Sentimentos Que Não Vão Embora.

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Linda Graymark.

Eu estava me divertindo as custas de Romeu, ele estava lindo com uma coroa de princesa na cabeça.
Quando nós estávamos na moto eu lhe expliquei o caminho para que ele pudesse chegar aqui, era a minha sorveteria preferida quando eu era criança, sempre que eu estava triste o meu pai me trazia até aqui, ela ficava perto do centro e a entrada era toda cor de rosa e o formato da entrada era de um castelo, por dentro as suas parede eram cor de rosa e as suas cadeiras em no formato de xícaras de chá e para cada pessoa que entrava eles davam uma coroa rosa brilhante, é claro que ninguém era obrigado a usar, mais eu é que não iria contar isso para ele, e como não tinha nenhum outro homem na sorveteria, ele não tinha como saber disso já que todas as outras pessoas mulheres e suas filhas estavam usando a sua coroa assim como eu.
- Vocês já querem pedir? - Perguntou uma garçonete lançando um olhar divertido para Romeu.
- Dois especiais de arco-íris por
favor. - Eu disse e ela se retirou, então eu olhei para Romeu. - Você está lindo com essa coroa, princesa.
- Eu sabia que uma hora você iria fazer uma piada comigo. - Ele disse tentando parecer bravo, mais eu sabia que ele estava brincando.
- Desculpe, mais eu não pude resistir, aliás, eu posso tirar uma foto? Ficaria ótima como o novo papel de parede do meu celular.
- Você está brincando com fogo, sabia? - Ele disse e eu começei a rir, então ele olhou ao redor e depois perguntou.
- Então esse era o seu lugar preferido na infância?
- Hurum, o meu pai sempre me trazia aqui quando eu estava triste, o que acontecia com bastante frequência, na verdade.
- Por causa da sua mãe? - Eu fiz que sim com a cabeça então a garçonete chegou com os nossos sorteves os colocando na mesa e saindo em seguida. Esse era o meu sorvete preferido porque ele era rosa com azul e vinha com confeitos rosa no formato de unicórnios. - Ela ainda não te contou porque te trata dessa forma?
- Não, até porque como você pode ver nós mal nos falamos, nem mesmo quando nós ficamos aqueles dias sozinhas no apartamento do meu pai nós conseguimos conversar, ficamos as duas trancadas no quarto e quando nos encontrávamos na sala ou na cozinha mal olhavamos uma para a outra. - Eu respondi enquanto levava uma colher de sorvete até a boca.
- Luciano também não te falou nada?
- Não, bom, mais ou menos. Quando eu tive aquela discussão com a minha mãe porque eu tinha entrado no quarto que era proíbido, o meu pai disse que naquela época quando tudo conteceu a minha mãe ficou muito mal, tanto que nem se quer conseguia olhar para mim pois ela se lembrava de você.
- Mais agora eu estou aqui, então ela deveria estar te tratando melhor, mais pelo o que eu pude perceber não é esse o caso. - Ele disse e começou a comer o seu sorvete.
- Talvez ela precise de tempo. Afinal, algumas feridas levam tempo para poder cicatrizar, e algumas nunca cicatrizam, mais seja como for, eu não vou mais ficar tentando conquistar o amor dela, se algum dia ela quiser retomar a nossa relação de mãe e filha, eu estarei aqui de coração aberto para tentar esquecer toda a dor que ela me causou, mais se não tudo bem também, de qualquer forma eu vou seguir em frente.
- Mais não sozinha, tem muita gente que te ama e se importa com você.
- Ao ouvir a palavra com A eu decidi que era melhor não deixar que essa conversa seguisse por ai, então eu resolvi mudar de assunto.
- Eu posso fazer uma pergunta?
- Claro, eu vou responder todas as que você fizer.
- Em nenhum momento você sentiu ou desconfiou que tinha algo
errado? - Perguntei. - Porque no meu caso eu sabia que os meus pais estavam escondendo alguma coisa de mim, você nunca percebeu nada assim? - Ele olhou para o seu sorvete e começou a mexe-lo com a colher.
- Bom, desconfiar não, mais eu nunca entendi o porque dela se preocupar tanto comigo, eu sempre achei que aquela preocupação toda era exagerada.
- Como assim? - Perguntei.
- Bom, ela nunca me deixava ir para a casa de nenhum amigo ou ir para nenhum passeio da escola, também me dizia para não fazer muitos amigos e nem levar nenhum para a nossa casa. - Respondeu. - Eu também não podia brincar na rua e nem sair muito com ela, pois ela sempre dizia que a cidade estava muito perigosa e que ela tinha medo que acontecesse algo comigo, e como eu já te disse, ela quase não permitiu que eu fosse aquele acampamento.
- Mais as coisas melhoraram quando você cresceu, não é?
- Eu também achava que melhorariam, que talvez aquela preocupacao toda fosse somente porque eu era criança, mais quando eu cresci as coisas ficaram piores.
- Falou. - Quando eu começei a trabalhar ela costumava me ligar a cada meia hora para saber se estava tudo bem, ela também não gostava que eu saísse muito de casa, por conta disso de eu ter crescido sem sair muito eu acabei gostando de ficar sozinho, então eu dificilmente saía.
- Ela deveria estar com medo de que você acabasse descobrindo a verdade ou que os meus pais ainda estivessem pagando alguém para te encontrar.
- Eu disse.
- Hoje isso faz muito sentido, mais antes isso nunca iria passar pela minha cabeça. - Falou. - Mais também tem outra coisa, na verdade estava mais para uma sensação.
- Sensação? - Ele fez sim com a cabeça ainda sem olhar para mim.
- Eu sempre carreguei comigo uma sensação estranha, como se eu estivesse longe de casa ou que eu estava no lugar errado, eu nunca entendi isso porque eu estava na minha casa, então porque eu sentia que estava longe? Não fazia sentido algum, mais agora eu entendo, era porque eu realmente estava longe de casa, da minha verdadeira casa.
- Eu também sentia algo parecido. - Eu disse. - Mais no meu caso eu tinha a sensação de que não estava inteira, como se algo tivesse sido roubado de mim, então eu te conheci e essa sensação foi embora, hoje eu também entendo o porque, você é realmente uma parte de mim que me foi roubada.
- E você era uma parte do meu verdadeiro lar, por isso que aquele sentimento também sumia quando eu estava ao seu lado.
- Então talvez nós nunca tenhamos nos amado de verdade, talvez por não sabermos a verdade acabamos confundindo os nossos sentimentos.
- Falei com a voz um pouco mais baixa.
- Talvez. - Ele disse então finalmente olhou para mim. - Ou talvez não.
Então nós voltamos a comer os nossos sorvetes sem falar mais nada.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora