ARABELLA

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Talvez eu precisasse de um pouco de diversão em meus dias monótonos, e isso era fácil de se alcançar ao lado de Olivia. Obstinada a me tirar do sedentarismo, a garota me levou ao que ela disse ser um passeio, mas chegando ao parque, estávamos correndo antes mesmo de eu perceber.
Eu conseguia sentir meu sangue bombear por todo o corpo durante as longas voltas, o vento frio chocando-se contra o meu rosto quente, era como passar mal e estar feliz. Faz sentido?

— Espere um pouco — Parei, recuperando o fôlego.

Olívia continuou saltitando, como se estivesse correndo parada. Duas tranças douradas dançavam em seus ombros, saindo do gorro acinzentado que usava.

— Vamos lá — Ela disse ainda animada — Você só vai se acostumar se continuar, Bella.

Estendi o indicador em sua direção, pedindo por mais um segundo. Era como se meu coração fosse sair pela boca, enquanto eu tentava regular a respiração. Levantei bufando como um touro.

— Tudo bem — Murmurei — Vamos.

Voltei a correr, passando pela loira que ficou aparentemente feliz em me ver lhe ultrapassar, seu sorriso era o suficiente para me fazer continuar aquela corrida sem reclamações. Era como se eu estivesse num mar agitado, mas de alguma forma sendo reconfortada pelo barulho das ondas.
Eu poderia correr quilômetros ao seu lado, caso necessário, apenas para me sentir assim, viva.

Depois de mais alguns minutos, paramos na cafeteria de sempre. Estava lotada naquela manhã, não era incomum, mas ainda me deixava insegura de alguma forma. Diferente do lado de fora, a cafeteria estava quente, aconchegante até, se você não tivesse corrido alguns quilômetros ao redor do lago, mas eu estava com suor secando pelo corpo, fazendo-me ficar grudenta por dentro do moletom e ansiar um banho gelado.

— Aqui está! — Olívia me entregou o copo.

Saímos dali caminhando lentamente entre as ruas, enquanto Olívia falava sobre os acontecimentos da internet nos últimos dias. Sobre a quantidade de seguidores que haviam agora em meus perfis nas redes sociais – que resolvi não entrar pelo bem da minha pouca sanidade – e até mesmo alguns milhares que ela havia ganhado.

— Isso tudo é meio louco — Ela disse após um gole — Sabe, eu vejo sempre de perto, esse fervor dos fãs nos eventos. É bonito o carinho e todas as coisas que envolvem — Ela suspirou olhando os carros antes de atravessarmos — Mas na internet — Arregalou os olhos — É tudo muito intenso.

A ênfase em sua fala me fez ficar confusa, e até mesmo receosa. Encarei Olívia, esperando que ela explicasse.

— Como assim, intenso? — Perguntei quando passamos da faixa de pedestre, desviando de algumas pessoas — Pergunto, em que sentido?

Ela bufou e encarou o caminho à frente antes dar um próximo gole em sua bebida.

— Nem tudo são flores na internet, há muita gente maldosa — Ela disse, lhe encarei como se aquilo fosse óbvio.
Eu lembro bem de como tudo é realmente fodido em rede sociais, e como as pessoas não têm qualquer compaixão ou até mesmo empatia por outros.

— Algumas pessoas confundem amor de fã com obsessão — Ela disse um pouco mais baixo — E isso meio que me assusta.

Assenti em concordância, lembro de alguns famosos que já tiveram problemas com fãs antes, e o quão perigoso isso pode se tornar com o passar do tempo.

diary • joseph quinn Onde histórias criam vida. Descubra agora