Camila Cabello | Point of View
No percurso até a casa de Robbie me encantou, cada detalhe, cada pessoa e cada movimento me deixava perplexa, não me lembrava mesmo como eram as coisas, não sabia o quanto sentia falta de tudo.
— Um cachorro. – Eu toquei o vidro quando vi um rapaz passeando com um cachorrinho, o rapaz não tirava os olhos do celular e o cachorrinho parecia elétrico.
— Você está bem? – Alisha perguntou virando para me encarar.
— Estou.
— Você está chorando. – Ela disse e eu toquei meu rosto, realmente estava chorando.
— Nem percebi... acho que estou feliz. Estou sentindo muitas coisas no momento, só preciso me adaptar com isso tudo. Estou morrendo de medo, sei que as coisas vão ser muito complicadas, não quero parecer ingrata, mas me sentia mais segura no presídio.
— Nós pesquisamos muito sobre isso, Mila. Ali e eu estamos indo ao psicólogo para ajudar você nesta reabilitação e seria muito bom você ir conversar com ele.
— Eu tenho que ir a um.
— Sabemos, mas queremos habituar você a fazer escolhas, Mila. – Assenti.
— Eu quero trabalhar.
— Meu pai consegue algo...
— Não me leve a mal, Ro, mas eu quero procurar algo, pode ser a coisa mais simples do mundo, só quero ter algo.
— Tudo bem, mas se não conseguir, meu pai arruma algo rápido para você, ele precisa de pessoas para levar e trazer documentos das empresas parceiras.
— Muito obrigado, vocês já fazem muito por mim.
— Você merece, Mila. – Sou a pessoa mais sortuda do mundo, eles nunca me perguntaram o que aconteceu, só falaram que confiavam mesmo que eu nunca tenha negado ter feito algo e mesmo assim eles me tratam deste jeito.
— Chegamos.
A casa era verde, tinha um gramado aparado e flores perto da certa.
— Eu não moro aqui, mas o jardim é trabalho meu. Passo muito tempo aqui.
— Ela mora aqui sim, Mila. Só não admite isso.
— Eu não moro com você, se prepare, Mila. O festival de mulheres por essa casa é enorme. Quase um evento.
— Ela fala como se eu não deixasse ela trazer esses machos escrotos que ela arruma para cá.
— Isso é uma casa? – Falei brincando e ela me abraçou.
— Sim. Não se preocupe que vamos maneirar até você se acostumar.
— Aqui é a sala, a cozinha, na geladeira tem de tudo é só se servir, pode cozinhar o que quiser e caso falte algo, tem um mercado aqui perto, depois te ensino a chegar lá. Aqui tem um banheiro, mas no segundo andar ficam nossos quartos e os dois tem suíte.
— Essa casa é sua?
— Meu pai me deu, comecei a trabalhar ano passado na empresa e ele já ficou todo empolgado.
— É uma bela casa, obrigado por me deixar ficar aqui.
— A casa é sua também agora.
— E tem o meu apartamento, Mila. Só decidimos por esta casa porque ela é mais acolhedora, meu prédio tem muitas regras e o doutor disse que o jardim, o gramado e o quarto grande vão fazer toda a diferença.
— Vocês são incríveis, nem sei o que pensar...
— Não precisa pensar em nada.
— Aqui é a garagem e eu tenho uma surpresa para você. Bom... vai poder usar meu carro quando quiser, mas você deixou uma coisa na minha casa na sua última visita.
Entramos na garagem e minha antiga bicicleta estava ali, estava muito diferente, mas era ela.
— Que incrível. – Falei subindo nela. — Você que deixou ela assim?
— Foi. Todo o mês ele comprava algo novo para ela, desmontou toda, lixou, deixou da cor que você realmente gostava.
— Isso é tão... – Comecei a chorar, era muita atenção, muito cuidado dos dois, eles nem faziam parte da minha família e viveram por mim.
— Não precisa chorar. – Eles me abraçaram. — É uma surpresa boa.
— Estou muito feliz.
— Vem, vamos ver seu quarto e depois vamos te apresentar uma coisa.
— O que?
— Netflix. Vamos maratonar todas as séries que gostamos e vamos tentar não te dar spoilers. – Alisha falou e eu fiquei muito confusa.
— Ainda estamos falando o mesmo idioma?
— Vai entender tudo depois.
O quarto era incrível, deitei na cama fofa e eles deitaram ao meu lado, ficamos em silêncio por um tempo.
— Acho que vou para o banho.
— Te esperamos lá na sala.
Eles saíram do quarto e tirei os tênis, tranquei a porta e tirei minhas roupas. O espelho ali era enorme e só então consegui perceber o quanto eu mudei. As várias tatuagens, as cicatrizes e o pior é não lembrar como elas foram parar ali. São tantos anos, tantas surras, tantas feridas e algumas vão ficar para sempre. Lembro do dia que uma agente do reformatório me trancou na sala de limpeza e fiquei lá perdendo a última coisa pura que restava em mim... a inocência. Bom... eu estava presa, mas eu tinha só quatorze anos, não sabia nada sobre a vida e aprendi da pior maneira possível. Eu era boa quando entrei ali.
Depois ela espalhou e eu era abusada todo santo dia por uma agente diferente. Elas me ameaçam e me machucavam, era horrível e eu me sentia tão culpada.
Fui até o banheiro e liguei o chuveiro, a água quente escorreu por minhas costas e soltei um gemido de satisfação, era diferente, era revigorante. O sabonete tinha cheiro de erva doce e sentia meus músculos destencionando um a um.
Após um bom tempo ali, voltei ao quarto e escolhi uma roupa nas várias sacolas no chão. Desci as escadas e eles estavam na cozinha.
— Ela não deve gostar de salada.
— Ela precisa se alimentar direito, ela comeu frituras no shopping, não vai reclamar de comer uma salada de
acompanhamento.— Espero que ela goste do filé, coloquei ervas e azeite de oliva. – Ele deu algo na boca dela.
— Está divino.
— Vocês parecem casados. – Eles me encaram.
— Nem em um milhão de anos.
— Nem em dois. – Alisha retrucou e eu sorri.
— Está pronto o jantar, colocamos uns clipes para atualizar você das músicas do momento.
— E os bagulhos lá que você falou?
— Depois do jantar. Robbie tem fobia de comer assistindo TV. Ele é louco. – Ela sussurrou a última parte e eu sorri.
O jantar foi tranquilo, não era difícil me acostumar com aquilo, tinha muito amor ali.
NÃO ESQUEÇAM!
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Veneno
FanfictionFui presa aos 14 anos e aprendi a me virar como pude enquanto passava pelo inferno. Agora com 27 anos e com minha liberdade muito próxima, vou contar com a ajuda dos meus leais amigos para me reintegrar à sociedade. Querem saber meu crime? Se eu sou...