Capítulo 25

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Ashley parecia saber o que estava acontecendo, me alfinetou literalmente sempre que podia e a vaca nem é costureira, aposto que quis ajudar para me encher de buracos. Quando todos sairam da torre, Ashley, eu e uma equipe com maquiadores, cabelereiras e costureiras ficaram para me moldar, vamos dizer assim. Eu percebia seus olhos me fuzilando, mas ignorei, não porque quis, mas porque eu não posso estragar um plano que não é meu.

Confiro no relógio, 00h em ponto, Jonh ainda não está aqui. A equipe foi embora, Ashley saiu e não voltou mais, suas últimas palavras foram "fica na sua". E o que eu estou fazendo agora?

Levanto-me, ajusto o vestido cor de vinho que me enfiaram. Tomara-que-caia, acinturado, bonito, mas extravagante, eu adoraria se fosse um preto, mais justo, mas como não fui eu que escolhi. O sapato combina com o vestido, a maquiagem é básica e os acessórios também.

Confiro no espelho, nada mal. Até que eu gostei.

- Você está linda. - ele entra na sala com a sua pose clássica, mãos dadas atrás das costas, como se fosse um general. Seu cabelo não está para trás como de costume, está ajeitado mais para o lado, eu até vejo um topete, seu traje é novo dos pés a cabeça. - E cheirosa.

- É, eu sei. - ele para em minha frente, não diz nada, apenas me contempla por um tempinho - Tem certeza que você quer fazer isso? - estrago o clima.

- Você é chata hein garota! - ele exclama saindo de perto e indo para o sofá.

- É que eu acho que não é uma boa id...

- Eu sei, você já disse isso. - ele abre a mala, retira um frasco transparente com um líquido verde e uma seringa, em seguida fecha, tranca a mala e vem em direção a mim.

Olho para o frasco em suas mãos. Ele dá umas batidinhas com o dedo indicador e me alcança, seguro com cuidado, depois o vejo pegar a seringa e coletar o líquido.

- O que é isso? - questiono curiosa e um pouco mais receosa.

- É o que seu amiguinho anda tomando. - ele exclama manuseando os objetos com o maior cuidado.

- Eu não entendi.

Seus olhos correm em direção a mim, pela expressão cerrada e fatal, acho que o irritei.

- V24 temporário, isso aqui é o que a Maeve dá para o Billy Bruto e seus amigos.

- Sim, eu lembro de ter escutado algo assim lá no esconderijo deles, só assim ele consegue te deter, pelo menos foi o que ele disse. - olho para o líquido verde, não me parece amigável e muito menos indolente - Você não precisa disso, você sabe, né?

- E quem disse que é pra mim? - seus olhos me avistam, eu dou um passo para trás, não é possível isso, ele não faria isso. - Escuta - ele vem em direção a mim - É temporário, você não vai sentir nada, é apenas por precaução.

- Precaução? Precaução de quê? Você nem me perguntou se eu queria isso.

- E precisava perguntar? Você vai ficar igual a mim - ele parece muito contente com a ideia - Isso é perfeito!

- Perfeito? Perfeito para quem? Eu não quero ser um fantoche da Vought!

Vejo sua expressão mudar. Ele assenti com a cabeça, mas não de forma positiva. Seus olhos de azuis esboçam o vermelho da rajada ótica. O vejo engolir a seco minhas palavras. Ele dá alguns passos vagarosos em direção a mim.

- Eu matei o Nolan pelo fato de não gostar dele perto de você e os prontuários estão em um lugar seguro, até o evento, depois vamos ter uma certa instabilidade na Vought e eu preciso que você esteja do meu lado.

Vejo que ele tenta segurar seu lado diabólico. Por que ele foi me responder só agora? É uma forma de mostrar que se importa comigo? De que eu sou sua companheira? Ah! Vai se foder!

- O que você disse? - ele vem em direção a mim rapidamente.

- Nada! Eu não disse nada! - exclamo assustada, indo para trás até cair no sofá.

O vejo se recompor. Ele ajeita seu traje com uma das mãos e coloca a seringa na mesinha do lado do sofá, em seguida senta ao meu lado.

- Eu sei que você está assustada com tudo isso, - ele se aproxima mais - mas eu preciso da sua ajuda. Eu não posso confiar em mais ninguém. O Profundo é um inútil, o Black Noir evaporou e quando voltou, descobri que ele é o cão de guarda do Edgar, um dos motivos de eu não ter matado ele ainda. O Trem Bala agora é das causas sociais, Luz Estrela e Maeve, prefiro nem comentar. É só eu e você agora ou você prefere ver aquele bando de filha da puta se unindo contra mim?

- Não! - digo rapidamente.

- Antigamente, se a Vought caísse, eu cairia junto, mas agora não. Eu tenho a chance de mostrar quem eu sou e que é eles que precisam de mim. Hoje - suas mãos passam pelo meu rosto - eu vou fazer história e eu preciso saber se você está comigo nessa.

Ouço um tic-tac na minha cabeça. Ficaria feliz se tivesse um tempo para pensar, mas não, é agora ou nunca. E se eu for uma péssima Super? E se esse líquido aflorar o meu pior lado ou o melhor? E se eu nunca puder voltar para casa? E se eu morrer? E se Jonh me matar no final de tudo isso?

- Ei, eu nunca faria isso. - ele agarra meu rosto e me encara, logo estamos nos beijando, é calmo e quente, ele solta meus lábios devagar, nossas testas ficam unidas, seus olhos encaram os meus, permanecemos assim até eu confirmar.

- Tudo bem. - digo me afastando dele que sorri e agarra a seringa novamente - Não vai doer, né?

- Não, nem um poquinho.

Ele faz sinal para esticar meu braço. O estico, mas logo puxo de volta.

- Eu acho melhor ser em um lugar que não seja vísivel, tipo os pés, a canela, sei lá.

Ele assenti com a cabeça. Passa os olhos por mim rapidamente.

- As costas.

- Não! Tá maluco, bem na minha coluna.

- Não vai doer, eu prometo. E eu estou aqui, vou ficar até você se recuperar.

Suas palavras de conforto me acalmam, não sei se são verdadeiras, mas me faz concordar.

Dou as costas para ele que abaixa meu zíper lentamente, respiro fundo. Sinto sua mão alisar a minha coluna, ele me empurra devagar no sofá. Respiro ofegante na ilusão de não sentir nada.

- Posso? - ele indaga afincando o dedo onde vai enfiar a agulha.

- Pode. - finalizo.

Sinto a agulha entrar, faço o máximo de força para não me contorcer, ele retira ela lentamente. Sinto um incêndio dentro de mim, como se tivesse se espalhando por toda as partes do meu corpo. Sinto vontade de gritar, mas rapidamente, ele tampa a minha boca.

- Tudo bem, tudo bem, já vai passar. Shhhhhhhh!

Olho para seu rosto que vai se embaçando lentamente, sinto minha cabeça apoiar em algo, é como se as coisas estivessem girando ao meu redor, aos poucos tudo vai se embaçando. Vejo seu rosto pela última vez me ajeitando, seus olhos azuis infiltram a minha mente e são as últimas coisas que vejo.


Devil Side - HomelanderOnde histórias criam vida. Descubra agora