Era pra ser um dia normal como qualquer outro. Íamos levantar, tomar café, arrumar a mesa, tomar um banho, nos organizar para sairmos, andar pelas ruas de Nova Iorque reclamando do quanto a cidade é suja, postariamos fotos elogiando a cidade e seus pontos turísticos, ignorando às montanhas de lixos para todo os lados e os mendigos nas ruas.
Depois provalvemente íamos almoçar, fazer compras, treinar nosso inglês com americanos gatinhos, fingindo querermos algumas informações. Por fim, voltaríamos para casa fofocando de tudo e todos e esperaríamos a hora de nos arrumar para irmos nas festas e pubs mais badalados de Nova Iorque.
Futuro perfeito condicional...
Olho ao redor. A perícia e os policiais andam de um lado para o outro. Parecem desconcertados. Talvez não tivessem visto tantos corpos estraçalhados ao mesmo tempo. Algumas pessoas choram desesperadas do lado de fora do local. Os curiosos com seus celulares levantados gravando tudo, os jornalistas parecendo mosca na merda tentando arrancar qualquer informação de quem quer que seja.
- Você está bem?
Olho para o lado, um policial pálido, de aproximadamente uns trinta anos me encara com seus olhos negros. Confirmo com a cabeça que sim. Ele sorri com os olhos.
- Eu adoraria liberar você. Sei que a noite foi longa, mas você terá que me acompanhar até a delegacia.
Jura? Confirmo com a cabeça.
-Eu posso fazer uma ligação antes? - o indago - Provavelmente, meu celular ficou lá dentro na hora da confusão...
- Você pode fazer quando chegarmos à delegacia. Tudo que está lá dentro são provas, infelizmente não posso lhe ajudar com isso.
Confirmo com a cabeça.
- Tudo bem! Obrigado!
Ele vira as costas e sai em direção aos outros policiais. De repente ele assenti com a mão, levanto-me da ambulância e vou em direção a ele, que é cauteloso ao me ajudar. Vejo os jornalistas ovacionarem ao me verem com os policiais. Flashes cegam-me, gritos se misturam com questionamentos bagunçando a minha cabeça. Abaixo a cabeça e sigo com os policiais me escoltando.
***
04h34min, nenhuma notícia da Val. Eu fui no banheiro por alguns minutos e de repente uma chacina é feita naquele pub. Minha cabeça dói de imaginar que algo tenha acontecido com ela. Vou até o telefone novamente, a moça da recepção sorri amareladamente, deve estar achando que eu sou louca, sei lá. Disco o número da Val. O celular toca, mas ninguém atende. Sinto meus olhos lácrimejarem. Tento pela segunda vez, sem retorno. Desisto e volto para mesa.
- Nicole Morei...
- Aqui! - respondo imediatamente o cortando.
- Por aqui, por favor.
O sigo. Entramos em um corredor largo de paredes bege claro. As outras portas estão fechadas e suas cortinas também. No fim do corredor, à direita, a porta está aberta. Sinto um certo incômodo se instalar em mim.
- Fique à vontade. - ele estica os braços para eu passar. Engulo seco a saliva que estava se formando em minha boca. Paro por alguns segundos. Ele me encara, não é amigável como o policial que me atendeu. Entro na sala instantaneamente. Ele fecha à porta. - Tem café na mesa, chá e água e biscoitos.
Que porra é essa? Smith, vejo seu sobrenome no uniforme. Ele fica parado na porta por alguns segundos. O vejo me olhar de canto de olho. Ignoro. Pego uma garrafinha d'água, abro e bebo. Sem conseguir me controlar, minhas pernas tremem embaixo da mesa. De repente, a porta se abre, um homem baixinho e gordo entra na sala, com cabelos ralos e um bigode enorme, ele sorri ao meu ver. Ele senta à mesa e abre uma pasta cor marfim claro, retirando alguns papéis e lendo vagarosamente.
- Que noite hein mocinha! Como você está?
Seus olhos impregnam aos meus.
- Se eu falar que eu estou bem, estaria mentindo. - respondo.
Ele assenti com a cabeça. Lê novamente os papéis e me encara novamente.
- Eu sinto muito pelo que você tenha visto ou passado. Todos aqueles corpos, um show de horrores. Eu só não entendo, como você conseguiu sair ilesa de tudo aquilo.
- Como assim? - questiono.
- Poucos pessoas sobreviveram, a maioria delas estavam na rua, a única sobrevivente dentro do local, foi você e você disse que não viu nada.
Sinto a desconfiança em sua voz.
- Eu não disse que não vi nada, eu disse que estava no banheiro e de repente ouvi barulhos e gritos, então eu me tranquei e fiquei lá.
- Você é brasileira, né? - ele olha os papéis novamente - Rio de Janeiro?
- Não! O que isso tem a ver? - questiono tentando segurar o tom da minha voz.
- Nada! É que o Rio tem uma certa fama, se é que você me entende.
Reviro os olhos com tanta força que sinto minha cabeça doer.
- VOCÊ NÃO ESTÁ FALANDO SÉRIO? ISSO SÓ PODE SER BRINCADEIRA! - levanto-me da cadeira rapidamente - O NOME DISSO É PRECONCEITO SABIA? E EU PO...
A porta se sabre novamente. Capitão Pátria, seus olhos azuis brilhantes e seus cabelos loiros iluminam a sala escura. Seu rosto não expressa um movimento sequer. Ele caminha pela sala com as mãos nas costas, só consigo reparar no seu uniforme azul e sua capa enorme nas suas costas. Típico de um patriota. Abaixo a cabeça quando percebo seus olhos me encarando.
- Delegado Jhonson! É um prazer revê-lo.
Ele estica a mão para o delegado que demora alguns segundos para cumprimentá-lo.
- É uma pena o que aconteceu naquele pub. Eu queria ter chego há tempo, mas infelizmente eu não consegui. É uma pena saber que nem todos conseguiram se salvar.
Seus olhos fixam ao meus. Tento disfarçar o nervosismo. Pego uma rosquinha na mesa e mordo ela rapidamente.
- Essa menina aí, Nicole, né? É uma guerreira, conseguiu se esconder e mesmo vendo tudo aquele horror, ligou para polícia e tentou salvar os outros. Infelizmente, nem todas as pessoas são assim.
Sinto uma tensão no ar. Os olhos dos Capitão Pátria encaram o do delegado. Assim eles permanecem por alguns segundos. O policial Smith me encara. É como se eu estivesse sendo testada. Engulo seco cada resquício de saliva. Só quero sair desse lugar o mais rápido possível.
- Eu sinto muito interromper o depoimento, mas eu gostaria de levar a Nicole para casa. Depois de tudo que ela passou, é mais seguro eu levá-la. Ela deve estar cansada e traumatizada, amanhã eu tenho certeza que ela lembrará de mais detalhes e irá contar tudo para vocês.
Ele esboça um sorriso cerrado em seu rosto e em seguida fica sério, faz sinal com a cabeça. Levanto-me rapidamente. Vejo os olhos do delegado avermelharem de raiva. Ele assenti com a cabeça.
- Tenha uma boa noite pessoal! - Capitão Pátria solta antes de sairmos da sala.
Ele caminha rápido, é alto, ereto, não olha para trás. Abanda para algumas pessoas quando o cumprimentam, acena e depois volta para sua posição normal, suas mãos atrás das costas. Saimos do departamento, há alguns jornalistas. Ele vira para mim, me encara, faz sinal com a cabeça para eu ir para o canto. Obedeço. O vejo ir até os jornalistas. Perguntas rápidas saem das bocas da multidão.
- Foi uma madrugada difícil, perdemos algumas vidas, infelizmente. Nós somos sete, mas às vezes não damos conta de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Felizmente, há alguns sobreviventes e iremos proteger eles desse monstro que vem distruindo a cidade e matando inocentes. Hoje, como prova disso, irei levar a Nicole, uma das sobreviventes para casa e depois Os Setes, se reunirão para conversarmos sobre esses ataques terroristas que Nova Iorque tem sido alvo.
Ele dá as costas. O vejo me encarar, chego mais perto dele. As pessoas o questionam mais e mais. Ele agarra meu corpo contra ao dele e em questões de segundos estamos voando.
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Devil Side - Homelander
FanfictionDe um lado, Nicole, uma jovem intercambista que vê suas férias desmoronarem quando sem querer acaba sendo testemunha de uma chacina. Do outro lado, Capitão Pátria, o almejado líder dos Supers, o herói narcisista e arrogante que pouco se importa com...