ARABELLA

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Arabella

É como se as paredes estivesse se fechando, eles me dizem que com o tempo tudo vai melhorar, vai mesmo?
Em quase todo o momento eu sinto vontade de desistir, nenhum remédio é forte o suficiente para me fazer esquecer. Estou tentando encontrar um jeito para relaxar, mas eu simplesmente não consigo.
Acho que é só uma questão de tempo, eu já não estou aguentando mais.

— E o melhor, é que essa tem a melhor vista para o lago — A corretora, Cindy Weyland, se gabou enquanto explicava.

Dois passos atrás eu a analisei, coluna ereta, cabelos escuros e olhos claros, aparentemente na casa dos trinta e poucos, sem aliança.
Enterrei as mãos na jaqueta, enquanto ouvia sua explicação sobre como a sala era espaçosa, cozinha moderna e tecnológica. Uma das melhores casas do bairro, construída pela mais renomada das empresas.  Joe assentiu para ela analisando os detalhes da cozinha, com atenção, Olívia o acompanhava, abrindo os armários, suspeito que procurando por qualquer defeito.

— O que achou? — Joe perguntou, demorei alguns segundos para entender que a pergunta havida sido direcionada à mim.

Olhei em volta da cozinha enorme, uma grande ilha separava Joe de Cindy e Olívia, sete passos me distanciavam dos três. O lugar era realmente bonito, cores neutras em toda a casa, cozinha grande o suficiente para não esbarrar em ninguém, boa para correr em caso de alguma possível emergência.
Cindy me encarou, suas sobrancelhas estavam erguidas, Olívia pigarreou.

— Boa — Respondi, minha voz saiu baixa e falhada. Joe assentiu sorrindo.

Caminhei na direção da escada, subindo para o segundo andar. Haviam pelo menos cinco portas ali, abri a mais próxima, banheiro social. A segunda era um quarto pequeno, com vista para frente da casa, Cindy subiu rapidamente para explicar cada cômodo, algo como posição do sol e – ainda – a vista para o lago.

— Suíte master — Ela anunciou olhando para Joe.
Caminhando para dentro do quarto, ela abriu as persianas — A melhor vista da casa.

O grande lago se estendia ali, era como se a casa estivesse dentro dele de alguma forma. Bonito e tenebroso ao mesmo tempo, meu estômago revirou.
Me aproximei da janela, só para ter a certeza de que a aquela parte da casa não estivesse com a sua metade de alguma forma construída dentro dele. Suspirei ao ver que não.

— Banheiro do casal — Anunciou abrindo a porta ao canto.

Olívia a acompanhou para dentro do cômodo, Joe se aproximou de mim, voltei a encarar o lago.

— Boa o suficiente? — Perguntou quando parou ao meu lado. Seu perfume me atingiu, aquecendo-me.

— Parece segura — Respondi.
Seu braço esquerdo me enroscou, pela cintura. Ele depositou um beijo no topo da minha cabeça, mantendo-se ao meu lado, encarando o lago.

— É uma boa vista para dormir e acordar — Ele disse fitando a extensão da água escura, fechei as mãos nos bolsos da jaqueta, a ponta dos meus dedos estavam quase congeladas.

— Um pouco assustador.

Ele riu e me apertou um pouco mais, seu calor me aqueceu. Olívia e Cindy continuaram a conversar no banheiro por alguns minutos, enquanto estávamos ali, encarando a vista que eu teria por alguns bons anos. Descansei a cabeça seu ombro e Joe suspirou.
Demorei algumas semanas mais para conseguir me aproximar de Joe sem sentir medo da rejeição.

— Podemos ver mais algumas outras — Sua voz era calma — Tenho mais dois dias livre.

Suspirei pesadamente, estávamos visitando casas e apartamentos a quatro dias. Pensei em desistir de comprar um lugar na primeira visitação, nunca achei que fosse tão cansativo, pular de casa em casa até achar uma que agrade, sempre há algo que me faça não escolher, seja um cômodo muito aberto, ou ruas movimentadas demais. Não encontrei um ponto que me deixasse tão desconfortável nessa quanto nas outras, não ainda.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora