ARABELLA

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— Acorda! — Sacudi seus ombros mais um vez. — Vamos Olívia, você me fez acordar cedo num sábado.

Sacudi mais uma vez os ombros da loira, ouvindo ela resmungar como uma criança, mas eu não a deixaria em paz! Ela me garantiu ontem a noite que estaria de pé às oito da manhã, pois bem já passavam das nove. Mas ela continuava desmaiada na cama.

— Saia daqui — Ela empurrou meus braços.

Seus cabelos dourados cobriam o seu rosto mas eu sabia que tipo de careta ela estava fazendo naquele momento. Bufei vendo a loira me dá as costas e voltar a dormir.

— Tudo bem, eu irei sozinha!

No parque, estava tudo calmo e silencioso onde apenas os pássaros cantavam e era possível ouvir os carros da avenida mais próxima. Coloquei os fones no volume máximo assim que comecei a correr, não havia ninguém para conversar, então, era aproveitar qualquer coisa que não me fizesse querer voltar para casa. Para cama, para Joseph.
Senti meu estômago esquentar com a lembrança de hoje mais cedo, e sorri com aquilo.

Todo homem tem algo guardado, aquele algo que só é mostrado entre quatro paredes, apenas quando estão em sua intimidade, e mesmo que eu soubesse que havia isso em Joe. Era difícil de me acostumar com o que ele se tornava ao ficar... quente. A forma como aqueles olhos doces e gentis se transformavam em pura luxúria, deixando-me atônita.
Seu toque, seu cheiro e tudo aquilo.

Balancei a cabeça tentando manter as lembranças afastadas, quando me dei conta de que estava sorrindo como uma tonta para o nada, literalmente.

Apertei o passo, correndo um pouco mais rápido, sentindo o vento frio se chocar contra o meu rosto, pondo alguns fios de cabelo para trás. Eu me sentia melhor do que no dia anterior, apesar do meu estômago ainda queimar e a sensação da garganta fechando constantemente, era boa toda a adrenalina correndo pelo meu corpo.

Entrei na trilha da rota 49, saindo da faixa principal do parque, o sol entrava por entre as árvores, o chão estava úmido e o ar ainda mais frio. Fechei um pouco mais o zíper da camisa, puxando-o na altura do queixo. A música alta estava totalmente em sincronia com o pulsar do meu corpo, como se fossem uma coisa só.

Depois de algum tempo em total transe, pensando na letra da música que escutava, olhei o timer no relógio, mais um pouco e eu completaria 10km. Sorri me sentindo vitoriosa.
Vamos lá, só mais um pouco.
Tomei um ritmo mais calmo, desacelerando o passo e respirando com mais tranquilidade, fechei os olhos exalando o cheiro daquela manhã, quando senti o puxão.
Mas o que????
Caí por cima do braço, rolando para fora da trilha, sentindo a terra úmida molhar toda a minha roupa, e pequenos gravetos arranharem o meu rosto.
Abri os olhos atordoada, mas o que diabos foi isso?

Bel — Senti meu estômago embrulhar.

Olhei para trás, de onde vinha aquela voz. Aquela que me atormentou durante anos, e continuava me rondando em pesadelos.

— Finalmente — Ele deu um passo na minha direção.

Recuei, ainda sentada na terra úmida. Sem qualquer força para responder, minhas pernas de repente haviam se tornado gelatina, e meus braços eram a única coisa que faziam meu tronco ficar ereto.
Choque percorreu pela minha espinha, chegando a minha nuca, trazendo uma dor insuportável, o medo.

— Sabe o quão difícil tem sido encontrar você sozinha? — Seus passos não pararam, assim como eu não parei de recuar.

Senti meu estômago embrulhar, a tontura atingiu minha visão quando tentei levantar. O homem agarrou meu braço com força, gemi senti dor, ele me puxou fazendo com o que meu corpo caísse sob o seu. Seu cheiro atingiu minhas narinas como um soco, me deixando tonta, fraca.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora