Trégua.

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Romeu Alcântara.

Eu estava deitado na minha cama repassando tudo havia acontecido hoje desde que eu tinha entrado nessa casa desconhecida que agora era minha. Pensei em como tinha me sentido ao ver Linda correndo para os braços de outra pessoa da mesma forma que ela havia corrido até mim pouco tempo antes dela embarcar no avião a caminho para essa mesma casa. No instante em que ela correu em direção a Léo eu senti algo se acender dentro de mim, como uma chama que estava apagada e havia acabado de ser reacendida. O ciúme tomou conta de mim e se eu não fizesse algo para afastar aqueles dois eu mesmo tinha ido até lá e a tinha tirado dos braços dele. Depois quando eu finalmente consegui levar Linda para longe dele e finalmente me aproximar dela, aquele cara apareceu de novo e bem no momento em que eu ia beija-la. E mesmo sabendo que o fato daquele beijo não ter acontecido foi melhor para nós dois, eu não pude deixar de sentir aquele ciúme se acender novamente em mim, ainda mais ao saber que ela tinha lhe dado um apelido carinhoso que só ela usava com ele, e quando eu pensei que a coisa toda não podia piorar ela marcou de se encontrar com ele, o que acabou me fazendo ficar chateado com ela também em vês de só com ele que na minha opinião estava me provocando. Então sem conseguir mais me controlar eu saí do quarto deixando eles dois sozinhos e torcendo para que ela viesse atrás de mim e deixasse aquele babaca sozinho, e para a minha satisfação foi exatamente isso que ela fez, inclusive ela até tentou explicar para mim porque tinha marcado de se encontrar com ele, mais eu estava com muito ciúme naquela hora para conseguir deixar que ela explicasse.
Então sem consegui me controlar eu acabei sendo grosso com ela mesmo sabendo que a estava machucando e ao fazer isso eu acabei me machucando também, pois quando você ama alguém de verdade a dor daquela pessoa também se torna sua.
Mais eu não sabia que o pior ainda estava por vir, pois quando nós descemos as escadas e finalmente chegamos na cozinha eu sentei perto do Luciano e ele acabou vendo a corrente do meu colar e acabou deduzindo e falando que eu estava usando o que Selma havia me entregado naquela noite em que nós descobrimos toda a verdade, e como Linda tinha me contado que o pai não sabia que nós tinhamos trocado de colar, eu não tive alternativa a não ser confirmar as suas palavras, depois eu olhei de relance para Linda sem que ela percebesse e eu pude ver em seus olhos que com aquela minha afirmação eu a tinha machucado mais uma vez e eu sabia o porque. Aquela nossa troca de colar podia não parecer grande coisa, mais para nós dois ele era como um símbolo do sentimento que nos unia, pois aquela troca era como uma promessa silenciosamente de que nós esperaríamos um pelo outro e de que sempre estariamos juntos, agora ela pensava que eu tinha quebrado aquela promessa, mais eu jamais conseguiria fazer isso, afinal, se nem mesmo quando eu pensava que ela tinha se esquecido de mim eu consegui deixar de usa-lo, imagina agora quando eu sabia que ela me amava, mesmo com essa barreira entre nós. Então eu tinha que falar com ela e explicar que eu continuava usando o seu colar e contar porque eu tinha mentido para Luciano, porque mesmo que eu estivesse chateado com ela e com ciúmes eu não podia
deixa-la pensar que eu tinha quebrado a promessa que eu tinha feito a ela, então resolvi que depois do jantar eu iria até o seu quarto para contar a ela, mais eu acabei mudando de idéia pois Selma apareceu com um bolo de aniversário, mais não foi o bolo que me fez mudar de idéia mais sim a situação que aconteceu a seguir. Pelo o que parece Selma era para ter comprado um bolo com duas velas de aniversário, uma para mim e outra para Linda, mais no bolo só tinha uma e ela acabou dizendo ou inventando na minha opinião que tinha se esquecido de pedir que colocassem duas velas no bolo e tanto eu quanto Luciano percebemos que Linda havia ficado magoada com essa atitude da mãe, embora ela tivesse dito que não tinham importância, eu não conseguia entender porque aquela mulher insistia tanto em continuar a magoando, mais eu não iria permitir que ela continuasse fazendo isso, ainda mais na minha frente, então eu simplesmente arranquei a vela de cima do bolo e a parti ao meio depois as colocando novamente em cima do bolo, eu pude perceber a desaprovação da minha atitude no rosto de Selma assim como provavelmente Linda e Luciano também perceberam, mais eu sinceramente não estava nem ai para o que ela estava pensando, tudo o que eu queria era que Linda percebesse que havia pessoas que se importavam com ela e que ela não estava mais sozinha. Logo depois desse meu "ato de rebeldia" por assim dizer, Luciano acendeu as velas e cantou parabéns junto com a esposa, depois nos mandaram fazer um pedido assim que acabaram de cantar. Eu nunca acreditei nessa coisas, mais resolvi que iria tentar, então ao apagar a vela eu pedi que por algum milagre do universo e eu Linda conseguíssemos ficar juntos, mais eu sabia que isso não iria acontecer.
Logo depois de nós apagarmos as velas Luciano cortou o bolo e deu um pedaço para cada um de nós e enquanto eu comia eu aproveitei para pensar em uma desculpa para poder sair dali e ir para o meu quarto, mais eu não precisei pensar muito pois Linda foi mais rápida e disse que iria subir pois ela estava cansada da viagem, então eu aproveitei aquela deixa e disse que também estava cansado, então nós dois subimos para os nossos quartos sem trocar uma palavra um com o outro. Eu entrei no quarto e me joguei na cama, alguns minutos depois eu ouvi passos no corredor e deduzi que Selma e Luciano também havia subido para descansar, eu fiquei surpreso por eles não terem batido na minha porta para ver como eu estava, pois eles não tinham me deixado sozinho por nenhum momento nesses últimos dias, mais ainda bem que tinham decidido passar direto e ir para o quarto deles, agradeci mentalmente por esse pequeno momento de paz, mais como tudo o que é bom dura pouco, o meu breve momento de paz não durou muito, pois quando estava perto da nove horas eu ouvi pequenos passos bem baixos novamente pelo corredor, foi então que eu me lembrei do bendito encontro de Linda com o motorista no jardim, por um momento eu optei por segui-la e ficar observando de longe o que iria acontecer, mais eu sabia que aquilo não seria certo por vários motivos, entre eles o fato de eu e Linda não estarmos mais juntos como eu acabei jogando na cara dela quando estava com ciúmes algumas horas atrás, outro motivo é o fato de que não seria certo eu invadir a privacidade dela daquela forma, ainda mais porque ela tinha me dito que iria apenas explicar o que tinha acontecido para ele mais cedo para evitar que aquilo acabasse chegando aos ouvidos de Selma e Luciano, então eu tinha que confiar nela, confiar que nada demais aconteceria nesse encontro, até porque ela tinha prometido que o seu coração so iria pertencer a mim e não importava que ela tivesse me prometido isso antes de sabermos que somos irmãos, ela havia me prometido e eu tinha esperanças de que ela cumprisse com a sua palavra, ela tinha que cumprir. Eu ainda estava com essas divagações quando eu ouvi uma leve batida na minha porta, deveria ser Selma ou Luciano querendo saber se eu estava confortável ou algo desse tipo, com um suspiro de frustração eu me levantei e fui até a porta, mais quando eu a abri eu tive uma surpresa.
- Oi Romeu. - Era Linda, ela ainda estava com a mesma calça jeans e camiseta branca de quando tinha chegado, mais dessa vez estava descalça. - Eu posso entrar? Eu queria falar algo com você.
- É claro. - Eu disse me afastando um pouco para o lado para dar passagem para que ela entrasse.
- É melhor fechar essa porta. - Disse ao entrar no quarto e se virando para olhar para mim. - Afinal, portas abertas já nos causaram muitas complicações.
- Você tem razão. - Eu disse fechando a porta e me virando em seguida para também ficar de frente para ela.
- Você está vindo do seu encontro com o seu amigo?
- Léo. - Disse. - Nome dele é Léo.
- Tudo bem, eu refaço a pergunta, você está vindo do seu encontro com LÉO? - Ela fez que sim com a cabeça.
- Não foi um encontro, nós fomos apenas conversar.
- Então você falou para ele sobre a nossa... situação? Digamos assim.
- Sim, eu contei tudo a ele, a história toda desde o começo.
- Aposto que ele deve ter ficado surpreso.
- Sim, mais tenho certeza de que qualquer um que soubesse dessa história teria a mesma reação, você não concorda?
- Tenho certeza que sim. - Afinal eu mesmo ainda custava a acreditar.
- Bom, o importante é que eu conversei com ele e ao esclarecer as coisas ele me prometeu que não vai comentar nada do que viu hoje com ninguém.
- Ainda bem, porque se isso chegasse aos ouvidos de Selma e Luciano eu não sei como nós iríamos
convence-los a esquecer esse assunto e deixar para lá.
- E para ser sincera nem eu. - Foi então que eu vi a expressão de Linda mudar, então eu soube que esse não era o único motivo pelo qual ela tinha vindo ate o meu quarto para conversar comigo, tinha algo a mais.
- Linda, está tudo bem? - Ela desviou o olhar de mim e olhou para o chão.
- Tem algo que eu preciso te contar, pois eu quero que você fique sabendo por mim. - Eu sabia que tinha alguma coisa, então Linda deu um longo suspiro e disse. - Léo acabou de se declarar para mim.
- Ele o que?! - Agora com certeza eu iria matar aquele imbecíl.
- Depois que eu contei tudo a Léo ele acabou me confessando que sempre foi apaixonado por mim, mesmo quando nós ainda éramos crianças e, depois ele me pediu uma chance.
- Isso só podia ser um pesadelo, daqueles bem feios em que você luta para acordar e não consegue porque parece que algo está te prendendo a ele. Foi então que Linda levantou o olhar e olhou para mim com tristeza em seus olhos. - E eu disse sim.
E depois dessas palavras dela eu senti o chão se abrir aos meus pés me fazendo cair no mais profundo abismo.
- Linda...
- Não Romeu, me deixe falar, ok? - Ela disse me interrompendo. - Nós precisamos fazer um esforço para esquecer esse sentimento proíbido que existe dentro de nós, pois se nós continuarmos com ele tudo o que vamos fazer é nos machucar cada dia mais. Nós não podemos ficarmos juntos Romeu e nunca vamos poder ficar e por mais que dentro de nós a gente não se sinta assim, temos que aceitar a realidade de que nós somos irmãos e que esse tipo amor que existe em nossos coraçoes não pode haver entre nós.
- Então você vai tentar me esquecer saindo com esse cara?
- Eu preciso tentar e talvez se você começar a me ver com outra pessoa os seus sentimentos em relação a mim possam começar a mudar também.
- Ela disse.
Por fora eu aparentava estar calmo, mais por dentro era outra história, era como se eu estivesse me afogando e a única pessoa que poderia me salvar era a mesma que tinha me jogado ali para morrer.
Só que por mais que eu estivesse me sentindo assim, eu sabia que Linda estava certa, nós dois estavamos apenas nos enganando ao agir como se um dia nós pudessemos voltar a ficar juntos, pois isso nunca poderia acontecer, porque a verdade era que nós éramos irmãos e nada no mundo poderia mudar isso, não importava o quanto nós quisessemos, essa realidade não mudaria. Então mesmo com o meu coração sentindo um dor imensa, eu disse.
- Você tem razão, isso entre nós tem que acabar. - Ela concordou com a cabeça. - Vocês já marcaram alguma coisa?
- Sim, depois de amanhã é a folga do Léo e nós vamos sair. - Ela respondeu.
- Bom, então será que eu teria o privilégio de sair com você amanhã antes dele? - Perguntei e ela me olhou com certa desconfiança. - Eu não tenho nenhuma segunda intenção, eu juro, apenas pensei que talvez seria uma boa idéia se nós fôssemos passear amanhã e para passar um tempo juntos, como irmãos, assim quem sabe nós não começamos a nos "acostumar" com essa idéia.
- Eu não sei Romeu.
- Linda, nós vamos nos ver todos os dias e não podemos continuar agindo estranho toda vez que nos virmos, temos que acabar com esse clima estranho. - Eu disse. - Olha, a minha moto vai chegar amanhã cedo, porque nós dois saímos e depois, você pode me mostrar o seu lugar favorito daqui assim como eu te mostrei o meu, nós também podemos aproveitar para sair um pouco e esfriar a cabeça. - Ela pareceu pensar um pouco mais enfim respondeu.
- Tudo bem, até porque você tem razão, nós não podemos passar o resto da vida fugindo um do outro.
- Então vamos amanhã depois do café?
- Por mim está ótimo. - Respondeu e com isso ela passou por mim em direção a porta a abrindo em seguida, depois passando por ela, eu me virei para olha-la e antes de fechar a porta ela disse.
- Boa noite Simon. - Então ela se foi, me deixando com esse nome na minha mente que embora fosse meu eu sentia como se fosse de outra pessoa completamente diferente de mim.

***
Eu quase não consegui dormir pois eu não conseguia parar de pensar no fato de que agora eu realmente estava perdendo a garota que eu amava e o pior é que eu não podia fazer nada para impedir, pois essa barreira que existia entre mim e Linda não podia ser derrubada, então eu fiz a única coisa que eu podia, aceitar.
Nós éramos irmãos e eu tinha que aceitar, Nós não podiamos ficar juntos e eu tinha que aceitar, Linda iria sair com outro cara e eu tinha que aceitar, não havia o que fazer. Mais eu ainda precisava estar ao lado dela, não importa como fosse, eu não podia me afastar dela e foi por isso que eu tinha chamado ela para sair comigo, porque para eu poder estar ao lado dela nós precisavamos nos livrar dessa tensão que sempre surgia quando chegavamos perto um do outro e para isso acontecer nós tínhamos que passar mais tempo juntos como... Como irmãos e era isso que eu iria tentar fazer hoje, tentar comecar a
vê-la como minha irmã, mesmo que para mim isso parecesse impossível.
- Vocês tem certeza que não querem que a gente vá junto? - Selma perguntava pela milésima vez enquanto nós terminavamos de tomar café como uma típica família feliz.
- Eu já disse, nós só queremos passar um tempo juntos para começarmos a nos acostumar com essa coisa de irmãos. - Eu respondi.
- Eu acho que isso é uma ótima
idéia. - Disse Luciano.
- É claro que você acha, você sempre aceitou tudo o que a sua filha quis e agora está querendo fazer a mesma coisa com o nosso filho. - Retrucou Selma.
- Bom, eu não quero ficar aqui para ver qual de vocês dois vai ganhar essa batalha. - Disse Linda já se levantando da mesa. - É melhor a gente ir, porque eu não quero voltar tarde.
- Você tem razão. - Eu disse e me levantei também. - Aonde foi colocada a chave da minha moto? - Eu perguntei para ninguém em particular, então Luciano ficou de pé e tirou a chave do seu bolso e me entregando em seguida.
- Ainda mais essa. - Disse Selma.
- Porque você não vende essa moto e compra um carro querido? Ou então nos deixa te dar um?
- Agora sou eu que não quero discutir sobre isso. - Eu não abriria mão da minha moto nem mesmo por um avião, pois eu amava a sensação de liberdade que eu sentia quando estava pilotando.
- Até mais tarde papai. - Disse Linda olhando para o pai que sorriu para ela. - Até mais mamãe. - Ela disse dessa vez olhando para a mãe que nem se quer a olhou de volta. Então nós saímos da cozinha seguindo para fora da casa aonde a minha moto estava estacionada, chegando lá eu peguei um dos capacetes que estavam em cima dela e o entreguei a Linda, depois eu peguei o outro o colocando no meu braço e subi na moto colocando o capacete, mais quando Linda já ia subir na moto, nós ouvimos alguém chama-la.
- Linda, aonde você vai? - Era Léo, eu tive que respirar fundo para não fazer nenhuma bobagem.
- Vou dar uma volta com o meu irmão, mais não vou demorar. - Ela respondeu enquanto ele parava a sua frente.
- Mais está tudo bem? - Ele perguntou olhando para mim e depois voltando a olhar para ela.
- Está sim, não se preocupe, nós apenas queremos passar um tempo como irmãos para que assim possamos conviver da melhor maneira possível.
- Ha, e aonde vocês vão? - Ele quis saber.
- Vou leva-lo ao meu lugar preferido de quando eu era criança, porque como eu não estive aqui durante esses últimos anos eu ainda não conheço nenhum lugar novo ou que eu goste agora. - Eu deveria ter me lembrado disso quando eu pedi a ela que me levasse ao seu lugar preferido daqui de São Paulo.
- Não me diga que você vai leva-lo aquela sorveteria...
- Shii! - Linda o interrompeu colocando o dedo indicador nós lábios. - Léo, você não pode sair por ai espalhando os meus segredos. - Ela disse e os dois riram fazendo o meu ciúme despertar outra vez pois ela estava rindo com ele e não comigo. Então eu buzinei a moto para chamar a sua atenção dela para nós irmos.
- Eu preciso ir, Romeu tem um gênio terrível, eu ficava me perguntando de quem ele tinha herdado isso, mais agora eu já sei. - Ela disse para ele.
- Só mais uma coisa, a nossa saída amanhã ainda está de pé, não é?
- Claro que sim. - Ela disse a ele.
- Ótimo. Eu pensei da gente ir ao cinema ver um filme, eu dei uma pesquisada e vi que aquele filme que você amava quando era criança está em cartaz, então achei que você iria querer ver.
- Por mim tudo bem. - Ela disse e eu buzinei de novo, dessa vez mantendo o barulho por mais tempo. - Eu já vou, antes que ele chame a atenção de toda a vizinhança. - E dizendo isso ela finalmente subiu na moto colocando o capacete em seguida, e apenas para irritar aquele cara eu acelerei fazendo com que ela tivesse que colocar os braços ao meu redor para poder se segurar, então nós finalmente partimos.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora