Linda Graymark.
Depois daquela pequena discussão com o meu pai eu resolvi não tocar mais no assunto, até porque ao meu ver não iria adiantar nada ficar tocando naquele assunto já que estava na cara que ele não iria me dizer nada, resolvi esperar até a minha ida para São Paulo para que eu pudesse finalmente confrontar a minha mãe, porque era isso o que eu iria fazer assim que chegasse em casa, eu iria confronta-la, não importa quantas vezes o meu pai me pedisse para deixar as coisas para lá, eu simplesmente não podia fazer isso, a minha mãe tinha fugido de mim por todos esses anos, agora ela não fugiria mais, porque eu não iria deixar.
Eu tinha ficado em silêncio por muito tempo, agora ninguém me calaria outra vez, querendo ou não ela iria ter que me contar a verdade ou então eu iria descobrir sozinha e tinha certeza de que naquela casa, na minha casa eu encontraria alguma coisa que me levasse até ela, mais precisamente por trás daquela porta que vivia trancada a sete chaves.
***
Os dias foram virando semanas e as semanas foram se tornando meses, os meses mais felizes da minha vida, se ouso dizer, e todos eles ao lado de Romeu, nós passavamos praticamente todos os dias juntos, exceto os dias em que ele saia com o seu amigo ou com a mãe para consultas médicas regulares, já que ele havia me contado que a mãe sofria de problemas cardíacos e, pelo visto, eles estavam piorando, e eu podia ver em seus olhos o quanto ele estava preocupado, tanto que eu até tinha me oferecido para falar com o meu pai para que ele pudesse levar a sua mãe até o hospital em que ele era sócio, mais ele recusou, disse que a mãe já estava sendo tratada em um ótimo hospital e que como ela era acompanhada lá, não era recomendado que ela mudasse, ainda mais quando não iria fazer diferença alguma entre um tratamento e outro, mais ainda assim ele me agradeçeu. Sendo assim nos dias em que ele ficava com a mãe eu aproveitava para sair pela cidade para desenhar e comprar algumas coisas de desenho e também coisas para levar na viagem, não a viagem para São Paulo, mais sim para levar para os Estados Unidos, sim, eu finalmente tinha recebido a resposta da bolsa de estudos em que o meu professor de artes havia me inscrito em Londres e, sim, eu fui aceita, e teria que me presentar lá daqui a alguns meses, ou seja, eu ainda tinha algum tempo para contar para os meus pais e, é claro, para Romeu, eu não gostava de esconder isso dele, mais não queria que ele se preocupasse com mais outra coisa agora, já que ele ja estava preocupado com a mãe e com o fato da minha ida para São Paulo estar se aproximando, fora que eu nem tinha me decidido se iria ou não estudar lá, sim, por um lado eu havia sido aceita e estava muito feliz por isso, mais por outro lado, o meu coração doía porque eu não queria me separar do Romeu, se eu já não podia antes imagina agora que estava cada vez mais apaixonada por ele e eu sabia que devido ao estado em a sua mãe estava ele não poderia ir comigo e eu jamais seria capaz de pedir isso a ele, seria muito egoísmo da minha parte pedir que ele deixasse a mãe sozinha e doente em casa para ir morar comigo em outro país. Não, eu não faria isso. Era como se eu estivesse jogando cabo-de-guerra dentro de mim com cada lado puxando mais forte para ver quem vencia, em um lado tinha o meu sonho de ser uma artista e com essa bolsa tinha uma enorme chance de que eu conseguisse isso, já que era uma das melhores faculdades de artes dos Estados Unidos, já no outro lado estava o homem que eu amava, que eu tinha passado a minha vida toda esperando e que, de certo modo era o meu sonho também. Quando eu aceitei me inscrever para essa bolsa, parte de mim não acreditou que eu conseguiria, já que as chances eram como uma em um milhão, mais eu também pensei que se por algum milagre eu conseguisse, Romeu iria comigo e, mesmo sem saber como a nossa história iria terminar, eu tinha esperança de que seria com nós dois juntos passeando pelo Central Park em Nova York. Mais agora eu já não tinha mais tanta certeza de que as coisas terminariam dessa forma. Já o meu relacionamento com o meu pai estava tranquilo, mais depois daquela conversa nós nos distanciamos, cada um tinha ficado no seu canto, ele passava cada vez mais tempo no trabalho e embora eu não soubesse como era a rotina dele antes de eu voltar, duvidava que ele pasasse tanto tempo assim no hospital, ao meu ver, ele também estava me evitando e como ele sabia que eu passava as tardes com Romeu, o meu "amigo", ele não precisava se preocupar com o fato de eu ficar tanto tempo sozinha, mais eu confesso que eu sentia falta dele, quando eu era criança nós éramos muito próximos, era ele que preenchia um pouco o vazio que tinha sido deixado pela minha mãe e agora sem o seu carinho esse vazio tinha voltado por completo. Eu tinha esperado tanto tempo para ver o meu pai de novo e agora nós estavamos assim e, por mais que eu quisesse tê-lo por perto, eu não podia fazer isso, ele precisava saber que o seu silêncio tinha consequências e essa era uma delas, eu sabia que o estava magoando, mais não tinha outra opção, as coisas tinha que ser assim.
Romeu e eu não voltamos mais na casa um do outro, depois do que ouve quando ambos conheceram os pais um do outro, nós achamos melhor adiar o encontro para evitar que aquilo acontecesse novamente, decidimos que nós só nos encontraríamos com eles quando ambos estivessemos prontos e, para ser sincera, eu ainda não me sentia assim e, para ser sincera novamente, eu não acho que estaria tão cedo, e ele parecia se sentir da mesma forma, já que não voltou a tocar nesse assunto, o que de certa forma era um alívio para mim, nós não precisavamos disso, dessas complicações, só precisavamos um do outro e por enquanto isso era o bastante.
Eu ainda estava perdida nesses pensamentos quando a voz de Romeu me trouxe de volta a realidade, era fim de tarde e nós estavamos na praia esperando o sol se por. Eu tinha aprendido a amar ver o sol se por no horizonte, ele tinha uma beleza digna de ser transportada para um quadro e, é claro, eu já tinha feito isso, não com tintas, mais em desenhos a lápis, mais eu nunca conseguia chegar nem perto daquela perfeição.
- Linda? - Romeu chamou outra vez, ele estava deitado na areia com a cabeça em meu colo enquanto eu passava as mãos no seu cabelo.
- Sim?
- No que você está pensando? - Ele perguntou, eu respirei fundo antes de responder.
- Em muitas coisas, e você? - Abaixei a cabeça para olhar para ele que estava olhando para mim.
- Na sua viagem semana que vem. - Disse, eu iria na segunda e hoje era sexta.
- Eu sei, eu juro que não queria ir, mais talvez seja bom, você sabe que eu preciso conversar com a minha mãe e, em todos esses meses em que eu voltei, ela não me ligou nenhuma vez e nem atendeu na vez em que eu que liguei para ela. - Sim, eu havia ligado para o celular dela uma vez a pedido do meu pai, nas poucas vezes em que nós nos falamos, mais ela havia rejeitado a minha ligação, então eu simplesmente não liguei mais.
- E ainda assim você quer voltar para lá? - Perguntou.
- Nós já conversamos sobre isso Romeu, eu preciso de respostas, respostas essas que eu só encontrarei naquela casa, principalmente naquela porta que vivia sempre trancada. - Respondi e ele se sentou ao meu lado olhando para mim.
- E nós também já conversamos sobre isso, talvez realmente não tenha nada lá.
- Se não tivesse o meu pai não tinha me dito para deixar esse assunto para lá. - Disse e o vi respirar fundo. - Romeu, porque você não diz o real motivo de não querer que eu faça essa viagem, ainda mais quando você sabe o quanto esse assunto sobre a minha família é importante para mim. - Ele pegou na minha mão e me lançou um olhar suplicante.
- Eu estou com medo. - Disse. - Medo de perder você de novo, afinal, da última vez em que nós nos despedimos, eu não tive notícias de você por oito anos, e isso foi desesperador para mim, eu não quero passar por aquilo de novo, eu não posso te perder de novo. Simplesmente não dá. Ele respondeu. Eu sabia que era isso, mais eu precisava ouvi-lo dizer, então eu levei a minha mão até o seu rosto e disse.
- Você não vai me perder de novo, porque você nunca me perdeu, eu sempre fui sua Romeu e sempre vou ser. - Falei. - E também eu não sou mais aquela criança que eles podiam mandar para onde quisessem, não ha nada que eles possam fazer ou dizer que faça com que eu me afaste de você. - Foi então que eu pensei em algo e sorri. - Você lembra da letra daquela música? A que ouvimos enquanto dancavamos na sua casa? - Eu tirei a minha mão de seu rosto e me levantei pegando em suas mãos e o levantando comigo, depois eu olhei em seus olhos castanhos iguais aos meus e começei a citar a letra da música. - Me perco no seu olhar... - Sorri para ele o incitando a continuar a letra de onde eu tinha parado e foi o que ele fez.
- E te peço para ficar... - Disse.
- Sei que nada vai mudar, se não, por dentro...
- Eu nunca pude acreditar, na força de um momento.
- Eu já não posso te evitar, sou teu, mais não vou mais esperar eu sei...
- Sou mais do que possa ver, dessa dor dentro de mim.
- Essa vai ser a nossa música agora e enquanto eu estiver longe, quero que você escute ela quando a saudade apertar, ok?
- Mais o refrão da música não tem nada haver conosco, afinal, não somos Romeu e Julieta de verdade com um amor proibido para viver. - Ele disse.
- É verdade, mais o começo sim, porque bastou um único momento para mudar completamente as nossas vidas, pois foi isso o que aconteceu comigo Romeu, no momento em que eu te conheci naquele acampamento, a minha vida mudou para sempre.
- A minha também, você preencheu a minha vida Linda, fez eu me sentir em casa, eu estava perdido até te encontrar e você me achou e me trouxe de volta ao lugar a qual eu pertenço, você me trouxe para o seu lado.
- Você está vendo? Não temos com o que nós preocupar, afinal, um sentimento tão forte não pode ser destruído nem mesmo pela mais forte das tempestades. - Ele fez que sim com a cabeça e se aproximou um pouco mais de mim.
- Eu confio no que nós sentimos. - Disse. - Confio nesse sentimento que nos manteve juntos mesmo quando estavamos separados. - Continuou e se aproximou mais um pouco de mim.
- Linda, eu sei que talvez seja cedo para dizer isso, mais eu vou dizer mesmo assim, porque eu nunca tive dúvidas disso e quero que você ouça o que eu vou dizer antes de viajar para leva-las com você em seu coração. - Ele se aproximou mais e agora os nossos rostos estavam quase se tocando. - Eu te amo Linda. - Eu já tinha ouvido falar que quando estavamos apaixonados ficavamos com as famosas "borboletas no estômago", eu não sabia que isso era verdade, mais ao ouvi-lo dizer que me amava, eu juro que senti as asas dessas borboletas baterem bem fortes dentro de mim e começarem a voar, então eu olhei bem dentro dos olhos do garoto que tinha acabado de dizer que me amava e disse aquelas palavras que vieram do fundo da minha alma e do meu coração.
- Eu também te amo Romeu, eu sempre amei e eu sempre vou amar. - Ao ouvir essas palavras ele acabou a pequena distância que ainda existia entre nós e me beijou enquanto o por-do-sol e o mar ao nosso lado eram testemunhas do nosso amor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída.
RomanceLinda. Eu cresci entre o amor e o ódio. Minha mãe me odeia desde que eu nasci, ao olhar dela eu nunca fui merecedora de nenhum gesto de afeto, nenhum abraço, nenhuma palavra de carinho e muito menos do seu amor. Já meu pai, ele me ama muito. Consigo...