Capítulo 01 - Perdida

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Camila Cabello  |  Point of View





Eu estava aminhando por horas, minhas mãos estavam congelando e entrei na lanchonete Night Fog. Ele é uma lanchonete que fica aberta vinte e quatro horas. Eu não tenho dinheiro, só entrei um pouco para me esquentar e voltar a minha busca. Esbarrei em algo, bom… em alguém e ele me segurou pela gola do moletom, peguei uma garrafa e quebrei na mesa de bilhar, fazendo o barulho chamar a atenção de todos.

— Me solta ou eu rasgo toda essa sua cara nojenta. – Uma mulher entrou no meio de nós, segurando a garrafa da minha mão e fazendo o cara de soltar.

— Para com isso, Marco. Foi sem querer, eu vi tudo. – Ela disse e ela ficou me encarando por um tempo, depois voltou a mesa para jogar, todos voltaram ao que estavam fazendo e eu fui sair do bar, mas ela segurou meu braço.

— Sua doida, vai aonde? Quer ser morta na saída, Marco não vai esquecer seu rosto.

— Eu não ligo, ele vai ter que ser muito bom pra me matar.

— Só espere um pouco, eu te deixo em casa. Quer um café? – Minha barriga roncou, tão alto que nem os barulhos ali conseguiram abafar. — Isso foi um sim. – Ela me pegou pelo ombro e me puxou para o balcão.

— Não precisa. Eu sei me cuidar.

— Eu vi que sabe. – Ela disse e me entregou uma xícara, depois despejou café ali e me entregou um saquinho, que tinha metade de um sanduíche. — Que idade você tem? É tarde para você estar na rua?

— Mas que droga! Você é minha mãe por acaso?

— Se eu fosse você não estaria na rua até essa hora. Muito menos em um bar.

— Como se eu fosse a única menor aqui. Aqueles ali são todos da escola onde eu vou.

— Seus colegas?

— Não. Mas eu os vejo na cantina. – Falei enquanto comia o sanduíche.

— Meu nome é Madelaine Petsch, mas pode me chamar de Mads.

— Eu preciso ir. – Falei pegando o café e entornando todo seu conteúdo.

— Ei… espere. Eu levo você. Não precisa fugir.

— Não estou fugindo. – Falei revirando meus olhos e cruzando meus braços.

— Não importa, só espere que eu te deixo em casa. O grandão que você ameaçou e bem vingativo.

— Eu sei me virar.

— Já entendi isso.

Ela foi para os fundos e depois voltou, sem o uniforme. Se despediu e fez um sinal para que eu a seguisse. Acompanhei ela e fui dando as coordenadas da minha casa.

— Obrigada. – Falei quase pulando do carro, mas ela gritou e me seguiu.

— Calma. Quero falar com seus pais.

— É tarde, ela está dormindo e vai ficar muito puta comigo se souber que sai. – Ela me encarou, analisando-me por um tempo, depois olhou para casa e assentiu.

— Qualquer coisa pode me procurar, mas tome cuidado. As ruas são traiçoeiras a noite.

— Meu nome é Camila.

— Olha só… boa noite, Camila. – Assenti e ela saiu do carro, me deixando sozinha em frente a velha casa.

Entrei e sentei no sofá, puxando o cobertor para cobrir meu corpo, não demorou para eu pegar no sono.


×××


No outro dia, como minhas reservas acabaram mais cedo esse ano, tive que ir a escola para merendar. Assim que entrei na sala, todos os olhares se voltaram para mim.

— Perderam alguma coisa? – Bati na mesa de alguém da primeira fila e ele pulou, me fazendo sorrir.

— Que honra, Camila. – O professor falou. — Acho que não adianta muito vir às aulas agora.

— Mas eu sou obrigada, então. – Dei os ombros sentando na primeira carteira vazia que encontrei.

A aula se arrastou e minha barriga estava roncando, já estava com dor de cabeça. Quando finalmente o sinal soou, corri para fora da sala e quando fui entrar no refeitório, havia um grupinho cercando uma menina baixinha. O cara empurrou ela contra os armários e ninguém ao redor fazia nada.

Eu tenho alguns instintos falhos aos meus comandos, minha barriga gritou para eu seguir o meu percurso e não me envolver, mas minhas pernas me guiaram ao meio da confusão.

— Você está bem? – Ela negou e o cara foi me empurrar para o armário também, mas eu fui mais rápida e o joguei para fora da confusão, o outro segurou meus braços e eu me debati.

— Porque está se metendo onde não deve, gostosa? – O cara mais alto falou se aproximando e aproveitei o apoio que
o outro me deu e ergui minhas pernas, acertando meus pés com toda minha força contra seu peito.

Isso enfureceu todos, que vieram decididos para cima, mas um rosto familiar apareceu os fazendo me soltar.

— Camila Cabello… eu sempre sei que você compareceu a escola por conta de alguma confusão.

— Desta vez sou inocente.

— Já na minha sala.

— O que? Você viu que eu estava apanhando.

— Agora, Cabello. Vocês quatro para detenção. – Apressei meu passo antes que ela decidisse por uma detenção ao invés da conversa.

Por mais que ela pegasse pra caramba no meu pé, eu nunca consegui detestar a senhora Morgan. Ela me deu tanta chance que acho que ela também não me detesta.

— Eu disse que você só deveria aparecer aqui com um responsável, Camila.

— Senhora Morgan…

— Já cansei de falar para me chamar de Vanessa.

— Vanessa… tanto faz. Minha mãe é muito ocupada.

— Camila… eu já entendi que alguma coisa está acontecendo. Eu posso te ajudar.

— Eu estou bem. Só me deixe vir…

— Sabe que eu não posso deixar você vir quando quer e não fiscalizar o porque disso tudo. Só vai voltar quando me trouxer sua responsável aqui.

— Mas eu não fiz nada desta vez.

— Porque sempre se mete em confusão?

— Você está sendo injusta. Eu só tentei ajudar.

— Existem outras formas de ajuda, Camila. Sem envolver brigas e escândalos. – Bufei cruzando meus braços.

— Tanto faz.

— Pode ir para casa.

Peguei minha mochila e sai dali. Com mais fome que entrei. Cheguei na minha casa e a garçonete estava sentada na escadaria da frente. Ela parecia bem perdida e eu fiquei imaginando que desculpa inventar se ela quiser conversar com minha mãe. Eu não posso ser denunciada ao conselho.

NÃO ESQUEÇAM!

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