Estamos em finalização, voltamos na segunda.
História co-escrita com Kami_Cavalcante
LUÍSA
Nunca algo me doeu tanto quanto me despedir de Felipo. Nossos últimos momentos juntos só seriam mais perfeitos se não fossem os últimos. Mas eram.
Retornei a São Paulo sem segurar meu choro. E quando cheguei a casa dos meus pais, minhas lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto. Minha mãe havia saído para sua caminhada autorizada pelo médico, minha irmã tinha ido para a escola e apenas meu pai estava em casa.
Como uma criança, deitei-me em seu colo e contei tudo a ele enquanto chorava de soluçar. Pacientemente ele me ouviu enquanto fazia carinho nos meus cabelos, sem me julgar, sem me interromper.
Quando terminei de contar tudo o que havia acontecido, meu pai fez apenas uma pergunta:
— Você o ama, Formiguinha? — Usa o apelido que me deu quando criança por conta do meu quase vício em doces quando ele começou a namorar a mamãe.
— Com todo o meu coração, papai!
— Não pode simplesmente ignorar o que sente.
— A mamãe quase morreu por causa dessa história, papai — argumento levantando e sentando ao seu lado. — A Laura ainda não voltou a falar comigo depois disso. Não posso arriscar perder vocês por causa dele.
— Formiguinha, não há nada que possa fazer que nos faça deixar de amar você! — garante. — Desde o dia em que te conheci, soube que você seria uma mulher incrível, que me daria muito orgulho. E é isso que você faz todos os dias. — Ele segura minhas mãos entre as suas. — Você é maravilhosa e o que decidir fazer eu vou te apoiar. Sua mãe e irmã também. Elas podem até não concordar, mas as duas te amam, assim como eu, e vão apoiar você, tenha certeza.
Quando saí, minha mãe ainda não havia voltado, mas a conversa com o meu pai conseguiu deixar meu coração mais leve, apesar de tudo. Eu não poderia ser de Felipo, nem ele poderia ser meu, mas sabia que, ao fazer isso, eu não estava traindo a pessoa que sou, a pessoa por quem ele se apaixonou e a pessoa que meus pais criaram.
~*~
Mesmo com o coração aceitando a situação, não tornou mais fácil organizar aquele momento. Repassar todos os detalhes da cerimônia e da festa. Cumprimentar os convidados pomposos e familiares, inclusive a família real.
Cada flor estava onde deveria estar, então por que eu me sentia tão triste ao fazer o certo?
Nem mesmo o remédio que tomei diminuía a minha dor de cabeça.
O meu trabalho estava impecável, a igreja lindíssima. Olhei de um ponto cego Felipo entrar na igreja caminhando com a mãe, mais uma vez tentei me convencer que aquilo era o certo. De onde uma mulher sai chorando outra não vive sorrindo, não é?
Maria Helena entrou e o olhar dela cruzou com o meu, havia um ar de vitória no sorriso que lhe brotou dos lábios. Eu não consegui sentir raiva dela naquele momento, pois eu também achava que ela havia vencido, e se eu pudesse ter Felipo eu também comemoraria.
Naquele momento saí do lugar em que estava e fui para trás da igreja, não queria ver ele casar com outra, mas eu precisava. Quando vi o padre perguntar que se alguém tivesse algo contra eu quis levantar a mão, quis gritar que meu coração sangrava, mas eu faria o certo.
O silêncio dominou o ambiente; quem, em sã consciência, separaria um casal tão bonito? Quem, além de uma mulher vulgar?
— Eu tenho, padre! — A voz máscula e rouca bradou ao meu lado.
Os momentos seguintes foram simplesmente surreais. Enquanto um homem alto, forte e de cabelos escuros, usando roupas simples, diferentes de todo ali, se aproximava do altar, a noiva parecia desesperada enquanto Felipo tentava segurar a risada. Assim como eu, a maioria não entendia exatamente o que estava acontecendo.
— Alguém tira esse serviçal daqui! — a baronesa sorri nervosa e então percebo que, na verdade, se trata do jardineiro dela. — Ele, com certeza, não sabe o que está fazendo!
Tento fazer o meu trabalho, mas Felipo nega discretamente com a cabeça, mesmo que atônito.
— Você sabe que não é com ele que você deve ficar, Princesa. É o meu filho que você carrega no bucho.
Todos estão atônitos, um burburinho se instala na igreja.
— Cala a boca, jardineiro, saia daqui.
— Eu saio, mas você vai comigo. — O jardineiro diz — Depois a gente decide como vai fazer... — Beija sua boca, antes de pegá-la e a jogando por cima do ombro, mesmo sob os protestos dela.
— Me solta, seu idiota. Eu vou me casar com Felipo! Serei uma Brandão e Albuquerque! Eu faço parte da família real!
— Não vai não! — Micaela começa a distribuir para os convidados fotos de Maria Helena beijando o jardineiro.
— Papai, mamãe? — Ela aponta em direção à mãe e ao padrasto dela, que olham perplexos para as fotos distribuídas pela igreja de Nossa Senhora do Ó. O casal sai pela lateral, cercado pelos seguranças; Maria Helena para de se debater e puxa o véu para tampar o rosto.
Os cochichos começaram antes mesmo que ele terminasse o caminho para fora da igreja. Enquanto consolava Marcel, que choramingava que após esse desastre a agência estaria arruinada, tentei procurar Felipo, mas ele já não estava mais lá, assim como Micaela.
Decidi focar no pequeno surto do meu chefe e em tentar descobrir o que fazer com os mais de quatrocentos convidados, um buffet e um translado para os noivos.
~*~
A cerimônia de um casamento que não aconteceu é bem pior do que a cerimônia de um casamento concretizado. Faltavam poucas horas para o nascer do sol quando finalmente pude deixar a mansão. Havia muito a se resolver graças ao grande escândalo e isso não foi fácil, fotógrafos cercavam a casa em Higienópolis.
O padrasto de Maria Helena me deu ordens do que fazer e ficou me vigiando quase o tempo todo, como se soubesse do meu segredo, o olhar atento ao meu celular, inclusive; havia algo naquele homem que me dava asco, e não era o fato de ele estar grudado em mim como um carrapato.
Eu não sabia para onde Felipo havia ido, mas preferia saber que ele estava com Micaela do que em sua noite de núpcias com Maria Helena.
Pensei em passar no apartamento dele antes de ir para casa, mas, cansada, achei melhor esperar que ele me procurasse, não queria forçar nada. Apesar de tudo, ele havia acabado de ser humilhado no altar na frente dos amigos, conhecidos, da imprensa e dos brasileiros, levando em consideração que a cerimônia estava sendo transmitida em TV aberta.
Antes que eu entre no meu condomínio, escuto o bater de uma porta de carro e, quando me viro, vejo Felipo usando um moletom com capuz, encostado no carro e me olhando com um sorriso. Devagar ele se aproxima e me abraça apertado.
— Eu só preciso saber de uma coisa, me diga e serei seu até o final da minha existência. — Sorri, acariciando meu rosto.
— Sou sua. — Quase sussurro e então ele me conduz até o carro.
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Na cama com um Bilionário
ChickLitNoivo há quase uma década, Felipo não sabe mais o que fazer para continuar evitando o casamento. Parece que finalmente chegou a hora de dizer o temido "sim" no altar. Numa noite de fugas, ele acaba na cama com uma desconhecida, um incidente que par...