A minha vida toda eu senti falta de algo, como se o meu coração estivesse incompleto, como se alguma coisa tivesse sido roubada de mim, mais eu não sei o que é.
Mais para ser bem sincera, eu nunca tive muita coisa, pelo menos não o que eu sempre quis: O amor da minha mãe.
Passei a vida toda rodeada por amor e ódio, vivi em uma prisão da qual pensei que nunca seria capaz de me libertar, mais talvez agora que finalmente tenho 18 anos, eu consiga.
Eu moro em São Paulo com os meus pais, meu pai e cardiologista e também é sócio de um hospital no Rio de Janeiro, por conta disso ele sempre viajou muito e eu ficava em casa com a minha mãe e os empregados, mais mesmo a minha mae não trabalhando, eu quase nunca a via, ela ficava a maior parte do tempo trancada em seu quarto e eu ficava aos cuidados dos empregados da casa. Nas poucas vezes em que ficavamos juntas, ela me tratava com desprezo e ouso até dizer que com certa repulsa. Eu fazia de tudo para agrada-la, mas nada adiantava, ela simplesmente não me suportava, e a sua rejeicão me deixava em pedaços, eu não conseguia entender o motivo dela me tratar daquela maneira.
Eu perguntei várias vezes para o meu pai o porque dela agir daquela forma comigo, mais ele sempre dizia que era o jeito dela e que ela sempre foi assim, mais que ela com certeza me amava... Ha, meu pai, ele era o meu herói, sempre me tratou com muito amor e posso afirmar que fui muito mimada por ele. Sempre que podia ele me levava para passear e também me enchia de presentes, quando ele viajava o meu corção se partia em mil pedacinhos, ainda bem que tinha o Léo, ele era filho do nosso motorista e as vezes vinham ficar com o pai, poderia dizer que nós éramos melhores amigos, nos divertiamos muito juntos e embora o pai dele não gostasse muito que ele entrasse na casa por conta dele ser o filho do empregado da família, mesmo assim as vezes conseguiamos ir sorrateiramente até o meu quarto para brincarmos.
Mais apesar do amor do meu pai e do carinho que recebia de Léo, aquele vazio... Aquela sensação de algo faltando nunca desaparecia, e não era o amor da minha mãe, era algo que eu simplesmente não sabia o que era, mais sentia que era algo importante. Teve apenas um momento da minha vida em que essa sensação desapareceu e eu senti o que o meu coração estava completo, foi quando estava com ele, Romeu, o garoto com quem eu troquei o meu colar com a letra L que eu tinha desde criança pelo dele com a letra R e que nunca ousei tirar do pescoço. Aquele garoto que em poucas semanas conseguiu conquistar o meu coração.Linda Graymark, 8 anos atrás.
Eu tinha acabado de chegar da escola, estava muito contente porque finalmente as aulas tinham acabado e eu estava de férias, não que eu fosse fazer algo especial com os meus pais, nada disso, mais eu ficava muito feliz sempre que chegava o mês de julho, porque Léo ficava o mês inteiro das férias com o pai, ou seja, o mês inteiro comigo.
Quando desci do carro de Pedro a primeira coisa que notei foi que o carro do meu pai estava estacionado do lado de fora da casa, o que significava que ele tinha vindo almoçar em casa, o que era raro, fiquei tão feliz que entrei em casa correndo e subi as escadas em direção ao quarto dos meus pais, já estava quase lá quando escutei a voz do meu, que estava mais alta do que o normal, soube na hora que eles estavam discutindo outra vez, então parei em frente a porta para escutar. Sei que não é certo escutar a conversa dos outros, mais tente falar isso para uma garotinha de dez anos. Então, eu aproximei o meu rosto da porta e começei a escutar:
- Você não pode fazer isso. - Meu pai dizia.
- É claro que eu posso, sou a mãe dela.
- Engraçado que ela só é sua filha quando lhe convém. - Percebi na hora eles estavam falando de mim.
- Não venha usar esse discursinho comigo de novo, ele já está me cansando.
- Selma, por favor. - O tom de voz do meu pai diminuiu. - Você sabe o quanto é difícil para Linda fazer amigos, ela já está a anos na mesma escola e até agora não fez nenhum amigo, o único amigo que tem é o filho do Pedro.
- Isso vai ser bom para ela, vai ajudá-la a crescer.
- Não pense que vai me convencer de que está fazendo isso por ela. - Ouvi passos e olhei pela fechadura, meu pai andou em direção a minha mãe e parou bem na frente dela. - Meu amor... - Aquela foi a primeira vez em que ouvi o meu pai chama-la assim. - Quantas vezes nós já tivemos essa conversa, Linda não tem culpa do que aconteceu com o Simon. - Simon? Nunca tinha escutado aquele nome antes... E porque eu seria culpada pelo o que aconteceu com esse menino?
Minha mãe abriu a boca para falar algo mais foi interrompida, eu não havia percebido que estava apoiando o meu corpo na porta e ela acabou se abrindo e eu quase caí no chão.
Minha mãe se afastou do meu pai e me olhou com uma expressão de puro ódio, com certeza percebendo que eu estivera escutando atrás da porta.
- Você está bem, querida? - Meu pai se aproximou de mim com um olhar preocupado. - Se machucou?
- Não papai, eu acabei de chegar da escola e vi o seu carro na rua, então subi correndo para ver você.
- E aproveitou para dar uma de garota mal educada e ficar escutando a conversa dos outros atrás da porta. - Minha mãe falou, olhando para mim com uma expressão séria no rosto. Meu pai olhou feio para ela e depois se agachou na minha frente.
- Não ligue para a sua mãe, meu amor, ela está com um pouco de dor de cabeça. - Era o que o meu pai me dizia sempre que ela era grossa comigo.
- Papai?
- o que foi minha vida?
- Quem é Simon?- Posso jurar que o rosto do meu pai ficou branco, ele olhou para a minha mãe, que agora posso afirmar que estava furiosa. Ela andou depressa em minha direção, me segurou pelos ombros e gritou comigo.
- Nunca mais, ouviu bem, nunca mais volte a repetir esse nome, será que eu fui clara? - Comecei a chorar, estava com medo, minha mãe nunca tinha encostado a mao embora mim e muito menos falado daquela maneira comigo.
- Sim, mamãe. - Meu pai se levantou, pegou a minha mãe pelos ombros e rapidamente a afastou de mim.
- Calma Selma, também não é para tanto. - Minha mãe respirou fundo e voltou novamente o seu olhar para mim.
- Linda, eu tenho uma surpresa para você. - Enxuguei os meus olhos com as costas da mão, já ficando um pouco animada.
- Que surpresa mamãe?
- Como as suas férias começam amanhã, eu resolvi manda-la para um acampamento, serão quatro semanas e terá muitas crianças da sua idade, tenho certeza de que você irá fazer muitos amigos. - Meu pai olhou sério para ela e depois para mim, que estava começando a chorar outra vez.
- Mas mamãe, eu não quero ir, quero passar as minhas férias aqui, como todos os anos.
- Mais você vai, já está tudo decidido, o ônibus partirá amanhã. - Meu pai tirou as mãos dos ombros da minha mãe e veio aute mim.
- Serão apenas por quatro semanas, meu amor. - Ele passou as mãos no meu rosto para enxugar as minhas lágrimas. - Os dias irão passar tão rápido que quando você menos esperar já vai estar em casa novamente.
Com isso abracei o meu pai, eu realmente não queria ir, mais apesar de só ter dez anos, eu já sabia que quando a minha mãe dava uma ordem, eu tinha que obedecer, não importava o que fosse e nem mesmo o meu pai poderia fazer algo a respeito, então se ela disse que eu iria para esse acampamento, eu iria.
Eu não sabia na época, mais ir para aquele acampamento acabou sendo a melhor coisa que poderia me acontecer, pois lá eu conheceria o meu primeiro e único amor, um garoto chamado Romeu.
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Até Onde Você Iria Por Amor. Concluída.
RomanceLinda. Eu cresci entre o amor e o ódio. Minha mãe me odeia desde que eu nasci, ao olhar dela eu nunca fui merecedora de nenhum gesto de afeto, nenhum abraço, nenhuma palavra de carinho e muito menos do seu amor. Já meu pai, ele me ama muito. Consigo...