JOSEPH

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Se eu pudesse tê-la conhecido antes eu a ajudaria de todo o coração

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Se eu pudesse tê-la conhecido antes eu a ajudaria de todo o coração. Não tenho tantos amigos, mas sei que tenho alguns com quem posso contar, mas ainda sim me impressiona que essa garota não tenha ninguém para se refugiar, não tenha alguém com quem possa contar.

Não há menção de qualquer amigo, e isso me faz pensar que talvez a solidão seja sua única companhia literalmente. É como se todo esse tempo ela tivesse vivido somente em sua bolha e foi expulsa dela da pior forma que poderia acontecer.

Não culpo sua mãe por não saber dos abusos, mas a culpo por não escutar a filha. Uma mãe não deveria escolher um homem ao invés do filho dessa forma, tendo em vista que ela o pegou em flagrante, com todas as cartas na mesa essa mulher poderia arruina-lo, mas ainda sim, preferiu culpar a única vítima. Isso me deixa aterrorizado, completamente irritado.

E de certa forma me sinto inválido por não poder fazer nada além de ler. Eu gostaria de saber ao menos seu nome, torço para em alguma dessas páginas enfim encontrá-lo , pra pelo menos lhe chamar de algo além de "garota".

Meus dias tem se resumido em viagens, entrevistas e leitura, não de livros ou qualquer outra coisa. Apenas o diário dela, ela tem me prendido em suas letras, seus sentimentos e dores. E eu tenho estado ali, sentindo tudo, toda raiva, dor e angústia que transparecem a cada página do pequeno caderno turquesa.

Em algumas páginas há respingos, em outras o aroma de um doce perfume, como se ela tivesse se perfumado com o pequeno caderno por perto. Em algumas há rabiscos além dos relatos.
Até mesmo um pequeno fio de cabelo perdido entre uma página e outra eu pude encontrar.

Em todas essas leituras, eu penso em como deve ser realmente o seu rosto, penso no quanto ela chorou ao escrever cada palavra. Eu não consegui ver seu rosto naquele dia, na verdade eu mal entendi oque aconteceu, nem como nós nos esbarramos daquela forma. Eu mal pude reagir antes que ela se perdesse entre a multidão.

Talvez aquilo tivesse que acontecer, mas ainda não entendo o porquê, eu só penso em ler sem parar. De certa forma tem me prejudicado, não intencionalmente. Mas não consigo pensar em outra coisa além disso, esse diário.
Cogitei em parar, apenas afastá-lo ou encontrar alguma forma de devolvê-lo, mas não teria como, eu não sei muito sobre ela para conseguir isso.
E não o confiaria a qualquer pessoa, considerando que isso é a vida de alguém. O problemas e dores de alguém.

Seria muita insensibilidade minha jogá-lo numa lixeira qualquer, não tenho coragem alguma pra isso. Minha única solução é continuar a ler na chance ao menos encontrar seu nome para lhe devolver. Endereço até agora eu sei que não há, ela foi expulsa de casa. A "cafeteria do charles" provavelmente não é o real nome do lugar, já procurei em todos os endereços daquela cidade e não encontrei nenhuma com esse nome ou dono.

E eu tenho tentado de todas as formas viver normalmente sem que isso me afete, e tenho falhado. Eu não consigo parar de pensar nesse diário, ou até mesmo nela. Mesmo que eu não saiba muito além de seus problemas, não consigo viver sem pensar ou fazer comparações. Tudo tem sido sobre isso na última semana.

Os eventos tem sido como uma eternidade agora, tudo parece passar mais devagar na medida em que ansiedade aumenta para ler um pouco mais. Me pergunto se estou absorvendo um pouco de seus problemas para mim. Talvez ela já tenha superado isso tudo, considerando que não sei ao certo quando tudo foi escrito. Não há datas, essas páginas podem ter sido escritas há algumas semanas, meses, ou até mesmo anos. Mas não diminui a dor.

E tem me sufocado não saber muito mais do que isso. Como está sua situação, se procurou por alguma ajuda profissional, se denunciou o maldito padrasto.

Eu tenho levado para o lado pessoal, tudo o que leio. Tem me partido o coração, como se tivesse acontecido com alguém próximo. Não que precisasse ser próximo para que eu pudesse ter empatia, mas é como se fosse alguém do meu círculo.

Não tenho dormido direito, sonhando com isso tudo. E eu apenas gostaria de resolver ou tentar ajudar de alguma forma. Mesmo que com algum apoio não direto. Mas eu não sei como, minha única escolha é continuar a ler. E não parar até encontrar uma forma de ajudá-la. 

— Joe, vamos?

Despertando-me de meus devaneios sigo para a próxima Comic Con devidamente cansado mas eu não faria nada diferente. O carinho do público é o que tem me sustentado, na verdade.

Não há nada como esse amor que me foi dado, tudo ainda é muito novo pra mim. Certas vezes não sei como reagir a tanto, mas isso me faz bem. Me sinto realmente amado, alguém especial.
Desde o lançamento da série, tudo foi surreal. Eu esperava que fosse fazer algo bom, mas isso é grandioso, fui recebido e acolhido como nunca antes e é surreal. Apesar de tudo, todo o cansaço vale no final do dia.

Caminho por entre a multidão, guardando com cuidado o pequeno caderno turquesa em meus bolsos. A última coisa que quero, é perde-lo.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora