Haitang

Vinte e Um

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O vento derrubou dezenas de flores de árvore haitang em sua terceira floração, salpicando o chão com pétalas rosadas que ficam sobre a grama até secar. Liu Qingge se senta sob a sombra do haitang e seus olhos estão na direção do harém, no pátio onde Luo Binghe está brincando com Shen Qingqiu, os dois usando roupas de verão enquanto saltam de uma pilha de folhas para a outra. 

Quando ele era criança, Liu Qingge nunca teve tempo de apreciar o arrastar lento das estações e nem de apreciar as tardes frescas de primavera. Afinal, para o seu mestre, o desejo é algo maligno e não acrescenta qualquer boa coisa na sua vida ter um dia ocioso. Nos últimos três anos, Liu Qingge teve uma porção de dias ociosos em que ele se senta sob essa árvore e aprecia a vista da montanha do inferno. 

Há muitas árvores novas e coloridas que Luo Binghe mandou transplantar para o jardim e que Liu Qingge assumiu a tarefa de cuidar, como se essas árvores fossem príncipes e princesas. Em alguns momentos como esse, Liu Qingge aprecia a felicidade de uma vida pacífica e teme que o herói que foi criado para ser, esteja sumindo a cada sorriso de seu marido. Ele fecha os olhos, apreciando a brisa que joga pólen no seu nariz, provocando uma coceirinha. 

Ao fundo, ele consegue ouvir as damas do harém rindo dentro da água do lago, aproveitando a tarde como se fossem irmãs. No entanto, Liu Qingge sabe bem do caso de amor entre duas delas e, apesar de sentir um pouco de ciúmes, ele está feliz que Luo Binghe terá um filho em breve. Um imperador precisa passar sua linhagem adiante. 

É uma vida melhor do que ele imaginou que seria. Tão boa que Liu Qingge se ressente das 77 seitas justas por terem lhe dado apenas dez anos para ficar ali. 

─ Irmão Liu, o que você está pensando? ─ Shen Qingqiu que estava no pátio, já subiu o pequeno morro e está parado na frente dele, o rosto vermelho do sol como uma criança que correu muito. ─ Parece muito triste para uma tarde tão boa de primavera. 

─ Shizun. ─ Luo Binghe vem atrás dele, está sorrindo, arrastando as sílabas ao chamar por Shen Qingqiu, usando seu tom mais dengoso. ─ Liu gege, carinho. ─ Ele se joga entre os dois, deitando a cabeça no ombro de Liu Qingge, sem esperar, ele mesmo segura a mão de Liu Qingge e coloca na sua cabeça. 

Shen Qingqiu sorri, ele sempre soube que Luo Binghe perde sua dignidade muito rápido quando está perto de alguém que gosta, mas ele ainda acha muito adorável como Liu Qingge reage, ficando frio como uma pedra e fazendo um rosto sério, mesmo que esteja todo corado. Até suas orelhas ficam vermelhas enquanto Luo Binghe finge ronronar, esfregando sua cabeça na mão de Liu Qingge. 

─ Não seja assim, alguém pode ver. ─ Liu Qingge se sente ainda mais chateado com as seitas justas por terem lhe dado um tempo tão limitado. 

─ Quem vai se atrever a questionar meu marido? ─ Shen Qingqiu segura uma das mãos de Luo Binghe, suspirando com a brisa. ─ Ele é o imperador, ninguém pode derrubá-lo.

Liu Qingge acha que a fé de Shen Qingqiu em Luo Binghe é muito bonita e que o sol iluminando os olhos dele até ficarem com a cor do mel, é realmente adorável. Ele proíbe sua mente de ir além, apenas se concentrando em fazer um cafuné em seu marido e em odiar as seitas por colocá-lo aqui. 

Se ele nunca tivesse vindo, não estaria apaixonado por Luo Binghe, nunca teria feito um amigo e nunca estaria desejando ficar ali para sempre. 

Ele também nunca seria uma decepção para seu falecido mestre se não tivesse vindo como um espião. 

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─ Irmão Liu, está tão chato aqui. ─ Shen Qingqiu se estica perto de Liu Qingge, colocando seus pés sobre as coxas dele. ─ Odeio que Luo Binghe foi resolver as coisas fora da cidade.