Romeu Alcântara.
Uma semana, fazia exatamente uma semana que ela havia partido, mais para mim parecia que tinham se passado anos desde a última vez em que eu havia visto Linda. Sei que parece bobagem falar isso, na verdade eu acho que deve soar até um pouco ridículo, mais é isso que o amor faz conosco, nos deixa ridículos, nos faz fazer coisas ridículas, escrever coisas ridículas, comprar presentes ridículos e falar com coisas ridículas como essa que eu acabei de falar, mais fazer o que? Vai ver o amor é mesmo ridículo e, se eu não me engano, um certo poeta disse algo parecido uma vez, "todas as cartas de amor são ridículas", suponho que ele estava se referindo ao restante das coisas também, afinal, o amor é um pacote completo, você não pode comprar só uma parte dele, até porque, se pudesse, então eu acho que não seria amor de verdade, não é mesmo?
Mais mesmo sendo ridículo, era assim que eu me sentia, se antes de Linda viajar eu mal aguentava esperar passar as miserável horas da manhã para enfim terminar o meu turno na loja para finalmente poder ficar com ela a tarde, imagine agora, que ela estava a quilômetros de distância de mim, era um inferno total, ainda mais porque eu não pude ficar com ela durante o final de semana antes dela viajar, pois a minha mãe acabou se sentindo mal e eu tive que ficar com ela, fora que eu quase não consegui chegar a tempo para me despedir dela antes que ela entrasse no avião por esse mesmo motivo.
Nós conversavamos todos os dias, é claro, por chamada de vídeo, mensagens e até mesmo ligações, mais não era a mesma coisa, não era como tê-la ao meu lado para que eu podesse abraça-la e, é claro, beija-la, mais era melhor do que não ter nenhum contato com ela.
No primeiro dia ela apenas me mandou uma mensagem curta, dizendo que tinha chegado bem e que iria dormir cedo porque estava cansada da viagem e embora eu não tenha tocado no assunto, eu senti que havia alguma coisa errada, mais resolvi deixar para lá.
Já no segundo dia ela me ligou e me contou a verdade, disse que finalmente tinha conseguido entrar no quarto que vivia trancado em sua casa e que isso gerou uma enorme discussão com a mãe que a pegou dentro do quarto, eu perguntei o que havia lá dentro mais ela me disse que iria me contar pessoalmente quando voltasse, depois me contou que o seu tal amigo estava trabalhando como motorista em sua casa mais que a mãe havia lhe dispensado por alguns dias, o que acabou me deixando mais aliviado.
- No terceiro dia ela fez uma chamada de vídeo e fez um tour comigo para mostrar a sua casa que era realmente muito parecida com a minha, também me contou que o pai havia conversado com a sua mãe e ele havia conseguido convece-la a vir para o jantar na minha casa, o que também acabou me deixando mais aliviado, já que isso significava que ela e a mãe tinham se entendido depois daquela discussão.
Já no quarto dia, ela me ligou dizendo que a mãe estava louca, disse que ela tinha começado a arrumar o quarto de hóspedes da casa, trocando todos os móveis por outros, comprando objetos para decora-lo e lhe fazendo várias perguntas ao meu respeito, como quais eram as minhas comidas preferidas, de quais cores eu gostava e até como era o estilo das minhas roupas, ela disse que a mãe só parou com as perguntas depois o pai dela teve uma conversa com ela. Então eu disse a Linda que talvez ela não devesse dar tanta importância a isso, que talvez a mãe dela só quisesse me conhecer melhor, que talvez até estivesse desconfiando do motivo desse jantar e que as mães costumavam perceber essas coisas, que era só olhar para a minha que bastou eu dizer que iria trazer a minha "amiga" para jantar no dia do meu aniversário para que ela finalmente pudesse conhece-la junto com os pais dela que ela já tinha passado horas me perguntando várias coisas sobre ela, como que tipo de comida ela gostava, se era alérgica a alguma coisa, até mesmo a sua cor preferida ela havia perguntado para mim para colocar uma toalha de mesa dessa cor. Fora que ela também não parava de me perguntar o nome dela, coisa que eu ainda não tinha dito, apenas para deixa-la ainda mais curiosa e ao saber disso Linda brincou comigo me dizendo que isso não se faz com uma mãe, eu retruquei dizendo que isso era pouco perto de quantas vezes ela tentou me convencer a arrumar uma namorada antes dela voltar e com isso Linda disse que realmente era uma boa idéia castiga-la assim.
já no quinto dia nós trocamos mensagens enquanto ela passeava no shopping com o pai, disse inclusive que iria aproveitar para comprar o meu presente de aniversário, eu claro, não perdi a oportunidade brincar com ela e lhe disse que o único presente que eu queria era ela e, ao dizer isso eu ganhei vários emojis de corações.
Mais ontem eu fiquei preocupado porque ela me ligou e disse a mãe tinha lhe pedido para que depois que passesse o seu aniversário ela voltasse para São Paulo com o pai para morar com ela, ela também disse que a mãe havia mudado um pouco com ela, não tão tanto, é claro, mais que agora ela estava fazendo as refeições do dia com ela e o pai, o que junto com esse pedido dela morar com ela poderia significar que ela estava tentando uma reaproximação e que isso, de certa forma, estava mexendo com os sentimentos dela, já que tudo o que ela sempre quis foi conseguir pelo menos um pouco do amor e do carinho da mãe. Eu queria muito que ela resolvesse continuar morando no Rio, mais por mais que eu quisesse isso, eu jamais iria pedir isso a ela, eu havia percebido nesses meses em que estivemos juntos que apesar dela não falar isso diretamente, Linda sentia muito a falta da mãe em sua vida e eu não poderia ser tão egoista ao ponto de pedir que ela, de certa forma, me escolhesse ao invés da mãe, eu nunca poderia pedir uma coisas dessas a ela.
No sexto dia nós não nos falamos muito, pois a minha mãe tinha praticamente me arrastado para fazer compras, coisa essa que, como todo homem, eu detestava, ela tinha me feito andar praticamente pelo shopping inteiro comprando coisas para o jantar, ela havia comprado de tudo, toalhas de mesa, flores para enfeitar a casa, até pratos e talheres novos ela havia comprado, tudo para que o jantar, nas palavras dela fosse perfeito, na verdade, estava parecendo que eu iria pedir a mão de Linda em casamento e não apenas comunicar o nosso namoro, eu não sei de onde ela tinha tirado tanta energia, ainda mais quando a poucos dias atrás ela estava doente e de cama por ordens médicas.
O bom desse passeio é que eu pude comprar, ou melhor, fazer o presente de Linda e eu esperava que ela gostasse.
Hoje, finalmente fazia uma semana, Linda chegaria amanhã, bem no dia do nosso aniversário, ela havia me dito que viria direto do aeroporto para a minha casa, pois os pais dela só tinham conseguido um vôou que saia de São Paulo as seis horas da noite, o que significava que ela só chegaria umas sete ou oito horas, então só daria tempo dela passar no apartamento do pai para deixar as malas e depois seguir direto para a minha casa, eu cheguei a perguntar se ela queria que eu fosse busca-la mais ela me disse que não era necessário, pois ela viria no carro do pai.
Então, aqui estava eu, sozinho com os meus pensamentos enquanto almoçava olhando para o mar, eu tinha saído do trabalho direto para o quiosque da Laura, já que a minha mãe tinha ido passar a tarde no park. Na verdade, eu já tinha acabado, estava apenas sem vontade de voltar para casa, então eu resolvi ficar mais um tempo aqui apenas olhando para o mar e pensando nela, em Linda, até que eu ouvi uma voz e várias gotas de água pingaram no meu rosto, olhei para o meu lado e dei de cara com o surfista mais chato que eu conhecia, Sam, com o seu cabelo castanho molhado, a prancha de surf embaixo do braço e a sua típica cara de irônia que ele sempre me lançava quando sabia que eu estava pensando em Linda. Eu não o via desde que eu tinha começado a sair com ela, já que ele vivia farreando por aí como a sua mãe dizia, mais nós tinhamos nos falado pelo telefone algumas vezes e eu já tinha lhe contado as novidades.
- Você não cansa de fazer isso? - Perguntei a ele me referindo ao banho que ele tinha acabado de me dar.
- Para ser sincero não, afinal, nunca perde a graça. - Disse sentando na cadeira a minha frente e escorando a prancha na mesa. Ainda mais quando você está com essa cara de bobo apaixonado.
- Um dia eu vou ver você com essa mesma cara, então nós veremos quem vai zombar de quem.
- Você pode até querer meu amigo, mais esse cara aqui. - Disse apontando o polegar para o próprio peito. - Ele tem todas mais não é de nenhuma - Eu rir dessa última frase dele.
- Essa é a frase mais idiota que eu já ouvi na vida.
- Não é uma frase idiota, é uma frase de um conquistador.
- Você pode chamar do que quiser, eu continuou achando que é uma frase idiota.
- Você só diz isso porque nunca se permitiu ser igual a mim. - Com isso eu gargalhei alto.
- Ser igual a você? - Eu disse em tom sarcástico. - Eu prefiro a morte, mais obrigado.
- Eu posso cuidar disso, se você quiser. Ele disse brincando.
- Não obrigado, quero passar muito tempo com a minha namorada antes de partir. - Respondi.
- E por falar na sua namorada, quando eu terei o prazer de conhece-la?
- Linda conhecer você? Pode esquecer, eu jamais deixarei você por os seus olhos nela, ainda mais você sendo tão cafajeste do jeito que é.
- Eu jamais daria em cima da namorada do meu amigo, mais... - Disse Com um risinho. - Se for ela que der em cima de mim, ai eu não prometo nada.
- Parece que alguém está querendo ganhar um olho um roxo. - Falei o olhando sério.
- Tudo bem, tudo bem, eu me rendo, pode ficar com a sua Julieta, Romeu. - Disse levantando os braços em sinal de rendição. - Mais, falando sério agora, quando eu vou conhece-la? Confesso que eu estou curioso para conhecer a garota que fez você rejeitar todas as outras que deram em cima de você por todos esses anos.
- Ela vai chegar de viagem amanhã e vai jantar na minha casa com os pais, depois disso nós podemos marcar alguma coisa para que eu possa te apresentar a ela.
- Bom, então me ligue quando tiver tudo certo ok?
- Pode deixar. - Eu respondi. - Bom, agora eu vou indo, diga a sua mãe que a comida estava ótima como sempre. - Então eu me levantei, peguei a carteira do bolso, tirei o dinheiro da minha comida e a deixei em cima da mesa. - Eu vejo você depois.
- Tranquilo e, Romeu, antes que eu me esqueça, Feliz aniversário. - Disse. - Caso eu esteja muito ocupado amanhã para te ligar. - Disse indicando para um grupo de garotas que estavam sentadas na mesa ao lado.
- Eu só tenho uma coisa a lhe dizer, meu amigo. - Respondi. - Cuidado com essas suas ocupações.
- Eu nunca tenho. - Disse e com isso eu o deixei com as suas "ocupações" e segui para a rua em direção a minha moto para ir para casa.
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Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída.
RomanceLinda. Eu cresci entre o amor e o ódio. Minha mãe me odeia desde que eu nasci, ao olhar dela eu nunca fui merecedora de nenhum gesto de afeto, nenhum abraço, nenhuma palavra de carinho e muito menos do seu amor. Já meu pai, ele me ama muito. Consigo...