Ryan parece nervoso, não costumo trazê-lo na escola, isso é tarefa do Jonh, mas faz dois dias que o acompanho. As crianças comentam, sabem de quem ele é filho, alguns o admiram, outros os encaram. Confesso que o clichê de todos somos iguais sempre me irritou, nós não somos iguais, nunca fomos e nunca seremos, cada pessoa tem sua singularidade, seja ela boa ou ruim, mas ver Ryan deslocado me machuca um pouco.
- Está tudo bem? - questiono me abaixando do seu tamanho - Não precisa ficar se não quiser.
Ele assenti com a cabeça e dá de ombros. Ryan parece o oposto de Jonh, mas sinto que não é, eles são iguais, só não sabem ainda. Talvez ele saiba se controlar e não agir como um ser sem coração, não que Jonh seja assim, mas ele demonstra isso, no fundo creio que ele quer que pensemos isso dele, não que ele seja. Levo Ryan até a sua sala, as mães não falam comigo, nem me cumprimentam, então ta bom.
- Já sabe o que fazer né? - ele assenti com a cabeça novamente - É só ligar que nós viemos correndo.
- Eu acho que você quis dizer voando. - ele brinca sorrindo.
- Você entendeu! - dou um beijo na sua testa - Boa aula!
Dou às costas e vou em direção ao portão que começa a se fechar, pensando bem, se Ryan se enturmar, o mesmo pode ir de ônibus com os colegas e não precisaríamos pegar Uber todo dia. Acho que no fundo, o espírito de pobre ainda não saiu de mim ou o fato de saber que todo o conforto que tenho agora é do Jonh e não meu. Não sou uma encostada, é bom eu começar arranjar algo para fazer.
- Nicole? - olho para trás, Victoria - Nossa, que bom te ver aqui.
Ela é simpática e elegante, bem vestida e séria. De roupa social na cor preta, cabelo bem penteado, maquiagem perfeita, saltos altos e finos.
- Oi. - digo um pouco surpresa.
- Eu vi que você veio trazer o Ryan, minha filha estuda aqui também, vocês fizeram uma ótima escolha em colocá-lo aqui. O ensino é maravilhoso. - ela fala sorridente.
- Sim, é. O Jon... O Capitão Pátria, ele estava preocupado com o futuro do Ryan por estudar em casa e tals... Achamos que era melhor ele ter uma infância quase normal, sabe?!
- Eu apoio completamente e pode chamá-lo de Jonh comigo, acho que todos somos intimos depois do acontecido aquele dia. Falar nisso - ela se aproxima - eu conferi o noticiário alguns dias depois, tentei entrar em contato com vocês, mas não consegui, a contagem dos corpos não bater
- Como assim? - caminhando junto à ela em direção a rua.
- O único que saiu vivo aquela noite foi o Marvin Milk...
- Sim, o Leitinho. - eu a interrompo.
- Sim, eram para ter seis corpos lá e só encontraram cinco.
- Isso é impossível. - exclamo.
- Eu entrei em contato com um amigo lá dentro da perícia, não tive muitas informações, então não posso confirmar ao certo, mas só cinco corpos foram encontrados. Não sei se deveríamos nos preocupar. - ela afirma parando em minha frente, vejo seu motorista abrir a porta do carro.
- Não faz sentido. - digo - Jonh não seria descuidado com isso.
- Eu posso estar errada, mas quis compartilhar isso, nunca se sabe quando algum maluco anti-Supers pode atacar de novo, não é mesmo?
Ele vai em direção ao carro, abaixa a cabeça e entra, antes de fechar à porta, exclama:
- Ah! O Noir apareceu na torre, sozinho, sem o Edgar, mas ele deve estar por perto. Acho que um de vocês deveriam inspecionar aquele lugar de vez em quando. Se ele cair, eu caio. - ela sorri, fecha à porta e em seguida abaixa o vidro - Fico feliz em te ver, espero que possamos nos encontrar mais vezes.
O carro movimenta-se devagar. Espero ele sumir na estrada, isso é impossível, Jonh cuidou deles, de todos eles. O único que passou ileso foi Leitinho, ele estava na rua, não teria como ele ajudar qualquer um deles a escapar, o local foi destruído. Pego o celular e disco para Jonh, o mesmo não atende. Que porra ele está fazendo que não atende o celular? Disco novamente, nada. Cacete! Entro no app do Uber, hora de ir para casa.
***
Entro pé por pé, sei que não vai adiantar muita coisa, mas tento, vejo Jonh guardar algo na geladeira rapidamente. Ele limpa a boca e fecha a geladeira, em seguida vira para mim, seu olhar é disfarçado, assim como sua falsa espontaneidade.
- Achei que você não gostasse de leite. - afirmo colocando as chaves e o celular em cima da mesa.
- E eu não gosto. - ele responde saindo de perto da geladeira.
- Tem certeza - aponto para o chão, há leite derramado.
Ele dá de ombros fazendo uma careta como se não fosse nada, vem até a mim e me dá um selinho. Ele está estranho, como se tivesse aprontado, depois eu descubro o que ele aprontou, tenho coisas mais importantes para resolver.
- Precisamos conversar - exclamo indo até a geladeira disfarçadamente e conferindo se ele tomou o leite - encontrei a Victoria - bingo, sim ele estava bebendo leite - nós batemos um papinho. Sabia que a filha dela estuda na mesma escola que o Ryan?
- É, legal. A filha dela é um Super também. - ele senta-se na cadeira de frente para mim - Na verdade, a garota não teve muita escolha.
- Hum, então ela disse que entrou em contato contigo, mas não teve retorno. - espero ele se interessar pelo assunto, mas ele ignora o que falo.
- O Ryan está se adaptando? - ele muda de assunto aleatóriamente.
- Acho que sim, na verdade, ele fica meio nervoso na hora de entrar, mas depois passa, Jonh, presta atenção no que eu estou falando, por favor, é importante. - ele revira os olhos suavemente e me pede para eu continuar com os dedos - Black Noir apareceu na torre, Victoria disse que deveríamos inspecionar o lugar - seus olhos fixam em mim, agora parece prestar atenção - a Ashley não te comentou nada? Trem Bala ou Profundo? Achei que eles eram seus olhos e ouvidos, mas isso não é o mais preocupante, a Victoria disse que só cinco corpos foram encontrados no local, não seis. O cara da perícia não confirmou nada, mas tá faltando um corpo Jonh.
- Você não deixou o tal Leitinho ir embora? Ele foi o único que saiu vivo de lá e você deveria saber disso.
- Com o Leitinho eram sete Jonh. Você conferiu antes de queimar aquele lugar?
- Claro! - seu sorriso travesso o entrega.
- Eu não acredito. - dou às costas e vou em direção ao lavabo, ele vem trás de mim, me puxa pelo braço e me agarra, fico de frente para ele, suas mãos seguram meus braços - Eu tô falando sério Jonh, nós estamos aqui na sua casa, criando o Ryan, como se fossemos uma família normal, mas não somos, eles podem vir atrás da gente a qualquer momento.
- Eles podêm, mas não virão e sabe por que?
- Porque você é a porra do Capitão Pátria, nós sabemos - digo anojada dessa frase.
- E por que eu tenho vocês dois agora.
Não consigo esconder o sorriso bobo que fica estampado em meu rosto. Passo os braços em volta do seu pescoço, ele me levanta rapidamente, sei o que quer, sei o que vamos fazer, podemos aproveitar esse tempinho em que sua mini versão está na escola para podermos nos satisfazer sem culpa alguma.
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Devil Side - Homelander
FanficDe um lado, Nicole, uma jovem intercambista que vê suas férias desmoronarem quando sem querer acaba sendo testemunha de uma chacina. Do outro lado, Capitão Pátria, o almejado líder dos Supers, o herói narcisista e arrogante que pouco se importa com...