ARABELLA

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Eu não quero falar sobre o que está acontecendo, eu só quero fingir indiferença, que nada disso tem me afetado. Mas fingir tem sido extremamente difícil, meu corpo não me obedece, minhas emoções não me escutam. Eu sinto falta do que eu era, de como era, de como eu me sentia. Por que agora eu não sinto nada, tudo é um completo vazio.
As semanas se seguiram terrivelmente envolvidas a isso, e o pior de tudo é que mesmo que eu quisesse não ficar daquela forma, era algo impossível de controlar. Eu desci inúmeras vezes até a sala, enquanto aqueles que um dia foram as pessoas mais próximas com quem já tive contato, conversavam a poucos metros de mim. Enquanto eu me encolhia na poltrona no canto, não conseguindo falar com qualquer um deles, não era algo que eu pudesse controlar.
Todas as vezes em que tentei dizer algo mais que um obrigada, as palavras simplesmente sumiam da minha boca. Como se eu as engolisse sem nem mesmo perceber, levando com elas toda a coragem de alguns segundos. E eu me sentia patética pelo resto do dia, me isolando no quarto mais uma vez.
Como se em meio as cobertas eu não me sentisse daquela forma, por que ao menos em meus sonhos eu conseguia ser algo além de peso sob os ombros dos meus amigos. Eu ainda era Arabella.

— Trouxe o seu jantar — Olívia segurava a bandeja na porta do quarto, com um meio sorriso.

A encarei, forçando um. Dando o meu melhor, funguei e enxuguei o nariz na manga da camisa.

— Você — Parei fechando os olhos que já estavam marejados, eu não conseguia falar qualquer coisa sem desabar — Vocês... — Reformulei — Já jantaram?

Olívia me encarou, confusa por eu não ter estendido os braços para pegar a bandeja em suas mãos. Eu ainda segurava a porta ao meu lado, impedindo sua passagem.

— Não — Ela respondeu olhando o prato de comida quente em cima da superfície de madeira — Normalmente trazemos a sua primeiro.

Ela deu um meio sorriso, voltando a me olhar. Os fios dourados caiam sob o seu rosto, escapando do coque no topo da sua cabeça. Assenti olhando para suas mãos, me segurando na porta.
Olivia parecia tão cansada, e aquilo com certeza era culpa minha. Eu estava sendo uma covarde, me comportando como uma criança assustada. Sendo egotista com aqueles que se preocupavam comigo.

— Eu poderia... — Respirei fundo, mordendo um dos lados da bochecha — Jantar com vocês?

Olívia arqueou as sobrancelhas e ficou em silêncio.

— Claro — Um largo sorriso estampou seu rosto.

Assenti uma vez, meu corpo já começava a tremer. Mas eu não queria jantar sozinha de novo. Sempre perdia o apetite com facilidade, não haviam conversas para me distrair, apenas o terrível tilintar dos talheres para me fazer companhia. E acabava não conseguindo engolir qualquer coisa depois de duas colheradas, meu estômago simplesmente recusava qualquer coisa, deixando-me enjoada.

A casa estava um completo silêncio, mesmo que houvesse no mínimo quatro pessoas ali. Demorei alguns minutos respirando fundo para finalmente conseguir descer, meus olhos se arrastaram pelo que pareceu um completo caos, aquelas pessoas apressadamente pondo a mesa de jantar. É óbvio que eles não esperavam que eu fosse descer e acabar com seu conforto, já que eles aparentemente estavam jantando na sala enquanto assistiam algum filme.  Me senti mal no mesmo momento, mas eu estaria fazendo todas aquelas pessoas de idiota se os fizessem por a mesa por minha causa e simplesmente desistisse de estar ali. Mas eu só queria me sentar naquele sofá junto a eles e me prender a algo que não fosse os meus próprios pensamentos. Mas eu esperei, no último degrau da escada, parada como uma criança perdida. Eu não queria atrapalhar  qualquer coisa que fosse, eles estavam se esforçando aparentemente, e estavam cansados, eu os deixava cansados. Eles sentaram após colocar cada coisa em seu lugar, e eu ainda estava lá, parada, segurando no corrimão.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora