Capítulo 24 (Príncipe)

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Chloe me entrega a pasta parda com os olhos apreensivos. Sinto seu receio pelo modo como se move lenta e pausadamente. Fico surpreso com o quanto a conheço só pelo olhar e não sei exatamente quando ficamos assim tão próximos. Foi tudo tão sutil, ela simplesmente chegou e aos poucos foi se tornando essa pessoa que é tão importante para mim agora. 

– A verdade. – É tudo o que diz quando a questiono sobre o envelope. Espero mais alguma explicação, mas ela nem se move, nem mesmo acho que está respirando.

Seguro firme o envelope em minha mão e vejo Chloe puxar todo o ar para seus pulmões quando abro a pasta cuidadosamente. Um emaranhado de fotos se espalham soltas dentro dela, e custo a perceber do que se trata. Uma mulher jovem está caída no chão com os membros desfalecidos e um olhar vidrado no horizonte. Logo abaixo de sua garganta, um corte profundo se mostra impiedosamente. A brutalidade das imagens me causa certa repulsa, e quando levanto o olhar da pasta, Chloe está em minha frente com os olhos marejados.

Não pergunto do que se trata, não peço explicações, apenas a abraço o mais forte que posso. Não ligo para o porquê ela tem essas fotos guardadas. Não sei por quê, mas em momento nenhum minha mente desconfia dela. Ela é sempre tão pura, linda e inocente. Ela é minha ruiva, e minha ruiva não é capaz de nenhum ato repugnante minimamente ligado a isso.

Chloe corresponde ao abraço, e com o passar do tempo, sinto-a perder as forças em meus braços. Seguro nela com mais firmeza, mantendo-a de pé, que agora chora com tudo que tem. Não a solto até que se acalme, quando sinto seus pés firmes no chão, e ela se mantém de pé por conta própria. Chloe enxuga o rosto com a manga do vertido e me encara com aqueles intensos e brilhosos olhos azuis. Perco-me um pouco na imensidão deles, e quando ela finalmente cria coragem para falar, é quando volto a realidade.

– Era amiga da minha mãe. – Ela aponta para a pasta, desolada. – E minha professora de dança.

– Por que tem isso? Quem...?

– Não posso contar tudo – ela se apressa a dizer, seus olhos fixos nos meus como se, de algum modo, dessem a ela segurança. Gosto de ser seu porto seguro. – Não posso dizer quem, mas posso dizer o porquê.

– Alguém te fez mal? – pergunto com o coração apressado. Tenho medo por ela, tenho medo de algo acontecer a ela mais do que posso aguentar, e isso me assusta, mas não tenho tempo para esse tipo de conflito interno. – Foi a mesma pessoa que te envenenou?

Ela nega, ainda chorosa com os braços ao redor do corpo. Sempre a vi de modo frágil. Sei que não é assim que ela age, e sei o quão forte Chloe é por tudo que já passou, mas não posso impedir o meu lado oculto que sempre quer protegê-la. Quero abraçá-la, mas não o faço. Vejo que ela quer terminar de falar e luta contra as próprias palavras, então apenas espero no lugar até que se disponha a falar.

– Não posso estar com você, Peter. – Ela aponta para a pasta. – E esse é o motivo.

– Não consigo entender qual a ligação entre o que tem nessa pasta e nós dois.

– Não querem nós dois juntos, e esse foi o aviso.

– Quem não quer, Chloe?

Ela para um segundo e dá um soluço esganiçado. Se ela não me disser quem a está ameaçando, não tem como ajudá-la.

– Tem que confiar em mim, Chloe.

– Eu confio – ela garante, e não sei o porquê de tanto segredo. Seja quem for, vou impedir. Ninguém vai machucá-la dessa forma e sair impune. – Vai atrás da pessoa e isso só vai piorar as coisas... Isso se for atrás.

– Mas é claro que vou. – Seus olhos me encaram amedrontados, e é óbvio que o pensamento a assusta. – A pessoa que fez isso é uma assassina, Chloe. Ela te ameaçou. Não me importo quem seja, vai pagar pelo que fez. Pelo que está fazendo.

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