A Impostora [Completo]

Capítulo 4

- Trouxe a senhorita Bennet como me pediu, Alteza - ele informa, parado diante da porta com as mãos atrás do corpo.

Ele olha para mim, pedindo com as mãos para que eu me aproxime. Eu o faço.

Estão todos da família reunidos, assim como o ministro, que se senta na outra extremidade da mesa, contrária a do rei. Eles olham para mim.

- Sente-se - ordena a rainha, apontando para uma cadeira vazia ao lado de Peter. Sinto que estou sendo convidada para entrar em uma jaula de leões. A ideia de aceitar parece tão absurda quanto essa.

O príncipe se levanta e puxa a cadeira para que eu me sente. Olho para ele apreensiva, pedindo em silêncio que me diga o que está acontecendo. Ele não diz nada, sequer faz algum sinal, apenas empurra a cadeira mais para a mesa e se senta novamente no lugar.

Emily está a minha frente e me acena animada. Parece alheia a toda tensão que rodeia a mesa de jantar, e me esforço para lhe dar o meu melhor sorriso, acenando de volta.

O almoço é servido sem que eu, Peter, Clarissa ou Emily digamos uma palavra. O rei, a rainha e o ministro conversam sobre assuntos diversos, como o arrecadamento de impostos, o descontentamento do povo com o aumento de preços e as reformas que devem ser feitas no castelo.

Estranho o modo como todos eles parecem contentes e despreocupados. A princesa está desaparecida, e quando o povo descobrir, haverá uma enorme repercussão negativa.

Em meio ao bando de assuntos que os chefes de governo discutem, está a estátua dos primeiros monarcas de Costa Luna, a mesma que o príncipe havia me mostrado no dia em que me deu carona. Pelo que entendo da conversa, a rainha e o primeiro ministro desejam derrubá-la para construir uma nova, uma dos atuais rei e rainha. E é nesse momento que o príncipe se manifesta.

Começa então uma enorme discussão, que se divide entre o rei e o filho, e a rainha e o ministro. Peter tenta convencer a mãe de que derrubar a estátua é uma péssima ideia, enquanto o rei apoia o filho, embora não discorde da rainha diretamente. Pode ser o rei do país, a pessoa mais poderosa, mas segue as ordens da esposa como um cachorrinho perdido.

- O que acha, Chloe? - pergunta o rei para mim, pegando-me de surpresa.

- Seja sincera, seria bom saber a opinião do povão - acrescenta o ministro, que recebe uma revirada de olhos do príncipe.

- Não seja desagradável, Robert - repreende o rei. - Por favor, Chloe, prossiga.

Não me atrevo a dizer nada, não quero me meter em problemas ou desagradar os reis. Não concordo com seus métodos, mas discordar deles tão diretamente pode me causar problemas mais tarde. Ainda não sei porque estou aqui e não quero arriscar. Talvez saibam da minha noite com o príncipe ou da minha conversa com a princesa Clarissa e só querem um motivo mais coerente para me punir. Desacato seria uma ótima pedida.

Meus olhos captam os de Peter. Vejo sua mandíbula contraída e sua expressão irritada. Está claro que está nervoso por não ser ouvido e que se importa com essa estátua. Isso, de certo modo, me comove e me deixa irritada com os reis. Não sei porque tal olhar me deixa dessa forma, mas simplesmente não consigo ficar calada.

Não me importo, já não sou boa nisso mesmo.

- Eu acho que aquela estátua significa esperança para o país. O povo sabe que o reino está passando por um momento de instabilidade econômica, eles têm noção disso. Tirar aquela estátua deles agora pode acabar com o resto de confiança que eles têm em vocês. É a ela que eles procuram quando precisam acreditar que tudo vai se resolver. Quando as fazendas onde trabalham são tiradas deles para que as terras possam ser dadas aos nobres, que sustentam o luxo da realeza; quando seus filhos estão passando fome ou estão doentes porque o governo tem mais o que fazer do que fornecer a eles remédios ou qualquer comida que seja. - Estou sem fôlego e completamente atônita com a minha coragem. Vou me dar mal por isso. Amanso meu tom antes de continuar. - Tirar aquela estátua seria errado.