Vinte

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Em teoria, a função de Liu Qingge era proteger Luo Binghe enquanto eles estivessem na tribo Wen. Na prática, ele se sente como um príncipe muito mimado, que é escoltado de um lado ao outro durante as reuniões de Luo Binghe, tentando fazer ouvidos surdos para toda e qualquer discussão política. 

Ainda assim, não importa o quanto ele tente manter seus ouvidos ausentes, ele não consegue resistir quando o nome da princesa Wen é citado na conversa. Essa foi a princesa que feriu Shen Qingqiu e que queria ferir Luo Binghe, como é que ele poderia fingir que não estava ouvindo aquela condição absurda de que ela deveria voltar ao palácio na montanha do inferno? 

─ Sem um casamento, imperador, é complicado manter a linha de aliados. ─ O líder da tribo bebe direto da garrafa de vinho, sujando os bigodes fartos. ─ É como se o povo Wen apenas fosse visto como um subordinado. 

─ Já estou casado com sua maldita princesa e ela tentou me matar, então considere a minha misericórdia que eu não aniquilei seu povo. ─ Luo Binghe está muito tranquilo aparentemente, mas Liu Qingge consegue perceber sua raiva no modo como ele franze as sobrancelhas. ─ Então, esse é o acordo que eu proponho como resultado final: Não mando desmembrar sua maldita princesa, caso com qualquer outra mulher que me empurrarem e devolvo aquela coisa. Nossas relações se mantém e eu não penduro sua cabeça, ancião, numa lança. O que você me diz? Pode pensar, enquanto bebe o meu vinho, sentado na terra que é minha e ocupando a posição de liderança que eu te deixei ter. 

Liu Qingge pensa que Luo Binghe pode ser um pouco violento quando não está em casa. Ele também pensa que precisa parar de chamar a montanha do inferno de "casa". A este pensamento se mistura o quanto ele acha Luo Binghe muito bonito naquela postura, com os olhos completamente escurecidos, sem uma mancha de branco, as presas pressionando os lábios e aura de poder tremulando ao redor de seu corpo. 

Na montanha do inferno, o imperador é mais preocupado com as plantas e cheio de sorrisos, parecendo um filhote de puma que se afeiçoou com um gatinho de rua e o segue por aí, brandindo suas garras de maneira descuidada. Se Liu Qingge o viu sorrir por aqui, foi apenas no quarto que eles ocupam, durante suas conversas de travesseiro e quando eles transam. 

Liu Qingge se arruma, desconfortável com a imagem de Luo Binghe embaixo dele, sorrindo enquanto o grande herói dos justos se fode em seu pau. Os olhos sempre estão brilhantes e as bochechas coradas, nunca dando a Liu Qingge vontade de parar.

Sentado na sala de reuniões, segurando um copo com chá preto, ele se sente um pouco ansioso para voltarem ao quarto e tenta limpar os pensamentos. Afinal, ele não foi criado para envergonhar seu mestre cedendo às paixões da vida, mas ele não consegue deixar de ser uma decepção. 

Não consegue deixar de amar Luo Binghe. 

Toda nova manhã, ele pensa que Shen Qingqiu o amaldiçoou a gostar de Luo Binghe por causa do começo errado entre eles dois. 

─ Boa sorte para o imperador lidar com os justos sem a ajuda do povo Wen. Nenhum deles o seguirá se eu estiver morto. ─ O velho larga a garrafa de vinho e Liu Qingge sai de seus pensamentos para segurar sua espada, os dedos se apertando em torno do punho. ─ E eu posso garantir, eles até irão ficar ao lado dos justos. 

─ Eles não podem ficar ao lado dos justos se eu queimar essa merda até só restar cinzas e o registro do que, um dia, foi uma tribo de demônios fortes. ─ Luo Binghe ainda parece muito despreocupado enquanto faz suas ameaças. 

O líder Wen pensa que Luo Binghe é um pirralho muito ousado. Encarcerou sua filha - que agiu de maneira estúpida, mas com as melhores intenções, ainda teve a cara de trazer seu marido justo com ele, sem citar que o ameaça em sua própria casa. Esse pirralho de vinte e poucos, não é apenas idiota? 

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