02_Não pode piorar..

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Um vento delicado bagunçava meu cabelo enquanto eu caminhava.
O caminho até a escola durava dez minutos, e detalhe – eu odeio andar–.
É cansativo, e ainda mais irritante quando você está indo pra um lugar que não te desperta interesse.

Minha escola, um lugar cheio de pessoas, como quaisquer outros. Só que, lá eles parecem mais irritantes, convencidos e falsos. Pessoas que eu odeio 5% mais do que qualquer outra só pelo fato de ter que vê-los quase todos os dias.

Eu quero faltar amanhã..

O ar era roubado por meninas piriguetes que adoravam usar roupas inapropriadas. O uniforme era uma saia, mas pela forma que as alunas usavam, acabou se tornando um short, e logo em seguida uma calça.
Mas, como a calça não dá pra socar direito nos orifícios, elas usam qualquer outra roupa que não seja o uniforme.
Meninas cheias de reboco no rosto esbanjando a beleza que nunca tiveram, enfim, a minha escola.
Os moleques, bem, eles eram mais irritantes do que eu gostaria. Falavam muito sobre garotas, se achavam foda por pegar geral, e principalmente, tinham a plena certeza que conseguiriam pegar todo mundo que quisessem.
Mas, além de todos esses parasitas, tinha um que eu menos suportava, o meu maior problema, Jhonatan. Ele frequentava aquela escola, o meu pior inimigo desde os sete anos.
Mesmo sendo de outra classe por ser um ano mais velho, é ridícula a forma como ele consegue me tirar do sério.

Apesar disso tudo, eu sempre foquei em ser o mais invisível possível, e as vezes funciona. Apesar de todos saberem meu nome, pelo fato da minha mãe ser uma excelente médica, poucos me conhecem por aparência.

Passos pequenos e silêncio, era um bom resumo para aquela caminhada.
Eu não tinha pressa em chegar, ainda teria que ouvir o longo e tedioso discurso dos professores e diretor. Todo ano a mesma história pra boi dormir se repete.
Andei tão devagar que pude sentir o caminho triplicar de tamanho, e pra quem não gosta de andar, isso é péssimo. Mas, pra quem queria perder pelo menos dez minutos dos discursos, era ótimo.

Lucas caminhava ao meu lado, em silêncio enquanto observava a paisagem ao nosso redor.

Ao pisar na calçada da escola, pude sentir a energia ruim daquele lugar. Era tão tóxico que eu poderia morrer de intoxicação..
Estava tão concentrada em passar despercebida que quase não notei quando Lucas sumiu.

Entro pela porta e evito qualquer tipo de contato visual com alunos novos, oque sempre é desconfortável.
Atravessei a sala e sentei no fundo, próximo a uma janela.

A sala não estava cheia, os alunos que entraram foram formando grupos entre eles.
Os garotos falavam sobre futebol e esportes em geral. As garotas falavam sobre os garotos, quem era bonito e quem pegariam ou não.
Coisa de adolescente..

Não é como se eu quisesse ouvir a conversa alheia, mas, consegui escutar o cochicho ao meu lado. 

– ele repetiu. A página de fofoca da escola só falava sobre isso. Você não viu?

– me disseram sobre isso, eu tô tão animada!

– qual as chances dele vir parar na nossa sala?

– o importante agora é torcer muito pra que isso aconteça!

Elas gesticulavam muito enquanto conversavam, além de falarem com um tom muito animado e ficar tampando o rosto enquanto riam.
Que estranho.

– amiga, eu tô bonita?

Escutar aquela conversa só me fez pensar que a puberdade é estranha. E que talvez eu nunca conseguisse me enturmar ali, mas também não é como se isso fosse uma meta de vida.
Coloco os meus fones e uma boa música enquanto encaro aquela paisagem. Pela janela, era notável ver uma colina distante, e em cima dela uma árvore.
Fico olhando vidrada pra ela até o professor terminar o seu discurso e começar a aula.

Meu melhor amigo imaginarioOnde histórias criam vida. Descubra agora