Capítulo 21

1.1K 139 75
                                    

07h00, chego uma mais cedo do que deveria, assim posso soltar uma hora antes, mas não é por isso que estou aqui, e sim porque tenho sinto que devo por os pingos no "i" com um certo alguém. Estou sentada na frente da sala de reuniões, sei que ele vai passar por aqui e é hoje que vamos resolver isso.

07h15min, alguém está atrasado, pelo que eu sei ele nunca se atrasa. Quem sabe eu não cheguei cedo demais.

07h30min, merda, desço para pegar um café, as pessoas já estão começando a chegar, cumprimento quem me cumprimenta, pego meu café que eu nem gosto, mas é só para não ficar de barriga vazia até as 08h.

07h45min, vou para minha sala aguentar Ashley. Não entendo, ele é um exemplo de profissionalismo, pelo menos aqui e hoje está muito atrasado. Tento ignorar o fato de que temos muito para conversar e começo a prestar atenção na Ashley e sua palestra irritante de marketing bosta.

***

13h05, me organizo para almoçar, Ashley foi a primeira a sair da sala e não parecia que ia almoçar e sim voar no pescoço de alguém, os outros desceram depois, fingi que estava concentrada no trabalho para não ir almoçar com ninguém, não estou com paciência para papos superficiais. Coloco minhas coisas na bolsa, meu celular vibra, ignoro.

Toc, toc...

- Posso entrar? - viro para conferir, cara de pau.

- Já entrou. - afirmo.

- Ui, alguém está de mau humor. - ele levanta as mãos para cima como se estivesse apontando algo para ele.

- Achei que fosse almoçar com seu namorado, qual o nome dele mesmo? - sua expressão de confuso não engana ninguém - Noah?

- Nolan e eu não somos namorados.

- Isso é você que está dizendo e - suas mãos passam pelos móveis da sala - se eram, não são mais.

- Como assim? - indago.

Seu sorriso é contagiante e afortunado, ele dá as costas e começa a caminhar em direção a porta.

- Então é isso? - digo tentando não gritar - Você entra, fala o que quer e sai como se nada tivesse acontecido? Como se não tivesse agido estranho ontem e todos os dias desde que você apareceu na minha vida? Qual é o seu problema? - o vejo fechar a porta - Você é instável pra caralho, num' dia está me ameaçando, no outro me comendo com os olhos como um leão faminto. O que foi? A doença da sua mãe era hereditária? As drogas que te deram afetaram seu cérebro?

Em questões de segundos, sua mão agarra meu pescoço e me liga contra a parede, sinto minha cabeça bater forte, seus olhos se alteram de azuis doces para um vermelho infernal, como se estivesse vendo seu lado diabólico.

- O que você disse?

Ele segura forte, começo a balançar meu corpo na tentativa de atingi-lo, agarro seu braço e dou alguns socos inútéis. Sinto minha respiração fraca, os braços e pernas moles, seus olhos se cerram, assim como seus lábios.

Caio no chão demorando algum tempo para me recompor, começo a tossir e respirar novamente, coloco a mão no pescoço para garantir algo que não sei exatamente o que é. Ele dá as costas e caminha pela sala, não diz nada, pego o copo d'água que está na mesa nem me importando de quem seja, bebo um gole, começo a tossir novamente, ele vira para mim e me encara. Sinto minha respiração voltar ao normal aos poucos, ele dá alguns passos nervosos de um lado para o outro, de repente sua mão está apontando para mim.

- Você... - seus olhos voltam a ficar azuis lentamente, vejo sua expressão, não está arrependido, mas não está orgulhoso do que acabou de fazer - Você deveria manter a porra da boca fechada.

- Por quê? - indago tentando me recompor - Se não você vai fazer o quê? Me matar? Você já teria feito isso se quisesse. É disso que estou falando - levanto-me largando o copo na mesa e ajeito minha roupa - eu estou tentando te ajudar esse tempo todo, por mais que seja errado. Eu acobertei aquelas mortes, eu fiz tudo que você pediu e o que eu ganho com isso? Um pescoço roxo? - espero ele falar qualquer coisa, mas não ouço um som da sua boca, só presto atenção na sua respiração rápida e apreensiva - Você não pode fazer isso. Você não pode ir e voltar quando quiser, você não pode descontar sua raiva em mim e você sabe o porque. Eu estou aqui, ninguém mais está e você sabe disso caralho!

Tento manter a voz calma e não me descontrolar, mas deixo algumas lágrimas cairem.

- A Maeve, o Edgar, todo mundo está tentado te tirar do jogo e eu estou aqui desde de manhã tentando te falar o que eu sei, tentando conversar contigo e é isso que eu ganho? Quer saber? Eu sei que as coisas nunca foram como você planejou, eu sei o que fizeram com você e eu sei da sua mãe. Eu sei de tudo e eu entendo você ser assim, mas não comigo, não com quem está tentando te ajudar. Eu não posso fazer mais parte disso - passo por ele pegando a minha bolsa e terminando de jogar tudo que é meu nela. - Você passou dos limites.

- Por qu...

- Por que o quê? Hein? - o indago - Você está acostumado a fazer o que quer e não é assim que as coisas funcionam. As pessoas te amam porque não te conhecem de verdade. Eu realmente não entendo, você pode ser amado, mas escolhe ser temido, por quê?

Vejo seu pescoço se movimentar, poderia dizer que a sua expressão é de tristeza, mas nessa altura do campeonato, pode ser qualquer sentimento, do mais sombrio ao mais claro possível.

- Você não entende. Não tem como escolher um só, não aqui. - suas palavras são lentas, não diria suave, mas diferente do que estou acostumada a ver. - Preciso que as pessoas temam o quanto me amam.

- Como se isso fosse resolver alguma coisa!

Coloco minha bolsa no ombro vou em direção à porta, ele não se move, parece perdido em seus devaneios. Passo por ele e não o encaro, é melhor me afastar no momento. Abro a porta e vou sair, merda, o tal plano.Olho para ele que ainda está na mesma posição, mas me encarando dessa vez.

- Ah! Eu deveria deixar você se virar, mas te atualizando, o Edgar encontrou a minha calcinha e me questionou sobre tudo, eu contei e ele disse que vai cuidar disso pela imagem da empresa. Maeve comentou algo sobre o Bruto ser um Super e tem uma tal versão antiga sua solta por aí. Pelo que eu sei, eles estão tramando algo grande, é bom você ter uma carta na manga.

Passo pela porta e a fecho, vou em direção ao elevador, aperto e o espero subir. Ignoro o fato do meu pescoço está doendo e provavelmente vou ter que usar um manta, preciso pensar em uma desculpa e rápido.

Devil Side - HomelanderOnde histórias criam vida. Descubra agora