitando-se na cama entre Peter e eu.

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