nowhere to run

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POV MAIA

Semanas já haviam se passado desde que tudo aconteceu. Eu já estava novamente em casa, não fazia a menor ideia do paradeiro do meu primo, meus pais estão melhores que nunca e Mattheo... bem, isso ainda continua igual.

Os ataques dos comensais tinham se tornado mais frequentes no mundo bruxo. Tudo estava mais perigoso e hostil. As pessoas não eram mais confiáveis.

Esse ano, como todos os outros, recebi a carta de Hogwarts e decidi voltar. Naturalmente, teve todo o contestamento do meu pai, mas ele cedeu em certo momento quando notou que eu não iria desistir. Ele sabia que eu não iria e sei que ficou orgulhoso disso. Ele sempre fica.

***

— Você tem certeza disso, filha? — meu pai pergunta uma última vez.

— Absoluta, Papai — respondo sem hesitar.

Vejo um pequeno sorriso se formar no canto de sua boca ao ouvir minha resposta.

— É... ela é exatamente igual a mãe, Sirius — Remus diz ao fundo.

— Sim, ela é. — meu pai diz, admirado. — Agora vamos, já está na hora.

Nós três aparatamos juntos para a estação, em frente a plataforma 9¾. Onde nos despedimos.
Diferente de todos os anos, atravassei sozinha e meus pais não passaram pelo portal que leva ao expresso hogwarts.
Talvez tenha sido um sinal de que esse é só o começo de tudo. Porque eu sei que a partir do momento em que eu pisar naquele trem, não estou embarcando somente para o meu último ano em Hogwarts. Estou caminhando direto para uma guerra. Estou traçando meu caminho para a morte. Estou ciente das coisas que terei que enfrentar sozinha.

Olho para os lados à procura de rostos conhecidos. Estou sozinha na estação, pela primeira vez, mais uma vez.
De longe, consigo ver alguns rostos que não me dou tão bem, vejo também muitos grupos de alunos conversando baixo. Pouca movimentação e as pessoas já se encontram mais fechadas. Era de se esperar.

— Maia! Estamos aqui! — ouço uma voz conhecida me chamar de um lugar não tão distante de onde estou.
Olho para os lados em busca da dona da voz, até que a encontro. Era Pansy, minha melhor amiga, acompanhada de Blaise.

— Oi! Como estão? — pergunto a dupla assim que me aproximo o suficiente.

Ficamos ali conversando por um tempo, até precisarmos embarcar. No trem, passamos por diversos vagões com conhecidos, que cumprimentamos cordialmente, até acharmos um lugar vazio para sentarmos.

Quando finalmente, nos acomodamos e temos certeza de que estamos mais seguros e menos expostos, decido contar tudo o que houve nos últimos à eles. Não pude arriscar mandar carta, não era seguro. E não os contatei de nenhuma outra maneira. Só agora.

Mantive distância de qualquer pessoa durante todo o tempo após o ataque, me recusei a entrar em contato por meios mágicos a não ser pessoalmente. Não compartilhei minha localização e não tive como informa-los como estava indo. Mas após chegar aqui, notei que não só eu tomei essas medidas seguras, como metade dos estudantes presentes nessa embarcação.

Pansy, eu e Blaise conversamos por bastante tempo até que decido me levantar para ir ao banheiro.

Deixo meus dois amigos sentados enquanto me retiro da nossa cabine. Me direciono ao cubículo onde se tem uma pia, uma privada e um espelho, então fico parada encarando meu reflexo por um tempo. Já não me reconheço mais. Meu rosto já não é tão perfeito, tenho uma cicatriz de tamanho médio um pouco abaixo do olho esquerdo e um corte ainda não curado no meu lábio inferior, também descendo pelo lado esquerdo. Minha pele também aparenta estar um pouco mais pálida e meu cabelo não brilha tanto quanto antes.

Isso tudo é consequência de uma guerra que só está começando. Isso ainda não é nada. Mas eu ainda não sabia disso.

Após alguns segundos, retomo a consciência e abro a pia, pegando um punhado de água fria com as mãos em concha e lavando meu rosto em seguida.

Quando saio, ao invés de voltar para o lugar de onde vim, resolvo caminhar pelo trem, em busca de rostos familiares que não encontrei na chegada.

Certo momento, vejo um rosto triste e conhecido, e com ela haviam também: Neville Logbottom, também grifinorio e Luna Lovegood, corvina. Os três estão imersos em uma conversa que aparentava ser importante e não me viram. Achei coerente não os atrapalhar no momento, então faço uma nota mental para cumprimenta-los depois.

Mais algumas cabines a frente, vejo um grupo de sonserinos da minha classe, rostos conhecidos, obviamente, todos amigáveis. Pietro, Theodore, Logan e... Ah, droga. E Mattheo.

Congelo ali ao ver aquela figura masculina. Seu rosto agora tem mais cicatrizes que da última vez que nos vimos, mas era de se esperar. Todos nós agora temos.
Não sei quanto tempo fico parada ali. Tenho quase certeza que não muito. Mas foi o suficiente para que os olhos dele encontrassem os meus e parassem ali.
Aquele maldito olhar ainda tinha efeito sobre mim.

Algums poucos segundos se passam até ele desviar o olhar e eu voltar a me recompor. Não penso muito quando saio dali. Em poucos passos, estou de volta ao meu lugar, junto aos meus amigos.
Blaise está cochilando com a cabeça no colo de Pansy, e a garota observa a vista de fora do trem, imersa em pensamentos.

Volto a me sentar sem falar nada e faço o mesmo que Pansy, mergulho em minha mente enquanto olho para o que está fora do meu alcance.

Horas depois, tendo o resto da viagem em silêncio total, chegamos à Hogwarts. Desembarcamos com nossas coisas e, ao pisar para fora do trem, um sentimento toma conta de mim. Não a nostalgia de estar me preparando para o último ano escolar, mas a melancolia de saber que em alguns meses esse lugar não será mais o mesmo. Eu não fazia a menor ideia do que ainda estava por vir.

Essa não é a Hogwarts que conhecemos, e não será mais. Hogwarts é nossa casa. Ao menos por mais uma pequena fração de tempo. Porque aqui, e agora, é onde tudo muda. Estamos no mesmo lugar em um tempo diferente, esse ano, tudo vai ser diferente. Todos sentimos isso, e ninguém precisou falar, nossos olhares se encontraram ao mesmo tempo, nossos corações batem como um só aqui.
Ao vir para cá, nós estavamos aceitando morte, mas ainda não sabíamos disso, ah, não, havia muita coisa que ainda não sabiamos. Mas estamos aqui agora, e esse é o começo de tudo. O começo de todo o fim.

OBS.: capítulo sem revisão. Perdoem qualquer erro de escrita :)

Tell me a history - Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora