Dezoito

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Na luz parca da vela, Liu Qingge  se vira na cama, dando as costas para Luo Binghe enquanto o imperador tira as roupas. Ele nunca foi traído, mas imagina que a sensação seja parecida. Seu trabalho era proteger o imperador e quando ele disse que confiava em Luo Binghe, tudo que ele conseguiu foi ser nocauteado porque estava pensando em como queria ser beijado por ele. 

Luo Binghe tem todo o espaço livre do outro lado da cama, mas ele se espreme na ponta da cama, ficando atrás de Liu Qingge, até mesmo colocando uma pernas por cima do quadril de seu marido. Um suspiro escapa com o calor que emana do seu marido. Ele mesmo despiu Liu Qingge para deixá-lo confortável. 

─ Você está magoado. ─ Luo Binghe começa, mas não tem muito que ele possa dizer sem deixar a situação pior. O que ele pode dizer? Não é como se Liu Qingge fosse aceitar bem a frase: Você é do povo justo, não posso te mostrar o caminho pra a tribo vassala que é o meu centro de comando militar. ─ Este soberano vai se desculpar depois, quando estivermos em casa. 

Liu Qingge não responde, ele apenas tenta fingir que está dormindo, mas é complicado com Luo Binghe agindo cheio de intimidade. Liu Qingge sabe que ele é apenas o substituto de Shen Qingqiu e tenta não ter raiva, mas ele quer ser amado também, quer ser cuidado e acariciado por quem ele é. 

Mas quem ele é, é algo que faria Luo Binghe gostar dele? Ele sabe que seu único amigo gosta da sua personalidade e até o acha muito tolerável, mas ele também sabe que Luo Binghe gosta da personalidade forte e direta de seu amigo. Ele não se vê como algo que pode agradar esse imperador demônio. 

Seu único ponto forte é sua lealdade, mas ele não pode oferecer isso e Luo Binghe está certo em não confiar nele. Ele não entende a política e, pelo amor de deus, ele também é um espião. Como ele pode dizer para Luo Binghe que será uma pessoa leal? 

Esse pensamento o corrói e ele quer rolar para longe, mas está preso de maneira muito firme no abraço do outro. Quanto mais ele pensa sobre como as seitas justas podem prejudicar o reino infernal, mais triste ele se sente. Ele não é confiável, ele odeia ter que admitir isso e odeia mais ainda querer contar isso para Luo Binghe. 

Ele tem que contar e enfrentar seu destino. Mesmo no reino dos demônios, ele imagina que traição é algo que será punido com a morte. Liu Qingge sente uma agonia por ser só o substituto, por não poder oferecer a confiança que seu marido e seu amigo merecem, ele está disposto a enfrentar a morte no lugar de continuar mentindo. 

Pois, se um dia, não que ele tenha expectativas altas, Luo Binghe se apaixonar por ele? Não seria muito pior se ele fosse descoberto como um traidor no futuro? Ele não mandou qualquer informação que fosse, ele é apático e curto nas cartas que troca com os justos. 

Ele precisa contar. 

─ Luo Binghe, eu... 

─ Você gosta de mim, eu sei. ─ Luo Binghe esfrega seu nariz nos cabelos de Liu Qingge, mesmo após alguns dias de viagem, ainda há o cheiro residual da essência floral que ele usa. Luo Binghe adora como isso fica diferente na pele e cabelos de Liu Qingge, um pouco mais suave do que em seu shizun, para anunciar que esse homem tem mais delicadezas do que deixa os outros verem. ─ Eu também. Eu também gosto muito de você. Achei que era por influência de shizun, mas não é, é porque Liu gege é muito fofo.

O que ele precisa contar agora, não pode ser contado em nove anos? 

De repente, ele não quer apagar a vela de calor que se acendeu em seu peito. Quando Luo Binghe gostar da presença dele era apenas uma possibilidade sonhada, ele estava disposto para morrer do que esconder isso por mais um tempo. No entanto, quando a vela foi acessa depois de um susto noturno, essa pessoa o abraçou e encheu de calor, sussurrando "gosto de você" e "Liu gege é muito fofo", ele não se sente mais disposto. 

Ele quer adiar, quer agarrar-se ao calor, murmurar que gosta de Luo Binghe, mesmo que essa palavra não seja capaz de abranger todo o sentimento que foi nutrido por pouco mais de um ano. 

Mesmo que ele tenha 26 anos agora, ele ainda se sente como um menino que recebeu uma flor e um sorriso tímido enquanto alguém se confessava para ele. Seu coração batendo tão rápido que ele teme que possa explodir ou que possa ser interpretado como ansiedade. E talvez seja mesmo ansiedade, mas também é porque ele está tão feliz que sente que pode pular e correr. 

Durante toda sua vida, Shen Qingqiu foi o primeiro a estender sua mão e dizer que gosta dele como um amigo, a sentar do seu lado e estar disposto a perdoar seu erro como se não tivesse acontecido. O primeiro a fazer uma pausa em sua caminhada na vida e se sentar ao lado de Liu Qingge, dizer que entende os sentimentos dele. 

E, agora, há Luo Binghe, ainda mais disposto a esquecer que ele foi cruel quando estava instável, a dizer "vou compensar você" quando magoa seus sentimentos, a dizer que gosta dele porque ele é fofo, a segurar seus ombros para diminuir a ansiedade que ele sentiu mais cedo. O primeiro a levar ele para a cama, tirar suas roupas e ser tão gentil para sequer tocá-lo de uma maneira indecente quando ele está bêbado. Alguém que parou sua missão para se certificar que Liu Qingge está confortável, para abraçá-lo suavemente e apenas respirar seu cheiro como se fosse um alívio.

Como se Liu Qingge fosse uma pessoa querida.

Ele precisa mesmo dizer a verdade agora? 

Ele se sente tão egoísta, mas ele não quer falar, ele não quer que as coisas frágeis que construiu desmoronem por suas próprias mãos. 

─ Eu não ia dizer isso. ─ Ele suspira, a mão de Luo Binghe está bem acima do coração de Liu Qingge agora, seu toque é muito quente quando ele começa a respirar o feitiço dos bons sonhos. ─ Não. Eu não quero dormir de novo, por favor. 

Luo Binghe para de murmurar, mas sua mão continua ali. 

─ Você precisa dormir, antes estava só desmaiado, deve estar cansado da viagem. ─ Luo Binghe argumenta. ─ Está tão chateado que prefere não dormir? Liu gege, foi para o seu bem, eles poderiam questionar sobre sua lealdade aos justos e piorar toda a situação. Já está tudo resolvido, sim? Amanhã você pode andar pela tribo Wen e me proteger como você prometeu, mas...

─ Luo Binghe, você fala muito. ─ Liu Qingge empurra a perna de Luo Binghe de cima de seu quadril e se vira para ele, se sentindo muito idiota de estar cara a cara com seu marido. Ainda assim, ele sente que precisa de trinta copos de vinho para dizer isso. No entanto, se ele estiver bêbado, Luo Binghe nunca vai fazer qualquer coisa ou levá-lo a sério. ─ Eu não suas desculpas, sou capaz de entender seus motivos, só quero que você me beije até que eu... Até que eu... Eu consiga... 

─ Você consiga? 

─ Preciso dizer em voz alta? 

─ Este rei ainda não lê pensamentos, apenas sonhos. 

Liu Qingge quer dar um soco no rosto bonitinho dele, ainda mais no sorrisinho plácido e confortável que está no seu rosto enquanto ele encosta sua testa na de Liu Qingge. Como é suposto que ele dia em voz alta que quer uma coisa entrando na sua bunda? 

Se ele falar no escuro, então será melhor. Ele se estica para apagar a vela, quase derrubando Luo Binghe da ponta da cama outra vez, mas se sente melhor no escuro. Não porque ele gosta do escuro, mas porque ele se sente seguro com Luo Binghe ali. 

─ Deus. ─ Liu Qingge suspira. 

─ Estou aqui, Liu gege. ─ Luo Binghe adora esse tipo de provocação, tanto que ele não se importa de continuar deitado tão na ponta. ─ Você vai se confessar pra mim? 

─ Cale a boca, por favor. ─ Depois ele se lembra dos seus modos e acrescenta, rapidamente. ─ Por favor, sua majestade. ─ Respira fundo, murmura baixinho. ─ Lembra do que você fez com o meste Shen no corredor? Faz comigo. 

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