Um Beijo A Muito Esperado.

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Romeu Alcântara, Dias Atuais.

A minha vida nunca mais foi a mesma depois que eu voltei daquele acampamento. Ao chegar em casa eu passei um tempo com a minha mãe e com a senhora Lucinda, estava muito agradecido a ela por ter me mandado novamente para aquele acampamento, afinal, se ela não tivesse pagado novamente para que eu pudesse ir e também se ela não tivesse convencido a minha mãe a deixar ir eu não teria conhecido a aquela garota que, embora na época eu não soubesse, havia me mostrado o que era o amor.
Eu tinha ligado para ela escondido no mesmo dia em que cheguei do acampamento do telefone da casa da senhora Lucinda, eu tinha aproveitado que a minha mãe tinha subido para o quarto dela para
ajuda-la a se preparar para o jantar, mais o telefone nem se quer tocou, eu tentei mais duas vezes e nada. Pensei que talvez ela tivesse me dado o telefone errado sem querer, mais como eu tinha dado o número do meu certinho, resolvi esperar que ela me ligasse, torcendo para que ela fisesse isso logo. Mais ela não fez. Então as aulas recomeçaram, no começo eu tinha muito medo de ir para a escola e que ela acabasse me ligando enquanto eu estivesse lá, eu ficava contando os minutos para que a escola terminasse logo para eu poder ir para casa, quando eu chegava, eu ficava o tempo todo na sala de estar, aonde ficava o telefone, se ela ligasse, eu queria estar por perto para poder atender, a cada vez que o telefone tocava eu simplesmente corria para atender na esperança de que fosse ela, mais nunca era. Depois de um tempo eu percebi que a minha mãe estava começando a perceber que havia algo errado é como eu não podia contar a ela que tinha dado o número de telefone da casa para alguém, porque nesse caso eu estaria com sérios problemas, então para despistar, eu voltei a ficar no jardim como sempre fazia, mais sempre atento caso o telefone tocasse. Depois de uns meses eu entendi que ela não iria me ligar, talvez ela até tivesse me dado o seu telefone errado de propósito.
Depois de um ano, eu finalmente me dei por vencido, então eu voltei com a minha vida e, mesmo sabendo que ela não se importava comigo, eu não conseguia parar de usar aquele cordão, não me pergunte porque, mais toda vez em que eu pensava em não coloca-lo pela manhã, eu sentia uma sensação estranha, algo que me impulsionava a coloca-lo, eu não conseguia me separar dele assim como não conseguia me separar dela quando eu estava ao seu lado.
Eu ainda não tinha superado a perda da Linda quando tive outra perda em minha vida, dessa vez a senhora Lucinda, ela morrera pouco antes das minhas férias de julho.
Eu fiquei destroçado, aquela mulher era como uma segunda mãe para mim e perde-la realmente me doeu muito.
Ela havia morrido enquanto dormia, os médicos disseram que tinha sido por causa da idade.
Com a morte da senhora Lucinda a minha mãe ficou um pouco preocupada já que ela iria ter que procurar um outro emprego, mais então no mesmo dia do enterro um advogado apareceu na casa e informou a minha mãe que a senhora Lucinda havia deixado todos os seus bens para nós, já que ela não tinha parentes próximos. Isso foi um alívio para a minha mãe, então nós mantemos apenas uma empregada na casa, afinal, sem a senhora Lucinda e , como a casa não era tão grande assim, não era necessário ter tantos empregados e a minha mãe gostava de cuidar da casa e, como além dos bens também haviamos herdado a quantia mensal que o seu falecido marido havia lhe deixado, não tinha porque a minha mãe trabalhar.
Com o tempo a nossa vida finalmente voltou ao normal, a minha mãe cuidada da casa enquanto eu me dedicava aos estudos, nossa vida estava instável, mais ainda faltava algo na minha vida, algo que eu ainda não sabia o que era, fora que eu pensava em Linda todos os dias, me perguntava o porque que ela havia se afastado de mim, porque ela tinha quebrado a sua promessa.
Os anos se passaram, eu terminei os estudos e consegui um emprego em uma loja que vendia quadros no centro do Rio de Janeiro, minha mãe estava com problemas com a pressão mais com os remédios e as consultas ao médico eu não ficava tão preocupado, minha vida estava boa, exceto pela lembrança dela, a garota que eu nunca consegui esquecer, eu sempre mantive ela no meu coração, tanto, que nunca voltei a ficar com nenhuma garota, sério, depois que eu a beijei quando era criança, eu nunca nem se quer saí com ninguém, eu não sabia porque eu insistia em manter a minha promessa sendo que ela provavelmente não deve ter mantido a sua.
Agora estou aqui, olhando pela janela do meu quarto, pensando nela enquanto espero dar a hora para eu ir para o trabalho, a loja abre a 8hs e eu fico lá até as 12hs, quando ela reabre as 14hs, é dono que fica lá.
Não é um grande trabalho, mais eu gosto bastante, não só por conta do horário ou por ser um trabalho tranquilo, mais também porque eu posso ficar perto dos quadros, sim, eu ainda gosto de arte, isso não mudou.
Eu não ganho muito, mais como eu não tenho muitos gastos, para mim é o suficiente.
Com o dinheiro que a minha mãe recebe todo mês ela consegue fazer praticamente tudo, pagar as contas, fazer super-mercado e ainda ficar com dinheiro para gastar com si mesma, eu já insistir várias vezes para que ela me deixasse ajudar em alguma coisa, mais ela sempre diz não e, por causa de saúde, eu acabo fazendo o que ela quer, para assim evitar aborrece-la.
Enfim já estava na hora de eu ir para o trabalho, então eu peguei a carteira e a chave da moto e sai. Eu nunca tomava café em casa, pois a minha mãe acordava as 9hs e, como eu saia cedo, sempre tomava café em alguma cafeteria do centro mesmo.
Depois de tomar o meu café eu estacionei a moto em frente a loja, destranquei a porta e então começei a trabalhar.
Era algo bem simples, eu varria a loja, recebia as entregas de quadros novos e atendia os clientes, que não eram muitos, as pessoas não se interessam muito por arte como antes, por isso, quando eu vi uma linda garota olhando atentamente para um quadro na vitrine, eu não pude deixar de ir até ela que, como olhava com muita atenção para um dos quadros, ela nem me viu chegando, de perto ela era ainda mais linda, estava com um vestido florido, uma jaqueta jens por cima e tênis, seus cabelos eram castanhos, assim como os seus olhos.
Eu me aproximei dela e perguntei se poderia ajuda-la, mais ela me respondeu que não, que estava apenas apenas admirando um dos quadros na vitrine, um que eu havia pedido para fazer a alguns dias atrás, nós continuamos conversando,  mais foi então que eu vi algo em seu pescoço, algo que eu jamais pensei que veria outra vez, eu fiquei chocado. Será que... Não podia ser... Em todos esses anos eu jamais pensei que fosse reencontra-la assim.

                                                               ****

- Eu não posso acreditar. - Ela disse assim que eu lhe mostrei o meu colar. - Romeu, é você? - Ela estava tão surpresa quanto eu, provavelmente porque jamais pensou que voltaria a me ver novamente.
- Sim, sou eu. - Eu disse. Tudo o que eu queria era abraça-la, dizer o quanto eu ansiava por vê-la novamente, mais eu também estava magoado por ela ter se afastado de mim, e eu não podia simplesmente esquecer isso. - A quanto tempo não é?
- Eu jamais pensei que iria reencontra-lo assim, não imagina o quanto eu esperei por esse momento. - Ela disse e sorriu, o mesmo sorriso doce de que eu me lembrava. Eu queria muito acreditar naquelas palavras, queria acreditar que ela também ansiava por me reencontrar assim como eu, mais eu sabia que não era verdade, ela havia se afastado de mim e se ela realmente me quissese em sua vida, não teria me deixado.
- Você não precisa fingir que está feliz em me ver. - Eu disse.
- Como assim? Você acha que eu estou fingindo? - Seu sorriso foi embora e ela pareceu estar magoada. O que era estranho, afinal, eu é que deveria estar magoado.
- É claro que está, afinal, se você realmente quisesse me ter por perto, jamais teria se afastado de mim como fez. - Respondi. - Na verdade, eu nem sei porque você ainda usa esse colar.
- Porque nós fizemos uma promessa, você não lembra?
- E você por acaso se lembrou dela quando se afastou de mim? - Eu respondi. - Quando me deu o seu telefone errado de propósito, quando não me ligou ou quando provávelmente ficava com outros idiotas por ai? Eu acho que não. - Eu senti o meu sangue começar a ferver, eu sempre tive um gênio forte e, com o passar dos anos, ele havia piorado, e mesmo com todo o amor que eu sentia por ela, eu queria machuca-la como ela me machucou.
- O único idiota com quem eu fiquei foi você! - Ela disse com a voz um pouco mais alta. - Você acha que foi difícil para você e não foi para mim? Acha que foi fácil para mim ficar longe de você esses anos todos?
- Então porque! Porque você se afastou de mim? - Eu falei, com a voz alta também.
- Porque eu fiquei em um internato nesses últimos oito anos! - Disse com tristeza no seu olhar. - Assim que desci do ônibus naquele dia, meu pai me disse que eu iria para um colégio interno em Londres, ele simplesmente me levou até o aeroporto e me colocou em um avião. - Ela estava chorando agora e eu me senti um merda por ser o responsável por aquelas lágrimas. - Eu queria te ligar Romeu, mais eu não podia fazer ligações, eram regras da escola, logo depois o meu pai me ligou me dizendo que teve um problema com o nosso telefone e o número foi trocado, eu fiquei desesperada porque eu sabia que você iria me ligar, mais não havia nada que eu pudesse fazer. Nesses oito anos eu me apeguei a esse colar e a esperança de que você não tivesse me esquecido, para que quando eu voltasse para casa, o que aconteceu essa manhã, eu pudesse te ligar, te ver e explicar tudo o que aconteceu, mais, é claro, eu jamais pensei que aquele menino doce que demonstrou gostar tanto de mim iria se tornar nesse babaca com quem eu estou falando agora. - Eu não sabia o que dizer, o que pensar, eu me senti um lixo por não ter dado a ela a chance de explicar o que realmente tinha acontecido e também por ter duvidado de nós. - Eu vou embora, nós não temos mais nada para conversar. - Ela se virou para ir embora e eu simplesmente não pensei, a puxei pelo braço a virando de frente para mim e a beijei. Eu precisava dela, precisava sentir os lábios dela novamente nos meus, eu sabia que tinha agido como um completo imbecíl, mas ainda sim, eu não podia me afastar dela novamente e, para a minha surpresa, mesmo eu a tendo magoado, ela retribuiu o beijo, abrindo os seus lábios para mim, com isso, eu coloquei as minhas mãos em sua cintura enquanto as dela foram para o meu pescoço, foi um beijo intenso, cheio de amor, saudade e desejo. Beijar Linda foi como voltar para casa, para o lugar do qual eu nunca deveria ter saído, e naquele momento, aquele vazio, aquela sensação que sempre me acompanhava desapareceu, como a oito anos atrás, quando estava com ela, e eu havia acabado de perceber o motivo daquele vazio: era ela. Por algum motivo que eu não sei explicar, compreendi que a minha vida toda era dela que eu sentia falta, mesmo antes de conhece-la, talvez fosse verdade aquela história que eu li em um livro quando era criança, de que antes o ser humano era feito de uma parte homem e de uma parte mulher e que os deuses os havim separado, e então até hoje cada ser humano buscava a sua outra metade. Essa era a única explicação para esse vazio que eu sempre senti e que desaparecia sempre que eu estava ao lado dela, ela era a minha outra metade e por isso, longe dela, eu me sentia vazio, incompleto, e agora, aqui, ao lado dela novamente, eu finalmente estou completo. E se dependesse de mim, eu jamais iria me afastar dela novamente, eu enfrentaria tudo para ficar para sempre com aquela garota, as pessoas haviam nos afastado uma vez, e isso jamais voltaria a acontecer, se ela me perdoar pelas merdas que eu falei com ela, nada fará com que eu me afaste dela outra vez. Nada.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora