ARABELLA

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Mais um dia. Ou, menos um.
Não há bom dia, a algum tempo os dias não são bons, mas não tem sido tão miseráveis quanto na semana passada.  Algo novo, mas não glorioso.

O sol brilha fora do refeitório mas não há resquícios do seu calor para que eu me aqueça. Ou a sua luz para me iluminar, há apenas a sua sombra e os ventos frios da manhã recém chegada.
O café em minhas mãos não são o suficiente para mantê-las aquecidas, tal como toda roupa em meu corpo.

Talvez eu já esteja fria por dentro, e não haja alternativas de calor, vida ou qualquer semelhante para me trazer o seu conforto.

— Bella — Como o cantar dos pássaros no final de uma tarde, sua voz era melódica e suave.

A garota sentou-se ou meu lado, trazendo consigo o frescor das flores e suavidade cítrica.

— Talvez — Ela arqueou suas sobrancelhas endireitando o corpo na cadeira — Quem sabe, só pra você pensar na resposta — Dando ênfase na primeira palavra seus olhos quase fechavam em súplica — Talvez, pudéssemos sair hoje à noite — Senti preguiça no mesmo momento — Não precisa ser pra encher a cara, sabe. Pode ser um jantar, ou até mesmo respirar em um lugar novo.

Suspirei pensando na melhor resposta, mais pra mim do que pra ela.

— Você não precisa me responder agora — Suas palavras saíram tão rápidos que ela provavelmente leu o meu pensamento de recusa.

Os cachorros começaram a se agitar, como se assim como eu quisessem voltar pra casa. E eu sabia que sim.

— Oli, preciso ir — Disse me levantando, puxando as coleiras para mais perto — Está na hora dos remédios da Judy — Menti.

Vi o sorriso de Olívia tornar-se uma linha fina e me senti mal por isso, mas me sentiria pior se recusasse ou saísse hoje a noite.

O shopping começava a encher como um enxame de abelhas, causando-me calafrios. Todos queriam parar pra fazer carinho nos cachorros, esperando que eu também parasse, sorrisse e conversasse sobre o quanto eles eram simpáticos.

Totalmente incapaz de socializar, apressei o passo pela multidão que vinha no sentido contrário. Uma oração a cada passo dado, a cada ser humano que achasse os cachorros a pura fofura.

Minhas mãos suavam a cada sorriso em minha direção, e tentava ser o mais breve possível no rápido sorriso só para não parecer uma mal educada. 

Não que eu seja a mais simpática das pessoas, ou a melhor na educação, me esforço todos os dias para ao menos ser legal.

Por fim, finalmente e depois de uma longa caminhada, um quarteirão ainda era como mil quilômetros para a velha Judy e suas pequenas patas.

— Arabella — A voz familiar e abafada soou logo atrás, fazendo-me virar o rosto imediatamente.

Mamãe, a mulher que um dia foi o meu lar. Caminhava na minha direção, seu corpo pequeno movia-se rapidamente entre as pessoas que atravessavam a faixa de pedestre.

Apressei o passo, na tentativa de ser mais rápida e chegar até a casa dos Jones antes que ela pudesse me alcançar.

— Arabella, por favor pare — Ouvi sua voz mais próxima que da última vez.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora