A Separação.

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É imprecionante como a nossa vida pode mudar em uma fração de segundos, como em um momento tudo parece estar no seu devido lugar e basta uma palavra, um descuido ou uma simples atitude impensada para tudo sair dos eixos.
Se eu soubesse ou mesmo tivesse imaginado que aquele mulher fosse capaz de fazer o que fez eu jamais teria saído aquela noite e deixado os meus filhos em suas mãos.
Mais eu confiava nela, tanto ao ponto de deixar em suas mãos o que eu tinha de mais precioso na vida. Sei que de certo modo eu também sou culpada pelo o que aconteceu, afinal, fui eu que abriu as portas para que essa mulher entrasse nas nossas vidas, mais eu lhe garanto que jamais se quer passou pela minha cabeça que no momento em que eu abri as portas da minha vida para aquela pessoa entrar, eu estava deixando entrar não uma pessoa, mais sim um furacão que levaria embora o que eu tinha de mais precioso, uma parte do meu coração.

Selma Graymark, Ainda 18 Anos Atrás.

Caminhei lentamente pelos corredores do hospital ao lado de Luciano que segurava o meu braço esquerdo. Depois que parei de chorar e fiquei um pouco mais calma após saber da morte do bebê de Glória, eu e Luciano começamos uma pequena discussão, eu estava determinada a me levantar daquela cama e ver Glória, já meu marido não parava de repetir que eu havia acabado de sair da sala de cirurgia e que precisava de repouso, sei que de certa forma ele tinha razão, até porque eu realmente estava cansada e com um pouco de dor no local em que fora feita a cesariana, mais Glória estava sentindo uma dor muito pior do que a minha e infelizmente, era o tipo de dor que não tinha como aliviar, pelo menos não imediatamente, como era o meu caso, era o tipo de dor que só o tempo poderia curar e provávelmente ainda deixaria marcas pelo caminho.
Eu precisa vê-la, precisava lhe dar um abraço, dizer que ela não estava sozinha, que eu faria de tudo para ajudá-la no que ela precisasse, sei que talvez nada disso iria ajudar a aplacar nem um terço da dor que agora existia em seu coração, mais eu precisava tentar, então, depois de muita insistência Luciano acabou percebendo que não iria conseguir me fazer mudar de idéia, então ele chamou uma enfermeira para cuidar dos bebês, me ajudou a levantar e assim seguimos para o quarto de Glória. Quando enfim chegamos a porta do quarto em que ela estava, eu exitei, um sentimento de culpa começou a tomar conta de mim, talvez eu devesse ter contado a verdade para ela, assim ela estaria preparada para o que poderia acontecer, mais de nada vai adiantar agora eu ficar com esses sentimentos e dúvidas, não há como voltar atrás e mudar o passado, temos que aprender a conviver com as consequências das nossas ações.
- Está tudo bem, querida? - Luciano perguntou, não sei por quanto tempo eu tinha ficado parada em frente a porta do quarto de Glória.
- Sim.- Foi tudo o que consegui responder, ele pareceu ler a minha mente pois me respondeu em seguida.
- Você não tem culpa Selma, apenas fez o que achava que era o certo.
- Eu sei, mais agora, eu simplesmente não sei o que fazer. - Disse e olhei para o chão.
- Apenas entre e dê todo o seu apóio, diga a ela que vamos cuidar de todos os preparativos para o enterro, diga que ela não precisa se preocupar com nada. - Concordei com a cabeça e abri a porta.
- Posso entrar? - Perguntei enquanto abria a porta lentamente.
Ela estava sentada na cama com as costas encontadas na cabeceira e olhava para a janela, seu olhar estava vazio, assim como o seu coração também deveria estar. Ela não respondeu, mais entrei mesmo assim e com a ajuda de Luciano me sentei na cama enfrente a ela. - Eu sinto muito, Luciano me contou o que houve, não consigo imaginar como você deve estar se sentindo.
- Glória, quero que saiba que não precisa se preocupar com nada, irei resolver todas as questões do enterro e que nós iremos ajudá-la em tudo o que você precisar. - Disse Luciano, ela apenas fez que sim com a cabeça. -Bom, vou deixa-las sozinhas e assim providenciar tudo tanto para a saída de vocês do hospital como os detalhes do enterro. - Ele me deu um beijo no rosto e depois saiu pela porta, assim que o fez, Glória falou pela primeira vez desde que entramos no quarto.
- Eu nem mesmo pude vê-lo, pois eles o encaminharam direto para o necrotério. - Ela disse sem desviar os olhos da janela.- Depois que acordei da anestesia o médico me informou que ele havia morrido enquanto ainda estava dentro de mim, por conta dele ter nascido antes do tempo e a minha pressão ter aumentado, ele ficou sem oxigênio...- algumas lágrimas começaram a sair do seu rosto e eu segurei a sua mão por cima da cama. - A vida me tirou tudo o que eu mais amava, tudo o que eu tinha de mais preciso... - Aquelas palavram me machucaram, vê-la com tanta dor partia o meu coração. - O que eu faço agora com todo esse amor que eu tenho no meu coração? Esse amor que havia guardado para dar ao meu filho? - Ela finalmente olhou para mim.
- O dedique a algo que a faça se sentir bem. - Disse. - Use ele para tentar ser feliz novamente, sei que irá encontrar um novo motivo para continuar vivendo e, quando encontrar, não desista dele. - Ela concordou com a cabeça, se aproximou de mim e me abraçou, ambas estávamos emocionadas. Eu disse aquelas palavras do fundo do meu coração, mais hoje, eu me arrependo profundamente de cada uma daquelas palavras que disse a ela.

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