Preenchendo O Vazio.

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Será possível sentir falta de algo que nunca tivemos? Desejar algo com todas as nossas forças mesmo sem saber o que é?
A minha vida toda eu carreguei comigo um sentimento estranho, um vazio... A sensação de estar longe de casa, mesmo agora, enquanto estou no meu quarto, essa sensação não vai embora. Ouve apenas momento na minha vida que senti esse vazio sendo preenchido completamente, foi quando estava com ela, a garota que me deu esse colar com a letra L que nunca consegui tirar, mesmo sabendo que ela se esqueceu de mim, que me tirou de sua vida, parece que o que vivemos não foi tão importante para ela como foi para mim, ainda sim eu não consigo tirar esse bendito colar, de alguma forma, por algum motivo que eu desconheço, sinto que preciso usa-lo, sinto de alguma forma ele irá nos unir novamente e poderei saber porque ela decidiu se afastar de mim sem me dar nenhuma explicação.
Meu nome é Romeu, moro no Rio de Janeiro com a minha mãe Malvina Alcântara, sempre foi só nós dois, meu pai morreu antes de eu nascer, o que deixou a nossa vida um pouco complicada, ainda mais porque os meu avós tanto da parte da minha mãe como os da parte do meu pai estavam mortos, foi o que a minha mãe me contou. As coisas só melhoraram depois de uns anos quando minha mãe veio trabalhar como governanta para um senhora chamada Lucinda, ela era um anjo, seu marido havia morrido e como ele era tenente do exército, deixou um bom dinheiro para ela e também uma linda casa em um ótimo bairro.
Ela também não havia tido filhos, por esse motivo ela me adorava, vivia me dando doces e me enchendo de presentes, inclusive foi graças a ela que consegui ir ao meu primeiro acampamento quando tinha nove e dez anos, mais ela acabou morrendo pouco tempo depois que eu voltei do meu segundo acampamento, e para a minha surpresa e da minha mãe, nos havia deixado tudo. A casa, as jóias, a pensão de seu marido e uma boa quantia em dinheiro no banco para mim. Que só tive acesso agora ao completar dezoito anos.
Estávamos com uma ótima vida, apesar da saúde da minha mãe que sofria de pressão alta. Eu trabalha em uma loja no centro que vendia quadros, mesmo tendo dinheiro no banco graças a senhora Lucinda, eu gostava de trabalhar e queria guardar aquele dinheiro caso acontesse algo, peguei apenas uma parte para comprar uma moto e depois não toquei mais no dinheiro.
Eu tinha tudo, um emprego, uma mãe que amava e uma vida confortável e estável, mais ainda sim tinha aquela sensação que sempre me acompanhava, um vazio inexplicável, que somente aquela garota conseguiu preencher e depois que tive que me afastar dela esse sentimento ficou ainda mais forte.
Eu precisava reencontra-la, precisava daqueles olhos castanhos e daquele sorriso para preencher novamente esse vazio... Precisava do seu abraço e dos seus lábios nos meus novamente.

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Romeu Alcântara, 8 Anos Atrás.

Eu morava com a minha mãe na casa em que ela trabalhava desde os meus quatro anos, antes disso eu passava o dia todo em uma creche enquanto minha mãe trabalha como conzinheira em um restaurante. Foi realmente um alívio para ela quando o gerente do restaurante lhe disse que a senhora para quem a sua irmã trabalhava como empregada estava procurando por uma governanta e sua irmã tinha lhe pedido ajuda para encontrar alguém, minha mãe não pensou duas vezes, anotou o endereço que o gerente do restaurante havia dito e no dia seguinte na hora do almoço foi até a casa da tal senhora e assim que soube que a minha mãe tinha um filho a contratou na hora. Gosto de brincar com a minha mãe dizendo que ela so conseguiu aquele emprego por minha causa.
Aquela senhora foi um anjo que apareceu nas nossas vidas, ela pagou uma escola particular para mim e impôs como condição para a minha mãe poder trabalhar lá que nós dormissemos nos quartos da casa e que fizessemos as refeições com ela. No meu aniversário de nove anos ela me mandou para um acampamento de férias que eu estava louco para ir, mesmo contra a vontade da minha mãe, ela detestava ficar longe de mim e era superprotetora, sempre fazia questão de me levar e me buscar na escola, mesmo a dona Lucinda se oferecendo para pagar um transporte que era disponibilizado pela escola para buscar e levar os alunos. Também não me deixava brincar na rua, nem ir para nenhum passeio da escola e muito menos me deixava ir brincar da casa do meu único e melhor amigo, o Sam, tanto que só nos víamos na escola.
Celular e internet? Nem pensar, sempre repetia os mesmos discursos dizendo que a internet era perigosa e que eu ainda não tinha idade para ter um celular, na verdade, nem mesmo ela tinha um celular, nunca entendi o motivo de tanta preocupação, talvez fosse por ela ter perdido todas as pessoas que amava e, como só tinha a mim, deveria ter medo de que algo acontecesse comigo, porque nesse caso, ela ficaria sozinha, mais ainda que esse fosse o caso, não deixava de ser um exagero.
Foram muitos pedidos de por favor da minha parte e até da senhora Lucinda para ela concordar e me deixar ir, mais por fim ela acabou cedendo e eu fui.
Apesar de não ter feito nenhum amigo, eu me divertir como nunca. Lá tinha muitas coisas para fazer como pescar, velejar no lago, competições de corrida, balanços entre outras coisas, além do fato de que como eu nunca tinha saído de casa antes, me senti livre assim que entrei naquele ônibus pela primeira vez. Quando ela soube que eu queria ir de novo esse ano, a coisa toda que aconteceu da primeira vez se repetiu.
Ela estava regando as flores no jardim enquanto eu implorava para ela me deixar ir.
- Por favor mãe, me deixa ir! - Eu implorava ao seu lado enquanto ela regava as plantas com um regador.
- Romeu, meu querido, você já foi ano passado. - Ela falava com uma voz delicada, sempre falava nesse tom comigo, nunca levantava a voz para mim, nem mesmo quando eu tirava uma nota baixa ou quebrava algum enfeite do chão do jardim enquanto jogava bola.
- Então porque eu não posso ir de novo? - Perguntei já com uma cara de poucos amigos, eu tinha um gênio forte, minha mãe dizia que eu tinha puxado isso dela, o que era até engraçado, porque ela nunca ficava brava.
- Porque eu vou ficar com muita saudade do meu menino adorado. - Ela respondeu sem tirar os olhos da benditas plantas, revirei os olhos e cruzei os braços.
- Você fica onze meses colada comigo, não acha justo que eu tenha um mês de folga? - Ela parou de regar as plantas e se finalmente se virou para olhar para mim.
- Está querendo negociar quanto tempo você passa ao lado da sua mãe?
- Sim, estou. - Falei sério e ela riu. - Estou falando sério mãe.
- E eu também, a resposta é não. - Já estava a ponto de dizer que iria mesmo que ela não me desse permissão quando a senhora Lucinda apareceu caminhando com a ajuda da sua bengala. Minha mãe colocou o regador em cima de uma pequena mesa redonda com três cadeiras e foi ajudar a senhora Lucinda a sentar em uma delas. Ela olhou para mim, percebeu que eu estava chateado e perguntou.
- Porque o meu anjinho está com essa cara? - Caminhei em sua direção e parei de pé ao seu lado.
- Minha mãe não quer me deixar ir para o acampamento esse ano. - Falei ainda com os braços cruzados.
- A senhora já pagou para o Romeu ir ano passado, não acho certo deixar a senhora pagar para ele ir novamente, isso é abusar da sua boa vontade. - Minha mãe disse e a senhora Lucinda pediu que ela se sentasse na cadeira a sua frente e ela o fez.
- Tarde demais querida, porque eu já paguei. - Na mesma hora eu descruzei os braços e um sorrido enorme apareceu no meu rosto.
- Não comece a sorrir ainda, mocinho. Eu ainda não deixei você ir. - Minha mãe disse séria mais eu não desfiz o meu sorriso porque eu sabia que ela iria ceder.
- Deixe o menino ir se divertir, Malvina, você vai acabar sufocando ele com tanto amor e cuidado. - E na verdade, era assim que eu me sentia.
- A senhora sabe porque eu tenho tanto cuidado com o Romeu, ele é tudo o que eu tenho nessa vida. - Minha mãe suspirou. - Se algo acontecer com ele...
- Nada vai acontecer. - A senhora Lucinda interrompeu. - Ele foi ano passado e voltou inteiro, nem nenhum arranhão.
- Ainda assim, eu não sei se... - A senhora Lucinda a interrompeu outra vez.
- Vamos fazer o seguinte, você deixa o Romeu ir esse ano, e se ano que vem você não quiser deixa-lo ir, eu prometo que não irei insistir e respeitarei a sua decisão. - O que? Como assim?
- Mais... - Começei a protestar quando a senhora Lucinda virou o rosto para olhar para mim e me deu uma piscadinha, então eu entendi e concordei com a cabeça. - Por mim tudo bem.
- Meu Deus, isso é um complô contra mim? - Minha mãe falou.
- Sim. - Nós respondemos em uníssono. Ela suspirou.
- Tudo bem, eu desisto. - Ela levantou as mãos para o alto. - Você pode ir. - Eu fui em direção a ela e lhe dei um forte abraço.
- Obrigado mãe. - Disse, animado.
- De nada, mais não se esqueca de nossas regras. - Me afastei um pouco dela e ela segurou os meus ombros com as duas mãos. -Nada de acessar a internet e nada de...
- Celulares. - Eu a interrompi. - Eu já sei mãe. - Revirei os olhos.
- E não revire os olhos para mim.
- Bom, já que estamos acertados, que tal sairmos para tomar sorvete? - A senhora Lucinda falou. Fiquei ainda mais animado.
- A senhora mima demais esse garoto.
- Pode deixar ela me mimar o quanto quiser, mãe, eu não me importo. - Eu disse e elas caíram na risada.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora