Uma Nova Realidade.

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Linda Graymark.

Há uma semana atrás, quando eu estava em São Paulo com os meus pais, não havia nada que eu quisesse mais do que voltar para o Rio de Janeiro e jantar com o Romeu e os nossos pais, queria apresenta-los e contar do meu namoro com Romeu e em como eu o amava e estava apaixonada.
Eu pensei que nós teríamos uma noite mágica, que jantariamos entre risadas e conversas e que depois Romeu iria se levantar e dizer a todos que estava apaixonado por mim, que me amava e depois ele pediria permissão aos meus pais para namorar comigo.
Eu passei a semana inteira sonhando com esse dia, contando os dias, as horas para estar finalmente nos braços dele e enche-lo de beijos, mais de repente todos os meus sonhos cairão dentro do mais profundo e escuro abismo e eu havia acordado do meu lindo conto de fadas para o pior pesadelo da minha vida.
Se eu pudesse voltar no tempo eu jamais teria dado a idéia desse jantar, aliás, eu nem se quer teria viajado para São Paulo, teria ficado no Rio com Romeu e o meu pai, pois assim eu nunca teria descoberto essa verdade tão terrível que agora me atormentava, porque mesmo sabendo que ele era o meu irmão, eu ainda estava apaixonada por ele, eu ainda o amava como no primeiro dia que eu o vi quando ainda era uma criança naquele acampamento, mais eu tinha que arrumar forças de algum lugar dentro de mim para poder arrancar esse sentimento do meu coração que agora era proíbido.
Romeu era o meu irmão, irmão gêmeo, de repente todo aquele sentimento que eu senti a vida toda agora tinha uma explicação.
Era por isso que eu sempre senti que faltava uma parte de mim, era por isso que eu sempre tive a sensação de que uma parte de mim havia sido roubada e era por isso que esse sentimento desapareceu quando eu finalmente o encontrei, era porque ele realmente era uma parte perdida de mim, nós estavamos juntos muito antes de nascermos, nossas almas realmente tinham um laço que não podia ser quebrado, nós estavamos juntos, mais ao mesmo tempo nós nunca estivemos tão longe um do outro e agora mais do que nunca eu precisava ficar longe dele para poder começar a vê-lo como o que ele realmente era, o meu irmão.
O pior era que eu sabia que eu não podia fazer isso, porque era nesse momento que ele mais precisava de mim, pois a sua vida não seria nada fácil, ele havia perdido a única família que tinha conhecido e ganhado outra totalmente estranha e a única coisa que ele reconhecia como sendo familiar para ele era eu.
Então sabendo disso aqui estava eu, olhando para ele de longe sozinho enfrente ao túmulo da sua mãe.
Depois daquela noite foi o meu pai que se encarregou do enterro, ele conversou com Romeu que disse que preferia que a cerimônia fosse o mais simples possível, já que a mãe, que ele ainda a chamava assim, não tinha amigos ou conhecidos, então ele optou por não ter velório. O enterro havia acabado de acontecer e somente eu e os meus pais estavamos presentes, na verdade nós estavamos com ele até agora, mais ele nos pediu para ficar um momento sozinho.
A coisa toda aconteceu muito rápido e desde o ocorrido de ontem nós não havíamos conversado ainda, como eu disse, a coisa toda aconteceu muito rápido, quando a ambulância chegou, a mãe de Romeu já havia falecido, ela tinha tido um infarto devido as emoções da noite, meu pai havia ficado com ele na casa para resolver todos os trâmites e eu e a minha mãe voltamos de táxi para o apartamento do meu pai, mesmo com a relutância dela, quando nós enfim chegamos no apartamento cada uma foi para um quarto sem dar nenhuma palavra e no dia seguinte papai foi nos buscar para juntos nós virmos para o enterro.
Agora, mesmo ele tendo nos pedido para ficar sozinho, eu não pude
deixa-lo, eu sentia no meu coração que ele precisava de mim, então eu respirei fundo e me aproximei lentamente parando ao seu lado, ele se remexeu um pouco percebendo a minha presença.
- Desculpe. - Começei. - Eu sei que você disse que queria ficar sozinho, mais eu... - Não consegui continuar.
- Tudo bem. - Ele disse olhando para a lápide da sua mãe.
- Você a amava muito, não é? - Eu perguntei seguindo o seu olhar.
- Muito. - Ele respondeu. - Durante toda a minha vida ela nunca gritou comigo, nem me colocou de castigo, nem mesmo quando eu aprontava, ela simplesmente não conseguia ficar brava comigo, tudo o que fez esses anos todos foi me amar, eu simplesmente não consigo vê-la como esse monstro que os seus pais falam, uma bandida que roubou uma criança dos pais.
- Romeu, eu não sei porque a sua mãe fez o que fez, mais pelo o que nós sabemos ela havia acabado de perder o seu filho e, as vezes, a dor pode fazer com que as pessoas tenham atitudes impensadas, mais isso não significa que elas não tenham coração ou não sintam amor. - Eu disse. - Eu tenho certeza de que a sua mãe realmente amava você, caso contrário, ela não teria te criado com todo esse amor e carinho ao qual você fala.
- Você tem razão, mais infelizmente o que ela fez acabou mudando toda a minha vida, todos os planos que eu tinha para mim. - Ele se virou e olhou para mim. - Para nós. - Disse e eu abaixei a cabeça fechando os olhos.
- Romeu...
- O que eu faço Linda? - Ele perguntou. - O que eu faço agora com todo esse amor que eu sinto por você?
- Esquecer. - Respondi abrindo os meus olhos e olhando para ele. - Nós temos que esquecer.
- Mais e se eu não conseguir?
- Você tem que conseguir, NÓS temos que conseguir. Nós somos irmãos Romeu, temos que esquecer tudo o que vivemos e sentimos, por mais difícil que seja. - Eu me ouvia dizendo essas palavras e eu mesma não acreditava em nenhuma delas, mais eu tinha que fazer ele acreditar que isso era impossível, porque se não a nossa convivência seria muito difícil.
- Eu não sei se consigo. - Ele disse.
- Você vai vai conseguir, afinal, se nós tivessemos crescido juntos como deveria ter sido, esse sentimento jamais existiria.
- Mais não foi isso o que aconteceu, não crescemos juntos, não convivemos juntos, não aprendemos a nos amar como deveríamos.
- Mais vamos ter que aprender agora, além do mais, um dia você vai conhecer alguém e vai poder viver com ela o que não pode viver comigo. - Eu disse mais só de pensar em Romeu com outra pessoa eu senti o meu coração despedaçar ainda mais.
- Assim como um dia eu também vou conhecer alguém.
- Não! - Disse Romeu e me puxou pelo braço para perto dele e colou o seu corpo no meu. - Eu não posso nem se quer imaginar você com outra pessoa, abraçando outra pessoa, beijando outra pessoa...
- Romeu. - Falei colocando as mãos sobre o seu peito o empurrando de leve para tentar me soltar de seus braços, mais foi inútil porque ele estava me segurando forte. - Você tem que me soltar, alguém pode nos ver, por favor, não torne as coisas mais difíceis do que já são.
- Sabe porque? - Ele continuou sem se importar com o que eu tinha dito. - Porque esses lábios só pertencem a mim, você só pertence a mim e mesmo que eu não possa ficar com você, eu também não posso suportar que você fique com outra pessoa.
- Romeu, por favor... - Eu disse suplicando.
- Um beijo Linda, um último beijo antes de nós nos afastarmos para sempre. - Disse. - Por favor, eu preciso de um beijo seu, o meu mundo desabou sobre a minha cabeça e nesse momento eu preciso de você, preciso do seu amor para esquecer essa dor que está aqui dentro, só um beijo e eu me rendo a essa nossa dura realidade. - Eu sei que era errado, sei que eu não deveria, mais eu o queria, mesmo contra todas as possibilidades, eu o queria, e seria o último, um último beijo antes de eu me despedir para sempre do Romeu que eu amava e dar as boas vindas a outra pessoa, a Simon, o meu irmão. Então sem dar tempo para que eu mudasse de idéia, eu me aproximei de seus lábios e o beijei enquanto as nossas lágrimas que agora escorriam pelos nossos olhos molhavam os nossos lábios, lágrimas de despedida, nós estávamos dizendo adeus ao amor que nós sentiamos um pelo outro.

Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída. Onde histórias criam vida. Descubra agora