Aquele rosto... Jamais me esquecerei dele, escondido atrás de toda aquela dor e tristeza, existia uma mulher de conversa muito fácil e que nos inspirava confiança, ela tinha algo nos olhos que a fazia parecer realmente sincera e talvez naquele momento ela realmente estivesse sendo, mais isso foi antes... Ela havia sido machucada de muitas formas, o pouco que tinha lhe fora tirado de sua vida, mais ainda faltava o golpe de misericórdia, talvez o pior de todos eles. Sei que a dor pode mudar as pessoas, afinal, foi o que aconteceu comigo, mais eu jamais jogaria tão baixo, jamais seria capaz de fazer algo nem mesmo parecido com o que ela me fez. Tenho certeza que eu jamais poderei perdoá-la.
Selma Graymark, ainda 18 anos atrás.
Aquela manhã passou muito rápido, nos conversamos bastante, falamos sobre os nossos bebês, sobre os nossos pais e também sobre o Luciano e o seu marido que havia morrido. Também lhe contei sobre como era a rotina na casa e expliquei sobre as funções de cada empregado.
Luciano e eu nunca os vimos como meros empregados, apesar deles estarem conosco a pouco tempo, nyos os tratavamos da melhor forma possível, principalmente o Pedro, nosso motorista, ele ficava muito sem graça quando o filho vinha ficar com ele, aquele garotinho era uma graçinha, mesmo pequeno ele dizia que quando a minha menina nascesse ele iria ajudar o Simon a cuidar dela, era muito lindo a forma como ele já gostava da minha menina mesmo sem ela ter nascido ainda. Por mais que eu insistisse em repetir para o Pedro que ele poderia deixar o filho brincar no nosso jardim quando viesse para cá, ele sempre repetia a mesma coisa: Eu sou um empregado nessa casa, senhora Graymark e sou muito grato pela forma como a senhora trata o meu pequeno Léo, mas eu não iria me sentir confortável se eu passasse dos meus limites como empregado
nesta casa. Por isso, mesmo contrariada, eu respeitava a sua decisão e pelo visto, Glória era exatamente da mesma forma, já que insistia em me chamar de senhora Graymark.
Ela era realmente uma mulher adorável, era muito fácil manter uma conversa com ela, por esse motivo, nem percebi que já era quase hora do almoço, só me dei conta disso quanto ouvi uma voz familiar me chamando, vinha de dentro do quarto, Luciano havia chegado.
-Estou aqui, meu amor.- Disse e escutei seus passos se aproximando da varanda, olhei para Glória que parecia desconfortável novamente, então olhei para ela e disse.- Não se preocupe, meu marido é um anjo em forma de pessoa. - Mais mesmo dizendo isso, ela ficava mais nervosa a medida que o som dos passos ficava mais alto e então Luciano surgiu na entrada da varanda, ele estava como de costume, com o seu jaleco branco por cima do paletó.
-Meu amor, você não deveria estar na varanda em pleno meio dia com esse sol forte, pode não lhe fazer bem.- Ele disse com a voz tranquila de sempre.
Apesar das coisas no trabalho deixarem ele quase sempre muito cansado e principalmente em emergências como a de ontem a noite ele nunca mudava o tom de voz comigo, era sempre suave e tranquila.
-Desculpe querido, acabei perdendo a noção do tempo enquanto conversava com Glória. - Olhei para ela e ele seguiu o meu olhar, notando pela primeira vez a presença dela.
-Me desculpe, estou tão cansado que acabei não percebendo que estava com uma amiga.- Pela sua voz dava para perceber que havia sido uma noite longa.
-Eu compreendo perfeimante. -E lhe dei um sorriso de consolo. - E Glória não é somente uma amiga, ela irá trabalhar aqui no lugar da Laura.
- A agência de empregos já mandou alguém para uma entrevista? -Ele parecia surpreso e com razão, normalmente demorava no mínimo uma semana para eles encontrarem alguém disponível.
-Na verdade, é uma história um pouco longa. - Olhei para Glória. -E complicada também.
- Como assim?- Nesse momento alguém bateu a porta do nosso quarto.
- Senhor Graymark?- Era o Pedro, nosso motorista.
- Pode entrar Pedro, eu estou na varanda.- Luciano respondeu e logo o Pedro apareceu na varanda, estava com o seu uniforme, como era de costume.
-Desculpe incomodá- lo senhor, sei que esta cansado, mais gostaria de saber se o senhor quer que eu guarde o seu carro na garagem.
- Sim Pedro, por favor, não irei sair hoje, pretendo descansar o resto do dia e ficar com a minha esposa.- Pedro apenas concordou com a cabeça, ele já ia se retirar quanto eu o chamei, precisava conversar com Luciano e explicar a situação de Glória, e era melhor ela não estar presente, mesmo Luciano sendo um bom homem eu sabia que ele iria protestar quando eu dissese que contratei uma mulher que acabei de conhecer, e na rua, ainda por cima.
-Pedro?- Eu o chamei e ele dirigiu o seu olhar para mim.
- Será que você poderia acompanhar Glória até a área dos empregados e acomodá- la em um dos quartos? Ela irá trabalhar aqui na casa, ocupará o lugar da Laura.
- É claro, senhora.- Ele olhou para Glória que se levantou.- Poderia me acompanhar, por favor? - Ela apenas fez que sim com a cabeça e ergueu a mala do chão.
- Glória?- Ela olhou para mim.- Se instale, tome um banho e descanse, se quiser comer alguma coisa, pode ir na cozinha dos empregados, Pedro irá lhe explicar como as coisas funcionam.- Ela fez que sim com a cabeça novamente, então eu continuei.- Como o meu marido irá ficar comigo o resto do dia, não precisarei de você hoje, pode começar a trabalhar amanhã e, se precisar de algo, pode vir falar comigo.
-Sim senhora, e obrigada mais uma vez.- Dito isso, ela saiu seguindo Pedro.
Olhei para Luciano, que me olhava com uma expressão de puro cansaço, ele suspirou e falou.
- Agora você pode me explicar o que quis dizer com história longa e complicada? - Agora foi a minha vez de suspirar, essa conversa não seria fácil.
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Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída.
DragosteLinda. Eu cresci entre o amor e o ódio. Minha mãe me odeia desde que eu nasci, ao olhar dela eu nunca fui merecedora de nenhum gesto de afeto, nenhum abraço, nenhuma palavra de carinho e muito menos do seu amor. Já meu pai, ele me ama muito. Consigo...