Jade
Eu pisco algumas vezes, encarando aqueles dois pequenos seres diante de mim e aqueles dois machos.
— Não os conheço. -digo.
Mas as crianças... Uma sensação forte de amor e proteção emanou em meu peito quando as encarei.
Eu encaro Aron.
— Irmão, o que tinha para ser resolvido foi resolvido, a ameaça está eliminada permanentemente. -falo.
— Que bom que está de volta, que voltamos. -ele suspira.
Eu assenti.
— Mas por que você não lembra dos seus filhos? -ele questiona.
— Filhos!? -arregalo os olhos, encarando as duas crianças.
— Sim, estes são Nyx e Selene, seus filhos. -ele diz.
Eu fito as crianças por segundos longos.
— Não recordo. -sacudo a cabeça.
— Nem dos seus parceiros? -ele aponta para os machos.
Eu fito os mesmos e faço careta.
— Eu deveria lembrar? -pergunto.
— Sim! -ele assente.
— Não me lembro. -falo.
Eu me movo, fazendo assim as crianças me largarem e me encararem confusas.
— Ela está brava com a gente? Tio Aron. -pergunta a garotinha, Selene.
— Não, meu anjo, sua mãe só não está muito bem, ela precisa descansar. -ele disse.
Eu o encaro, descansar para quê?
Me sinto perfeitamente bem.
— Tem algum relatório da corte dos pesadelos que preciso ver? -pergunto, caminhando até o escritório.
— Por que ela não lembra de nós? -questiona o macho de olhos violetas.
— A deusa da lua sempre cobra por suas bênçãos, de um jeito bom ou ruim, talvez o preço que Jade teve de pagar sem saber a ela tenha sido a sua memória. -disse meu irmão.
Ouço engasgos.
— Então ela não lembrará de nada!?? -exclama o macho envolto de sombras.
Um suspiro.
— Talvez sim, com toda a certeza. -ele suspira.
— Pela mãe, isso é muito sério, Aron.
— Eu sei, mas se a memória da Jade não vai voltar deva ser porque a deusa da lua achou as memórias muito turbulentas e traumáticas e resolveu pegá-las para si, talvez vocês possam fazer a única coisa a respeito disso. -disse Aron.
— Que seria?
— Construir novas memórias com ela, memórias boas, façam memórias boas e felizes com a minha irmã.
— Mas as cri...
— Crianças, podem ir brincar com o Stiles lá fora?
— Tá bom, tio Aron.
Ouço passos correndo, até não ouvir mais nada.
— Por que a deusa achou as memórias da Jade traumáticas??
Silêncio..
— Ela matou sem querer a melhor amiga dela, ela transou com Rhysand enquanto estava sonâmbula, ela teve que lidar com dois laços de parceira e a rejeição das irmãs. -meu irmão começa a contar nos dedos.
— Mas as crianças..
— Ela não queria ter as crianças e foi obrigada a ter, mesmo que tenha aceitado e as amado, ainda assim foi um trauma que ela passou ao ser forçada a gerar e dar a luz. -ele sussurra muito baixo.
Silêncio.
— Tem razão.
— E o que faremos?
— Construam memórias boas com ela. -disse Aron.
— Começar do zero? -questiona o envolto de sombras.
— O quão bons são em cortejar? Cortejem a minha irmã e criem novas memórias com ela, vocês e as crianças, façam a Jade ter memórias boas. -ele disse.
Eu me sentei diante da mesa de escritório e fitei um ponto da parede, sentia que algo faltava em mim, talvez raiva, caos, mas eu não sentia aquilo.
Aquelas crianças são meus filhos e aqueles machos são os meus parceiros?
O que raios significa ser parceiro? Por que diabos eu não lembro deles?
Eu bato o punho na mesa, frustrada, ouço risadas do lado de fora e me ergo, afasto a cortina da janela e posso ver as duas crianças brincando no jardim com um grande lobo, reconheci, Stiles.
Os observo pelo o que pareceram minutos longos, filhos.
Eu sacudi a cabeça para isso que não tem o menor fundamento, se as crianças não parecessem tanto comigo eu poderia negar até a morte os laços de sangue, mas elas se parecem até demais.
Baguncei meus cabelos e me viro, me deparando com dois pares de íris avelã brilhantes e violetas cheias de estrelas.
— Olá, Jade, querida, sou Rhysand. -o de olhos violetas dizem.
— Sou Azriel, marrenta. -O envolto de sombras se curva levemente.
Eu pisco algumas vezes.
— Pode não lembrar de nós. -diz Rhysand.
— Mas vamos começar do zero, tudo. -diz Azriel.
Eu cruzo os braços.
— Vamos começar? A parceria é uma espécie de laço mágico entre almas gêmeas....
Eu ouço a explicação e devagar eu observo cada um, por mais que tentasse não me lembrava de nenhum e duvidava que algum dia chegasse a lembrar.
Mas quando fito ambos os olhos algo estala em meu peito e sinto um fio de estender para ambos os machos. Um fio azul cobalto que se misturava com o violeta.
Não sabia o que isso queria dizer mas algo em mim dizia que era certo, e que com eles eu poderia não recobrar a memória, mas sim construir uma nova, com eles e aqueles dois pequenos seres que estavam lá fora.
O que parecia estranho continuava a permanecer assim, estranho, mas ele poderia se tornar familiar com o recomeço.
Um recomeço para a alma liberta dos espinhos e rosas.
Um recomeço para o rosto bonito que deixou de ser fera.
A redenção e recomeço para a bela.
Eu encaro a escrivaninha, onde a última pétala da rosa tocou a mesa.
E banhada de sangue e guerra, a maldição havia chegado ao seu fim.
Fim
*Obrigada para quem acompanhou a jornada de patadas, fechos e lacres da nossa grã-senhora e rainha da porra toda, Jade Archeron 🛐 aqui encerramos a jornada da nossa personagem que com esse fim começará o seu recomeço sem pesos nas costas, obrigada por cada voto e comentário, e até a próxima história ☄️*.
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Corte De Névoa E Vidro
FantasyJade Archeron, a mais nova dentre as três irmãs Archeron, a sonhadora cheia de vida e alegria, tem sua vida mudada completamente quando sua irmã é levada por uma besta horrenda feérica, sendo praticamente "rejeitada" pelas irmãs ela se vê em busca d...