Capítulo 30

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Não sei quanto tempo leva depois que Javar me leva do castelo. Não ligo. Nem consigo mais chorar. Tudo o que consigo fazer é respirar com dificuldade dentro do saco preto em que minha cabeça está. A imagem do meu pai não sai da minha cabeça, passa repetidamente como um filme em loop infinito.

Ela disse que tiraria mais de mim se continuasse com Peter, não dei ouvidos. Agora, meu pai está morto, caído entre Connor e Joey, que também não sei se vão sobreviver. Tudo culpa minha, tudo culpa da minha insistência de querer ter tudo. Não podia ter Peter e não aceitei isso. É tudo culpa minha.

Posso sentir o sangue já seco em minhas mãos. Joey e Connor não precisavam ter pagado por isso também.

O carro para em uma estrada que parece de barro. Ouço as portas batendo e o carro balança. Sou puxada com força para fora, mas ninguém tira o saco da minha cabeça. Eles me arrastam por uma escada, e por fim, me jogam no chão com toda a força. Meu joelho e as palmas das minhas mãos ardem em resposta, mas eu realmente não ligo. A porta se fecha novamente em um estrondo, e então um silêncio reina.

Ouço passos na minha direção, mas desta vez não parecem pesados, parecem contidos. A primeira coisa que penso é que existe mais alguém preso nesse lugar, assim como eu. Esse pensamento me dá um pouco de esperança. Se hão outros prisioneiros, significa que eles não pretendem matar imediatamente.

Mãos delicadas me ajudam a tirar o pano que envolve meu rosto. A visão fica turva, além do lugar escuro, que não ajuda. Demora alguns segundos para que meus olhos consigam focar na pessoa a minha frente. O primeiro traço que consigo distinguir são os cabelos ruivos, ligeiramente mais longos do que os meus. O rosto então aparece, seguido de um vestido que algum dia já deve ter sido bastante luxuoso. Ela sou eu, apenas mais suja e acabada.

– Sophie?

Olho ao redor. Não diria que estamos em uma masmorra, mas está longe de ser um hotel cinco estrelas. O lugar é básico, com duas camas de madeira quase aos pedaços e paredes que um dia acho que foram brancas.

– Louise – a menina a minha frente diz. Ela não parece chocada, não como eu, pelo menos.

– Sabe quem eu sou?

– Claro que sei. – Ela tem o mesmo sotaque francês carregado que a rainha Annie. – É igual a mim, não existem muitas possibilidades.

– Pensei que estivesse morta...

– Diria o mesmo sobre você, se não fosse as revistas que eles trazem para mim. – Ela aponta para uma pilha de revistas e jornais no canto do quarto. – Teve muito trabalho para se passar por mim nesses últimos meses.

– Não foi ideia minha...

– Eu sei, conheço o mundo em que vivo.

Ela estica o braço e segura as minhas mãos, procurando por ferimentos. Nem acredito que minha irmã está parada a minha frente, me tocando, me olhando. Ela é exatamente como pensei que seria, mas ao mesmo tempo, é uma sensação totalmente nova. Vi-a em fotos e vídeos, mas ao vivo, é como se eu nunca tivesse visto esse rosto antes.

– Javar me trouxe – digo a ela, que não acompanha meu raciocínio. – Achei que fosse porque não obedeci a rainha. Achei que ela estivesse por trás disso, mas se você está aqui, isso quer dizer que estou errada, que isso vai muito além de Peter e eu.

Ela respira fundo, larga minhas mãos no meu colo e vai até sua cama. Ela se estica para pegar uma garrafa de água e trás de volta para mim.

– Não está errada – ela afirma. – Foi a rainha, só não pelo motivo que está pensando. Você e Peter estão... tipo, de verdade?

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