Dando Um Tempo.

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Meu pai sempre me ensinou o que era o certo e o que era o errado, e a medida em que fui amadurecendo, aprendi a distinguir sozinho.
Sempre foi apenas eu e o meu pai, minha mãe havia morrido no parto e meus avós moravam em outro estado.
Cresci em São Paulo já sabendo que seguiria os passos do meu pai, ele era médico, ortopedista, na verdade e eu estava seguindo pelo mesmo caminho, até que o perdi por conta de problemas cardíacos, então decidi mudar a minha especialização para cardiologia.
Nunca me imaginei com uma família, até que a conheci, Selma, eu havia acabado de ser contratado por um hospital e esbarrei nela logo no primeiro dia, acabei me apaixonando por ela. Como eu ela não tinha ninguém, isso talvez isso tenha nos aproximado ainda mais um do outro. Tudo aconteceu muito rápido, logo estavamos casados e ela grávida de gêmeos, tínhamos tudo, amor, uma vida estável e dois filhos a caminho, tudo estava no seu devido lugar, até aquela mulher entrar em nossas vidas. Ela conseguiu enganar a todos, inclusive eu que no começo tinha uma certa desconfiança a seu respeito.
Selma a contratou para trabalhar na nossa casa mesmo ela estando grávida, nós demos tudo a ela, casa, comida, emprego e o nosso apóio, mais quando ela perdeu o filho no parto o seu verdadeiro eu foi revelado. Em uma noite quando eu e minha esposa saímos para jantar, ela aproveitou para roubar um de nossos filhos. Selma ficou completamente destroçada e eu também. Nós procuramos nosso filho por muito tempo mais nem a policia e nem os investigadores particulares que eu contratei conseguiram localiza-la, aquela mulher simplesmente desapareceu. Depois que as buscas finalmente foram canceladas, Selma mudou totalmente, ela ficava o tempo todo trancada no quarto e sempre que ela ouvia o nome do nosso menino ela começava a chorar, então os médicos dela me aconselharam a me livrar de tudo o que pudesse lembrar o nosso filho e não tocar mais no seu nome, porque talvez assim Selma acabasse melhorando, então eu fui obrigado a mandar todos os nossos empregados embora e substituí-los por outros que não sabiam do que tinha acontecido com o nosso menino, apenas um permaneceu, Pedro, o nosso motorista, eu simplesmente não podia manda-lo embora sendo que ele tinha um filho de quatro anos para sustentar.
Também tive que trancar todas as coisas do meu filho no quarto que era para ele e para a sua irmã, que fui obrigado a muda-la de quarto.
Minha menina talvez tenha sido a que mais sofreu nessa história fora o nosso filho, é claro, pois Selma não conseguia nem mesmo ouvir falar no seu nome, ela dizia que aquela menina só trazia sofrimento, pois a lembrava constantemente do filho que ela havia perdido. Linda cresceu recebendo total desprezo da mãe e vê-la sofrendo me quebrava por dentro. Decidi que dedicaria a minha vida a ela, lhe dando todo o amor e carinho que podia, mais ainda assim eu sabia que não era o suficiente, ainda porque Selma não queria aquela menina por perto, tanto que uma vez fui obrigada a manda-la para um acampamento que estava claro que ela não queria ir, mais eu não tive escolha.
Meu casamento já estava muito desgastado e eu não aguentava mais as discussões com a minha esposa, então eu evitava ao máximo não contraria-la, apesar de tudo o que estavamos passando, eu ainda mantinha uma esperança de que talvez o nosso casamento ainda pudesse ser salvo, pelo menos até aquele dia.

Luciano Graymark, 8 Anos Atrás.

- Você não fez isso! - Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. - Não consigo acreditar que você se aproveitou de que eu havia chegado exausto daquele plantão para me fazer assinar aquele documento.
- É claro que fiz, até porque, se tivesse falado com você sei que jamais teria concordado. - Ela falava tranquilamente enquanto escovava os cabelos em frente a sua penteadeira.
- É claro que não, eu jamais concordaria em mandar Linda para um internato. - Eu passava as mãos no meu cabelo, meu sangue estava começando a ferver.
- Exatamente. Por isso agi dessa maneira, precisava da sua assinatura e sinceramente eu não me arrependo do que eu fiz. - Foi com essa mulher que eu havia me casado?
- Como pôde fazer isso, sabe como Linda vai ficar ao saber que quando voltar do acampamento em vês de vir para casa irá direto para um aviao? - Ela me olhou ao responder.
- Não, eu não importo como ela vai ficar, eu só quero esquecer e para isso eu preciso ficar longe dessa menina. -Eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo.
- Você acha que eu não sofro pela perda do nosso filho? Acha que eu também não gostaria de esquecer? -Mais a verdade é que não importa o que a gente faça Selma, jamais poderemos esquecer que tivemos um filho um dia e que ele foi tirado de nós. - Com isso ela se levantou e me olhou com fogo nos olhos.
- Eu não quero esquecer do meu filho, eu nunca vou fazer isso, porque sei que um dia irei encontra-lo. Tudo o que eu quero é esquecer um pouco dessa dor que está no meu coração e enquanto essa menina estiver por perto, isso não vai acontecer.
- Você não percebe, não é? - Eu estava cansado de sempre ter que repetir a mesma coisa e ela simplesmente não conseguir ver o quanto ela estava errada. - O quanto você a machuca com o seu desprezo, com a sua rejeição que para ela não tem nenhuma explicação. Se ao menos ela soubesse sobre Simon, talvez ela consseguisse... - Não consegui terminar de falar, pois ela me interrompeu gritando com todo o ar que tinha em seus pulmões.
- Ela nunca, ouviu bem, NUNCA vai saber! - Eu respirei fundo. - E chega desse assunto, já esta decidido, ela vai e pronto, essa conversa não vai nos levar a lugar algum.
- Você tem razão. - Falei, aquela conversa não havia sentido. Nós não tinhamos sentido. - Talvez seja mesmo uma boa idéia Linda ficar longe, já que eu só estou nesta casa ainda por causa dela, talvez seja hora de darmos um basta nesse casamento de fachada. - Seu rosto ficou sério. -O que você quer dizer com isso?
- Que nós precisamos de um tempo, vou aproveitar o tempo que Linda estiver fora para ficar um tempo morando no Rio, vai ser melhor para nós dois. - Disse eu e fui em direção a porta, já estava atrasado para o trabalho.
- Está dizendo que vai se divorciar de mim? - Ouvi um certa tristeza em sua voz, mais talvez tenha sido apenas o meu coração buscando nem que fosse um pequeno fio de esperança de que talvez aquele ainda não fosse o fim para nós dois.
- Estou dizendo que precisamos de um tempo para decidirmos o que realmente queremos e se ainda a alguma chance desse casamento ser salvo. - Disse sem me virar para olhar para ela. - Irei assim que Linda voltar do acampamento e deixa-la no aeroporto. - Com isso eu saí do quarto e fui para o trabalho, que nos ultimos anos vinha sendo a minha rota de escape.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora