Talvez eu tenha sido muito errado em lê o possível diário de alguém, mesmo que eu não a conheça, sinto que estou violando algo. E eu realmente estou, se parar pra pensar.
Mas o que é o ser humano, se não curioso?
O pequeno caderno turquesa nunca iria me parecer um diário, na verdade, achei não pudesse existir mais anotações em livros, achei que todos tinham acabado por anotar em seus telefones.Eu estava errado, então.
Suas palavras relatam seus sentimentos, do melhor ao pior deles, a angústia sufocante e até mesmo o amor genuíno. As primeiras páginas foram difíceis de entender, pensamentos pela metade, talvez, somente para por pra fora tudo aquilo. Imagino.Sua escrita é perfeitamente desenhada como uma carta antiga. Algumas das páginas estavam pequenas manchas, talvez a garota estivesse chorando ao escrever. E não me chocaria se ela realmente estivesse fazendo-o.
"Será que eu realmente tenho culpa nisso tudo, ou eu estou maluca. Não sei se consigo processar tudo o que está acontecendo, todo esse caos que se tornou a minha vida. O automático já não funciona mais, e eu estou cansada, estou muito cansada. Não aguento mais pensar, não aguento mais dormir, não aguento mais sonhar. Eu só queria que existisse um vácuo, para que eu pudesse me esconder."
As horas de voo passaram como um piscar de olhos enquanto lia cada palavra naquele diário. Senti-me angustiado mas não o suficiente para que eu parasse de ler, errado? Sim!
Mas o que eu faria, se não tentar entendê-la?
Não que ela precisasse, eu é quem precisava, na verdade.— Ainda lendo? — Jamie perguntou. Seus olhos ainda fechados como se estivesse num sono desagradável.
— Tentando — Respondi fechando o pequeno caderno — Ela deveria estar muito atrasada pra não notar — Levantei o caderno como se ele conseguisse vê-lo.
— Notar você? — Indagou com humor.
Neguei com a cabeça rindo. Com certeza ele entendeu o que eu quis dizer.
Abri novamente o caderno não podendo evitar lê-lo, como algum tipo de droga. Totalmente ansioso por mais uma página, não que seu sofrimento fosse algo bom pra mim, porque de fato não é.
Considerando que nas últimas horas, tive picos de ansiedade. Por pensar demais em tudo que li, e pior por não conseguir parar.
Não preguei o olho durante todo o voo, nem um pouco, se quer um cochilo, lendo durante 14 horas.
Ansioso por mais páginas, me sentindo pior a cada uma delas.Alimentando minha curiosidade folheei mais uma página, não entendendo seus pensamentos odiosos.
"Maldito, maldito e maldito. Apodreça"
Certas vezes é difícil compreender e acompanhar tudo. Talvez houvessem intervalos muito grandes de tempo entre uma página e outra, ou essa simplesmente seja sua cabeça, um completo embaraço. Não julgo.
Não deve ser fácil viver num lar como o dela, numa "família" como a dela.A voz do comissário fez-me despertar da escrita, avisando-nos que chegamos ao destino, estávamos prontos para pousar. Estiquei-me no assento, sentindo minhas costas protestar e pus o cinto novamente. O pouso me deixa mais aflito que o percurso.
Jamie reclamou sobre algo que não entendi, estava prestando atenção na paisagem para não ficar nervoso. É esse o motivo de pegar sempre o assento da janela, tudo por energias positivas.
Desembarcamos, e meu corpo parece três vezes mais pesado do que o normal. Todos esses eventos tem me deixado exausto, pulando de uma viagem para outra, sem pausa. Mas é satisfatório, receber o carinho do público, sinto-me grato e muito feliz. Como não me sentia a algum tempo, confesso.
— Preciso de um café — Ouvi a voz do meu pai logo atrás — Vocês querem?
Pisquei os olhos, estavam ardendo como brasa.
Pus o pequeno diário no bolso traseiro da calça, e arrumei a mochila nas costas.— Sim, por favor — Respondeu Jamie.
— Sim — Respondi tentando manter os olhos abertos, totalmente incomodado com a claridade do dia.
Seguimos até uma pequena cafeteria, estava vazia.
[...]
Foi um longo dia, sem qualquer descanso. Entrevistas e mais entrevistas, não foi ruim, mas estou muito cansado.
Jogo-me na cama, sentindo minha cabeça girar, talvez por cansaço, não dormi ainda estou um caco! Qualquer pessoa normal iria adorar dormir neste momento, descansar por horas. Mas eu, quero apenas ler o diário.Foi a única coisa em que pensei durante todo o dia, aquele pequeno caderno turquesa no bolso da minha calça. O diário da garota desconhecida, de uma garota quebrada, que me manteve acordado por horas seguidas.
A garota que eu se quer sei o nome, tudo o que sei sobre ela são seus problemas. E algum tipo de felicidade momentânea que a deixou tão feliz a ponto de "deixar escrito para não esquecer".
Coisas consideradas simples que alegraram a garota, fazendo-a escrever três páginas completas sobre o quão feliz aquilo a havia deixado.
Penso no quão abençoado sou por ter o prazer de viver o melhor da vida. Mesmo com todo o problema que possa aparecer, ainda sim sou feliz demasiadamente. Sei que não é sobre mim, mas não deixo de pensar ou comparar, o quão pequeno são meus problemas perto de outras pessoas.
E por mais que eu tente continuar lendo, meus olhos ardem e minha cabeça continua a girar. Minha curiosidade insiste para que leia mais um pouco, mas eu não conseguirei.
Antes que enlouqueça, coloco o caderno na mesa de cabeceira e me estico na cama. Esperando que finalmente o sono me abrace e eu possa descansar.
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Peço perdão se os POV 's não estiverem bons o suficiente, é a primeira vez que escrevo depois de anos. E eu espero de verdade que gostem dessa história. Ela tá nos rascunhos desde 2017 🥲
Só agora tive coragem de publicar rs.
Logo logo publicarei mais, obrigada por terem lido até aqui 🤍
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diary • joseph quinn
FanfictionJoseph acabou esbarrando em uma pequena garota. Essa garota deixou algo cair, como estava com pressa acabou não notando. Joseph o levou para casa e começou a lê-lo por curiosidade. Ao ler a última pagina, descobriu que aquela garota estava indo se s...