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50 comentários nos trazem de volta amanhã, se não a gente se vê na segunda
História co-escrita com Kami_Cavalcante
A Luísa que tinha ido ao banheiro não foi a mesma que se sentou na minha frente. O sorriso de antes já não estava em seu rosto. Ela parecia realmente chateada.
— Podemos ir embora? — Ela bebeu um gole da taça de vinho que havia acabado de chegar, enquanto olhava fixamente para a bebida.
— Aconteceu alguma coisa? Tem alguém aqui? — questiono já imaginando a minha noiva no restaurante e pensando em como explicarei essa situação sem constrangimento para Luísa.
— Eu apenas descobri que não sou tão forte como penso. Essa situação... me deixou exposta. Não gosto disso.
— Está bem. O problema é comigo? Eu fiz ou disse algo que...
— Uma senhora me confundiu com um funcionário e ainda por cima disse que pessoas como eu não deveriam sequer estar aqui — comenta parecendo desamparada. — E não é a primeira vez que isso me acontece, mas nunca é fácil...
— Desculpa, eu não entendi. Pessoas como você? — A encarei, ela estava linda.
— Pessoas negras, Felipo. Preciso desenhar? — Ela coloca a taça sobre a mesa.
— Quem disse isso? — Aquilo me atinge como se fosse comigo.
— Não é relevante quem disse. — Ela sequer me olha nos olhos como sempre faz questão de fazer. — Mas foi aquela senhora perto da saída.
Ela está triste e tristeza não combina com ela. Essa não é a Luísa, o seu sorriso ilumina tudo e quem quer que seja o responsável por tirar o sorriso de seu rosto lhe deve, no mínimo, um pedido de desculpas.
Tento levantar-me decidido a fazer com que a mulher se desculpe com Luísa, mas ela me segura.
— Por favor, Felipo, não sei por que está agindo dessa forma. Não é como se a sua noiva não fizesse o mesmo sempre que tem oportunidade e pra você está ok.
Engulo em seco e antes que eu realmente processe tudo aquilo, a mulher vai embora. Lembro-me do primeiro contato que vi entre Luísa e Maria Helena. Luísa reclamava justamente sobre o racismo da minha noiva, mas eu sequer me movi e agora nem sei se foi pela surpresa de ver a até então desconhecida com quem eu tinha passado a noite anterior.
— Luísa eu...
— Não me peça desculpas, você apenas se calou.
O garçom serve tagliata de chorizo e comemos em silêncio, meus planos eram levar ela em casa, mas não era o suficiente.
Saímos de lá e a convidei para irmos ao teatro Bradesco, havia ali uma apresentação que protelei o suficiente para ir ver. A achava piegas e romântica, duas coisas que não cabiam de forma alguma com a relação que eu tinha com Maria Helena.
Candlelight é uma apresentação mágica por si só, mas ouvir clássicos em uma apresentação de uma orquestra à luz de velas segurando a mão de Luísa que sorria a cada vez que um acorde era executado, era algo único.
Transamos no carro assim que saímos de lá e paramos em uma rua escura, minhas costas ainda ardiam pela experiência da tarde, mas jamais abriria mão de ver Luísa tão fogosa rebolando em meu pau.
Assistimos o nascer do sol numa rodovia nos arredores de São Paulo; ela era ainda mais linda com cara de exausta. A deixei na porta de casa às oito horas da manhã, depois, claro, de passarmos por uma padaria e ela levar o pão para casa.
Não fui convidado a entrar.
E juro, teria me esforçado por uma terceira vez.
Apesar de cansado, não dormi. Tomei um banho e saí decidido a dar um basta. Eu não poderia me casar com Maria Helena e na noite anterior Luísa me fez enxergar isso sem nem mesmo tentar.
Cheguei na casa dela por volta das onze horas, o jardineiro fazia arranjos na sala sob o olhar insatisfeito de minha noiva.
— Quando formos para a nossa casa, vou contratar um jardineiro mulher. — Sequer me cumprimenta antes de começar. — Acho que agora que inventaram a moda de direitos iguais, uma mulher pode ser uma boa coisa.
— Você não é mulher, baronesa?
— Sim, mas meu sangue é nobre e...
— Não há sangue azul no Brasil — disparei, estava exausto daquela mulher sem empatia e com pensamentos mais arcaicos que minha avó.
— Isso vindo de você é uma empáfia, bem que sua mãe se arrepende de ter criado você aqui — resmunga. — O Brasil é até bonito, mas falta educação; na Europa... — Ela não cansa de se ouvir falar merda. — Na Europa não é assim. Bem que papai falava que o erro dos Albuquerque é não levar as gestantes para que as crianças nasçam em um país de primeiro mundo. Não é à toa que eu nasci na Áustria.
— Nasceu lá e foi criada aqui, qual a diferença? — Olhei as flores frescas no vaso, eram bonitas e uniformes, não havia motivo para ela não gostar do trabalho do jardineiro, mas ela não conseguia ver um único trabalhador feliz sem tornar a vida dele um inferno.
— Não sujei meu nascimento. Rapaz, largue essas flores aí, não está vendo que seus patrões estão conversando? Ou quer participar da conversa?
— Desculpe, senhora.
O rapaz saiu mais rápido do que um raio.
— Viu só? Cada serviçal que a gente é obrigada a aturar... — Ela suspirou como se aquilo realmente fosse um grande problema.
— Maria Helena, a gente precisa conversar. — Fui o mais sucinto possível.
Eu não conseguiria casar, nem mesmo se fosse de fachada. Éramos completamente diferentes. Eu sequer conseguia ficar no mesmo ambiente que ela por cinco minutos sem querer me atirar de uma ponte.
— Alguma coisa séria? — ela piscou algumas vezes.
— Sim!
— Relacionada ao casamento?
— Sim. — Ela me encarou e disse alegremente.
— Eu não vou me estressar com você antes do meu desjejum, papai diz que isso causa rugas. Qualquer estresse deve nos encontrar de barriga cheia.
A segui para a sala principal; o café foi servido para nós dois, uma mesa opulenta e farta para que eu olhasse Maria Helena mordiscar queijos e frutas.
Tomei uma única xícara de café preto, esperei ela terminar, subir e se trocar para aí conversarmos como adultos. Ela poderia me enrolar como quisesse, eu sairia dali solteiro.
Maria Helena desceu calma, com seu vestido nude que a deixava ainda mais magra.
— Vamos conversar...
Suspirei aliviado. Era o final daquele pesadelo que já durava dez anos.
— Acho que nós...
Fui interrompido por uma das empregadas da casa.
— Senhora Maria Helena, sua convidada chegou.
— A peça para entrar. — Ela ergueu a sobrancelha para mim em tom de desafio. — Continue, Felipo...
— Acho que nós não temos nada em comum, eu quero acabar com isso, precisamos romper...
— Felipo! — Olhei para trás e vi minha mãe apoiada em sua bengala de carvalho e ouro.
Nesse momento eu fui surpreendido, Maria Helena se jogou aos pés da minha mãe enquanto chorava copiosamente.
— Viu, dona Ludmila? Ele quer romper comigo! Depois de tantos anos em que eu o espero...
— Ele não vai, a palavra do pai dele merece ser honrada.
A cena seria comovente se eu não reconhecesse a armação de Maria Helena.
— Levante, Maria Helena — pedi. — Isso é entre nós dois, mamãe não tem nada a ver com isso.
— Dona Ludmila, ele quer romper comigo porque se encantou com a criadagem. Ontem uma conhecida viu seu filho no Joise com uma negrinha e a dona Cila o viu no teatro Bradesco de mãos dadas com essa mulher.
— Felipo, nós não o criamos dessa forma, o seu pai... — Vejo minha mãe desmaiar e por pouco consigo pegá-la antes que atinja o chão.
Se antes eu não sentia nada por Maria Helena, agora sentia asco. E nada nesse mundo me faria casar com ela, nem mesmo a palavra do meu pai.
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Na cama com um Bilionário
ЧиклитNoivo há quase uma década, Felipo não sabe mais o que fazer para continuar evitando o casamento. Parece que finalmente chegou a hora de dizer o temido "sim" no altar. Numa noite de fugas, ele acaba na cama com uma desconhecida, um incidente que par...