Capítulo 37 - Penúltimo

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Cinco horas da manhã e já estou de pé. Nem sequer dormi direito. Custei a pegar no sono e agora já estou de pé.

Chloe e a viagem não saem da minha cabeça. Tudo o que eu queria era que as coisas podessem dar certo entre nós, poder estar com ela em meus braços agora. Pode não parecer, mas isso me magoa tanto quanto a ela, talvez até mais.

Quando olho para Chloe, consigo pensar em duas coisas. No como ela é linda, perfeita e tudo que eu quero para minha vida, e depois, a imagem dela com meu irmão toma posse e nunca mais desaparece.

O amor deveria superar tudo, não? O amor devia ser maior do que isso, ser maior do que qualquer coisa.
Será que o que sinto por ela não é amor? Eu podia jurar que era. Com certeza parecia...

Por que ninguém nunca definiu o amor? Como eu deveria saber se o que sinto é amor ou não se nem sei exatamente o que significa amar alguém?
"É algo que se sente...", "Quando se ama, se sabe...".

Bom, eu não sei. E mesmo se soubesse, não muda o fato de que não consigo olhar para Chloe sem imaginá-la com meu irmão. Foi há tanto tempo atrás... O problema é comigo, não com ela. Tudo está tão confuso e desajustado.

As horas passam teimosas e só às nove escuto os sons dos carros do lado de fora. Olho pela janela e vejo abraços e despedidas. Praticamente toda a vassalagem está ali para se despedir.

Pergunto-me por que ainda fico surpreso ao ver tantas pessoas. É Chloe, a meiga e adorada Chloe Bennet.
É difícil pensar que ela está deixando sozinha o castelo que viveu a vida toda. Não há pai para acompanhá-la, mãe ou irmã. Só Chloe e sua mais nova família de desconhecidos.

Sei que Chloe tem um coração grande, mas a conheço bem o suficiente para saber que ela deve estar se sentido um pouco solitária. E se tem uma pessoa que odeia a solidão, esse alguém é Chloe.

Quando o motorista guarda suas malas e abre a porta do carro para ela, ela sorri em agradecimento e se posiciona para entrar. Ela segura a porta do carro e olha para cima, parecendo procurar exatamente a minha janela . Seus olhos me encontram e ela sorri. Eu faço o mesmo.

Por um momento, tudo que vejo são seus olhos. Seu rosto desaparece, como tudo a sua volta. Quando minha visão volta a se ampliar, ela tem os cabelos curtos e as bochechas gordinhas e vermelhas. Chloe, ainda criança, corre pelo jardim do castelo com alguns dos filhos dos guardas. Parecem brincar de uma espécie de pega-pega. Ela chama a atenção pela cor dos cabelos, e diferentemente da maioria das meninas a sua volta, ela não se importa em correr desgovernadamente atrás dos meninos para derrubá-los.

Estranho quando David me belisca e me repreende para voltar minha atenção para a aula, e desvio meu olhar da janela. Olho para frente, e por alguma razão, estou em frente a antiga estufa do castelo. Dou alguns passos em direção a entrada e escuto risadas. Um pouco a frente, vejo Chloe, já com os cabelos castanhos em seus plenos quinze anos. Tem algo mais agora, algo a mais do que quando era criança... Tem atração. Algum garoto faz cócegas em sua barriga, e ela se contorce em risadas.

– Para, Dylan! – ela grita entre os risos. – Vai me fazer fazer xixi nas calças.

O garoto finalmente para e a envolve com os braços. Os risos cessam e eles sorriem um para o outro. Os dois se inclinam em direção um ao outro para um beijo, e dou meia volta. Aquela cena marcou a minha cabeça, e a partir daquele momento, o Peter ingênuo e sonhador pareceu desaparecer.

Uma escuridão toma posse. Posso ouvir um choro vindo de algum lugar, que vai se ampliando à medida que sigo o som pelos corredores do castelo. Finalmente vejo Chloe sentada, encolhida em um canto, ela segurando a cabeça de forma estranha. Quatro anos se passaram já, o ar alegre e quase infantil não existe mais, assim como a paixão platônica de adolescente que foi se dissolvendo ao decorrer desses anos. Durante esse meio tempo, ela já viveu muito, assim como eu. Ambos namoramos, ambos sofremos, ambos amadurecemos.

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